Açoriano Oriental
Luís Godinho e a recompensa por sair da zona de conforto (Fotogaleria)

Deixou a vida estável de um trabalho como engenheiro na administração pública e decidiu seguir o sonho da fotografia. Luís Godinho nasceu em Angra do Heroísmo, em 1983. É Licenciado em Engenharia e Gestão Ambiental pela Universidade dos Açores e tem um vasto currículo como fotógrafo com destaque para a fotografia documental e fotojornalismo. Recebeu no passado dia 15 de abril o prémio de Fotógrafo Europeu do Ano na categoria reportagem/fotojornalismo.


Autor: Tatiana Ourique / AO Online

Tornou-se fotógrafo profissional em 2017 e o seu trabalho é reconhecido internacionalmente pelos editores dos principais, sites e revistas de fotografia, incluíndo National Geographic, Leica Fotografie International, Lens Culture, 1x. Luís Godinho já publicou também nos principais media portugueses, como Visão, Público, ou Volta ao mundo. Vencedor e finalista de vários concursos internacionais, tem fotografias publicadas em vários livros internacionais de fotografia.

Em 2017 ganhou o Primeiro Prémio dos Sony World Photography Awards. Foi Câmara de Prata em 2019/ 2021/ 2022 e de Bronze em 2020 no Concurso de fotografo Europeu do Ano, ambos na categoria de fotojornalismo, prémios atribuídos pela Federação Europeia de fotógrafos.

Luís Godinho exercia a profissão de engenheiro na administração pública e decidiu arriscar seguir a paixão da fotografia. Um processo que jura não ter sido fácil. ”Foi muito difícil. Foram quase dois anos de muito sofrimento e conflito interno. Sabia o que queria, mas tomar a decisão de deixar um emprego estável e seguro para viver da fotografia, não era fácil. Mas a vida foi dando sempre sinais e já não conseguia ignorar mais. Foi a melhor decisão da minha vida, pois estava aos poucos a morrer por dentro, e seguir o coração penso ser sempre a melhor opção. A partir do dia que tomei a decisão, nunca mais “trabalhei”, pois é um gosto e um prazer enorme fazer o que faço. Talvez se entenda melhor assim: pagam-me para fazer o que faria de graça”, confessou o fotógrafo que admite ter procurado algumas respostas.

“Quando decidi ir para o Senegal em 2016, fotografar a missão humanitária era na verdade também à procura dessas respostas que me faltavam. Nessa altura ainda trabalhava como engenheiro. Encontrei tudo o precisava lá e quando regressei já não queria ir trabalhar mais. No entanto, todos os valores que meus pais me passaram, o esforço e sacrifício que tiveram de fazer para me dar uma licenciatura, continuavam a pesar na minha consciência e, 6 meses depois fui para a Guiné-Bissau, com a esperança de ser o fim de um ciclo. Logo que regressei venci o Sony Awards, era uma pista demasiado óbvia, dada a importância deste concurso. Não havia volta a dar. Restava-me tratar das papeladas e seguir o coração. Quis o destino que meu avô

e meu ídolo, morresse no dia que tomei a decisão de deixar a engenharia e o mesmo dia em que recebera medalha de mérito cultural pela minha cidade de Angra pelo prémio Sony Awards. Que dia de emoções! Aliás toda a história está contada no meu livro que se chama precisamente a “Mudança”. Chegava a era do sonho, da plenitude da felicidade e eu ressurgia como pessoa”, adianta o fotógrafo terceirense.

Relativamente a registar festas como casamentos Luís Godinho encara como um trabalho de reportagem igualmente desafiante: “fotografar um casamento não deixa de ser uma reportagem, é isso que imponho neste trabalho que gosto muito de fazer”.

Os trabalhos documentais começaram a aparecer de forma natural “muito por influência das viagens, principalmente pelas minhas passagens consecutivas pela Índia, mas também por influência de algumas pessoas, nomeadamente do meu amigo Rui Caria. Mais tarde tratei das coisas para ter a minha carteira de jornalista, com a qual trabalho como freelancer. As pessoas são algo que me importa muito. Contar as suas histórias e as suas vivencias fascina-me, daí também ter trilhado mais caminho por aí, principalmente em questões dos direitos humanos. Talvez seja um dos meus propósitos de vida. Há sempre espaço para outros trabalhos. Acima de tudo quero é fotografar, seja o que for. Gostava que as pessoas pudessem entender que isto é um trabalho como outro qualquer, que devia ser mais valorizado e respeitado”.

Luís Godinho começou a organizar viagens de grupo para os destinos onde ambicionava fotografar porque considera importante que as pessoas tenham diferentes experiências. “Quando comecei com as viagens ainda no formato freelancer, queria que as pessoas pudessem ver o sentir o mesmo que eu, o quanto o mundo é fascinante e maravilhoso. A nossa cabeça é como o Google, o Google está cheio de informação e procuramos algo sempre que precisamos. Na nossa cabeça, quantas mais experiência de vida tivermos mais coisas boas iremos assimilar. Mais, a nossa mente estará mais aberta. Penso que termo experiências é mais importante do que viagem. Atualmente continuo a ser líder de viagens para a empresa portuguesa Landescape, para os destinos, Açores, Indonésia (Bali) e São Tomé e Príncipe”, conclui.

O fotógrafo confidenciou ao Açoriano Oriental os destinos que o marcaram: “A Índia, que visitei por 8 vezes, é um lugar especial, pela cultura e filosofia de vida daquele povo. África é especial e inexplicável. Em São Tomé tenho muitos amigos e 3 afilhados, por isso também está no meu coração. Moçambique, o que vivi e fotografei por lá também tem demasiado impacto em mim. O Senegal por tudo que já me deu como Homem, na fotografia e por ter sido quase o início de tudo é difícil não estar no top”, diz o fotojornalista que escolhe os destinos Senegal, Moçambique, Índia e São Tomé e Príncipe como os destinos onde conseguiu os seus melhores registos.

A foto “da menina do Senegal”, com a qual venceu o Sony Awards é a que está exibida em casa, em lugar de destaque.

Sobre reconhecimento, Godinho diz ser muito acarinhado nos Açores. “Acima de qualquer prémio o maior e melhor reconhecimento que um artista pode ter é trabalho e isso nem sempre acontece quando e como se quer. No entanto tenho sido abençoado e neste momento tenho tido bastante trabalho. Sinto-me muito acarinhado pelas pessoas daqui e tenho sido reconhecido pelos Açores. O reconhecimento fora da região, é mais evidente apenas porque ao concorrermos a prémios internacionais isso dá-nos visibilidade fora da região, como aconteceu agora, com o recebimento deste prémio. Fui finalista 5 anos consecutivos. Estive sempre nos 10 melhores da Europa. Consegui 1 distinção de bronze, 3 de prata e agora a câmara de ouro. Mostra alguma consistência e claro que me deixa muito feliz e orgulhoso, dá-nos ainda mais animo e vontade de não parar e continuar a mostrar o nosso foco, fé e pensamento sobre as coisas. É também importante estas distinções porque abrem sempre portas para novos trabalhos. No entanto sucesso para mim é apenas deixar algo positivo na vida de alguém”.

Saúde e trabalho são os únicos desejos do fotógrafo para os próximos tempos: “para depois poder ter foco para continuar a contar histórias de pessoas e do mundo. Às vezes parece que já não há nada de novo para fotografar, mas depois há sempre a nossa maneira de olhar as coisas, o que torna, por si só, a narrativa diferente”.

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