Açoriano Oriental
Provedora do Animal nos Açores propõe proibição do uso de animais de trabalho

A Provedora do Animal nos Açores, Dagmar Sampaio, defendeu a proibição do uso de cavalos e bois para funções de trabalho no arquipélago, alegando que muitos destes animais são sujeitos a práticas que infligem "sofrimento"


Autor: Lusa/AO Online

“Sejam cavalos para tração de carroças, sejam bois, para a tração de alfaias, julgo que, se não tivermos a ousadia de as proibir, o tempo estará do nosso lado e se encarregará de fazer o que ainda não foram capazes”, referiu a provedora durante uma audição na Comissão de Assuntos Parlamentares, Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Assembleia Regional, reunida em Ponta Delgada.

Dagmar Sampaio foi ouvida pelos deputados a propósito de um projeto de decreto regional proposto por Pedro Neves, parlamentar do PAN (partido das Pessoas, Animais e Natureza), que defende a “reconversão de veículos de tração animal”, como as charretes utilizadas em atividades recreativas e turísticas, a pensar no bem-estar animal, mas também na segurança rodoviária.

A proponente justifica a medida com a “crescente preocupação com as condições adversas a que os animais estão expostos durante o exercício destas atividades”, muitas vezes “sujeitos a um elevado esforço físico” e, por vezes, até “excessivo”, devido ao peso dos veículos e dos seus ocupantes, da irregularidade das estradas e até da “exposição prolongada a temperaturas elevadas”.

A Provedora do Animal nos Açores também está preocupada com as condições de bem-estar dos animais de trabalho na região, não apenas na lavoura, mas também nas festividades religiosas que, por tradição, utilizam bois para puxar carroças, como acontece, por exemplo, durante as Festas do Divino Espírito Santo.

“Não pretendemos, de forma alguma, que estas festividades, pelo seu cariz religioso, cultural e social importante para a população destes locais, acabem. Pelo contrário, deverão persistir, mas deverão ser encontradas alternativas que combatam todas as formas de sofrimento desnecessário, infligido aos animais”, sugeriu Dagmar Sampaio.

Mas Francisco Lima, deputado do Chega ao parlamento açoriano, entende que a proposta do PAN é “extremista” e disse que, se o objetivo é acabar com o sofrimento animal, então que a Assembleia Legislativa dos Açores comece por legislar, em primeiro lugar, sobre as condições de trabalho do próprio homem.

“Se a gente for a esse extremismo, acaba com os veículos de tração animal, acaba nas touradas e já agora acaba também com o desporto, porque o homem não foi feito para isso. Foi feito para descansar, para ler um livro, e não para o trabalho físico. Inclusivamente, os trabalhadores da construção civil, também é para acabar!”, ironizou o deputado do Chega.

Dagmar Sampaio entende que a comparação de Francisco Lima, entre animais e pessoas, “é perigosa”, mas acrescentou que as touradas, atividade também tradicional em algumas ilhas dos Açores, vão acabar por desaparecer, mais cedo ou mais tarde, mesmo que o parlamento não legisle nesse sentido.

“Se não houver a coragem de proibir estes animais de tração, vai ser como nas touradas, o tempo é que vai decidir o ‘términus’ destas atividades”, insistiu a provedora do animal nos Açores.

O deputado da bancada do PSD Luís Soares entende que não deve ser o parlamento regional a intrometer-se nas tradições açorianas, referindo-se não apenas às festas religiosas, mas também às touradas, atividade da qual é, assumidamente, aficionado.

“Não será preferível nós esperarmos que o tempo, realmente, se encarregue disso e não queiramos aqui acelerar procedimentos que, por motivos culturais, socioeconómicos e outros, não serão para acelerar”, advertiu o parlamentar social-democrata, em claro desacordo com a proposta do PAN.


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