Autor: Lusa/AO
A investigação, que dura há dois anos, até agora desenvolvida "in vitro", vai prosseguir este ano com a utilização de ratos, para testar a sua eficácia. Se dentro de um ano os dados se confirmarem, avança a avaliação em tecidos humanos colhidos em doentes.
Realizada por Marília Dourado e Ana Bela Ribeiro no Centro de Investigação em Meio Ambiente Genética e Oncologia (CIMAGO) da Faculdade de Medicina, utiliza moléculas similares à de dois medicamentos aplicados no tratamento de outros tipos de cancro, “inibidores da tirosina cinase” e “inibidores do proteasoma”.
“O cancro da cavidade oral tem sido o parente pobre destas doenças oncológicas”, pelo que as investigadoras pensaram investigar uma abordagem terapêutica inovadora, face ao fraco investimento na investigação farmacológica e ao não surgimento de novas moléculas para o seu tratamento.
Marília Dourado explicou à agência Lusa que o cancro oral ocupa o nono lugar entre as doenças oncológicas, com cerca de 405 mil novos casos/ano, sendo o que mais poderá afectar a imagem das pessoas, por se desenvolver em qualquer parte da boca, na língua, lábios, glândulas salivares ou garganta.
Segundo a investigadora, apesar disso, a cirurgia “tem conseguido avanços notáveis”, ao ponto de poder curar 80 a 90 por cento dos casos se a doença for diagnosticada numa fase muito precoce.
Ao longo das pesquisas, as investigadoras concluíram que uma das moléculas não produzia efeitos e que a outra apresentava resultados “muito entusiasmantes”, fosse em cancro “in situ” (que não se espalhou) ou já “metastizado” (disseminado).
Associadas no tratamento deste tipo de cancro, “criaram uma sinergia de potenciação, demonstrando ser uma alternativa terapêutica eficaz”, com diminuição dos efeitos secundários dos fármacos, uma vez que as doses necessárias eram mais baixas.
Estes fármacos poderão impedir a disseminação do cancro ou, se já tiver disseminado, travá-lo, provocando a morte celular por apoptose, e não por efeito tóxico.
“Este projecto não tem como fundamento descobrir novas moléculas, nem colocar um novo medicamento no mercado. O objectivo principal é uma nova abordagem terapêutica utilizando moléculas que já são utilizadas noutras patologias”, explicou a investigadora, acrescentando que para que possa ser aplicada em doentes há um “longo caminho a percorrer”.
Se os resultados alcançados "in vitro" se confirmarem em ratos e, depois, em tecidos de pessoas portadoras de cancro oral, há ainda necessidade de testar a eficácia da terapêutica em humanos, e isso só poderá desenvolver-se em ambiente internacional, pela dimensão da amostragem exigida.
Nessa altura tencionam apresentar os resultados às farmacêuticas que comercializam os dois medicamentos testados, e então passar-se para a sua avaliação em humanos.
O cancro oral tem como factores de risco o tabaco e o álcool, potenciados quando associados, mas nos últimos anos tem crescido o provocado pelo vírus do papiloma humano, o HPV, e particularmente o 16, da mesma família e estirpe do que está associado ao cancro do colo do útero.