Açoriano Oriental
Há cada vez mais adeptos da solidão "colorida"
Telma optou por viver sozinha há 15 anos. Atraída pela “liberdade” que esta vivência proporciona, a advogada confessa que se tornou mais “exigente”, “egoísta” e que será difícil partilhar o dia-a-dia, apesar de ainda sonhar com o “príncipe encantado”.

Autor: Lusa / AO Online
    Esta advogada de 41 anos faz parte dos mais de meio milhão de portugueses que vivem sozinhos, um número com tendência a aumentar, segundo a socióloga Rosário Mauritti, do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES) do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE).

    Cada vez há mais portugueses a viver sozinhos e sem fazerem muita questão de se casar. Este estilo de vida tornou-se num mercado promissor e até levou uma empresa que organiza eventos e viagens para pessoas descomprometidas a criar o Dia de Solteiro a 29 de Setembro.

    Na Internet multiplicam-se “sites” e “blogs” dedicados aos solteiros. As prateleiras dos supermercados enchem-se de refeições prontas a comer e a procura por apartamentos de uma e duas assoalhadas nos grandes centros urbanos não pára de crescer.

    “Há uma enorme procura de apartamentos de tipologia T0 e T1 para comprar e arrendar, mas há pouca oferta”, disse à agência Lusa o director de comunicação da imobiliária Era, Jorge Garcia.

    “Quando aparecem no mercado são logo escoados, mas são uma gota de água”, frisou, relacionando esta procura com o aumento do número de pessoas que vivem sozinhas e a mobilidade no trabalho.

    Telma vive num apartamento de duas assoalhadas em Lisboa, onde tudo está organizado à sua maneira. Sobre a possibilidade de dividir o espaço com alguém, a advogada admitiu: “Partilhar é bom, mas é difícil”.

    Mas no mundo de Telma, dominado pelo trabalho e pelos estudos, também há momentos de solidão. E aí surge a vontade de ter alguém, a “pessoa ideal”, que ainda não apareceu. “Também não há muitos homens no mercado”, ri.

    A maior parte das vezes, quando está em casa a televisão está ligada, mesmo que não tenha som, assim como a Internet. “Não são uma companhia, são uma janela para o exterior”, sublinhou.

    Rosário Mauritti disse à Lusa que em todas as casas que entrou para realizar entrevistas para o trabalho que realizou sobre "Padrões de Vida", “havia sempre uma televisão a funcionar, a Internet ligada e o telemóvel sempre a enviar ou receber SMS”.

    A socióloga incidiu o seu trabalho em pessoas que vivem sozinhas por opção, que têm um espectro muito diversificado mas com um elemento comum: terem recursos financeiros.

    No perfil dos solteiros por convicção encontram-se os jovens que mudaram de cidade para estudar e pessoas que passaram por relações amorosas, formalizadas ou não.

    Muitas das entrevistadas viveram casamentos onde se sentiam restringidas na sua liberdade e de repente reconquistaram a vida já numa idade mais tardia. Não pretendem voltar a casar.

    "Eu quero ser livre", "quero ter o meu espaço", "não tenho de dar satisfações a ninguém" ou "eu faço a gestão da minha vida como eu bem entendo" foram as frases mais ouvidas pela socióloga.

    No caso de pessoas mais idosas com recursos financeiros, existe uma orientação absoluta para o viver a vida de uma forma extremamente intensa: “imensas viagens, comer fora todos os dias, frequentar universidades da terceira idade e ter muitos amigos”.

    “Parecem viver uma juventude tardia”, comentou.

    A investigadora ressalva que ainda há mulheres que vivem sozinhas, que não conseguiram ultrapassar o complexo da solteirona e procuram na verdade o seu príncipe encantado.

    Um estudo que envolveu 13 mil pessoas, com idades entre 18 e 59 anos, de 13 países europeus, revela que 35 por cento das solteiras da Europa se sentem felizes nesta condição, um número que baixa para os nove por cento no caso dos homens.

    O segundo Estudo Europeu sobre Solteiros 2008, realizado pela agência de namoros Parship e pelo Instituto de Investigações do Mercado Innofact, revela ainda que o matrimónio deixou de ser o principal objectivo para os solteiros, com apenas 33 por cento a pensar em casar.
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