Açoriano Oriental
Histórias dos Rallyes
“Fica-me ao mesmo custo fazer o dobro dos ralis no continente”

Nos últimos dois anos, o piloto micaelense correu no Campeonato Promo, no continente, onde evoluiu muito a sua pilotagem. Este ano adquiriu um Citroën C3 N5, que gostava de trazer para os Açores em 2024


Autor: Rui Jorge Cabral

O piloto micaelense Rui Borges já disputou este ano 13 ralis, sendo 12 deles no continente e apenas um nos Açores, o Rallye de Santa Maria, onde obteve curiosamente o seu melhor resultado à geral até agora em provas do Campeonato dos Açores. E ainda lhe falta fazer três provas para fechar a época.

Nenhum piloto açoriano está a fazer tantos ralis este ano, mas apesar de toda esta atividade, explica Rui Borges, “fica-me ao mesmo custo fazer o dobro dos ralis no continente do que fazer o campeonato dos Açores”.

No entanto e para 2024, revela Rui Borges, a intenção é fazer o Campeonato dos Açores de Ralis com o seu novo Citroën C3 N5, capitalizando a experiência de dois anos em ralis no continente, apesar da decisão final ainda não estar tomada.

A opção de correr no continente para disputar o Campeonato Promo nos últimos dois anos, afirma Rui Borges, o piloto de 45 anos, natural dos Arrifes e empresário do comércio automóvel, está relacionada com razões logísticas e financeiras e de evolução da pilotagem.

Em termos logísticos, explica Rui Borges, “tendo a assistência no continente, da Domingos Sport, com quem já trabalhava aqui nos Açores, fica-me mais barato ser eu a deslocar-me para os ralis no continente, do que deslocar uma equipa de assistência aqui aos Açores para fazer os ralis do regional”.

Rui Borges não esconde, contudo, que sente alguma pressão para voltar a correr nos Açores, sobretudo agora que trocou o Mitsubishi Lancer EVO IX por um mais espetacular Citroën C3 N5, mas lembra que a opção de correr no continente nos últimos dois anos foi a de “tentar melhorar” a sua pilotagem. Um objetivo conseguido com as duas vitórias já obtidas este ano em ralis do Campeonato Promo - a última delas no recente Rali da Água, que contou também para o nacional de ralis - e o terceiro lugar ocupado atualmente no Campeonato Promo nacional. 

Para Rui Borges, a experiência de correr no continente trouxe-lhe “mais sabedoria e maior precisão na leitura da estrada”, no que tem sido ajudado pelo seu experiente navegador, o caldense Luís Ribeiro, já com muitos ralis no banco direito e ao lado de vários pilotos.

No continente, Rui Borges afirma também que tem sentido curiosidade sobre a sua participação nos ralis do Campeonato Promo, com muita gente a querer ver ‘o açoriano’, mais ainda agora com a aquisição do Citroën C3 N5, um carro que poucas vezes se viu correr em Portugal. Isto apesar de Rui Borges continuar a não conseguir arranjar apoios para promover os Açores nos territórios do continente onde tem corrido.

Refira-se que o Campeonato Promo de Ralis é um campeonato nacional, subdividido em regiões - Norte, Centro e Sul - para o qual pontuam as viaturas mais antigas: os Grupo N; os R2 com mais de cinco anos ou os carros que têm apenas homologação nacional, como é o caso dos N5 preparados em Espanha, de que é exemplo o atual carro de Rui Borges.

Rui Borges explica que o seu atual Citroën C3 N5 é um carro novo, comprado ao preparador espanhol RMC, que o concebeu. Custa sensivelmente o mesmo que um R5 da primeira geração, mas tem a vantagem de ter uma manutenção muito mais barata o que, para quem faz campeonatos, pesa muito no orçamento. O carro tem um motor 1.6 turbo com cerca de 300 cavalos, caixa sequencial com seis velocidades e, por comparação com os antigos carros de Grupo N, explica Rui Borges, tem uma grande vantagem: “uma travagem muito boa”, explica o piloto, “suspensões muito boas e uma precisão de condução completamente diferente”, lembrando que o Mitsubishi que guiou até agora, apesar do motor “muito bom”, era um carro que “não travava, ele abrandava”...

A carreira de Rui Borges nos ralis é um pouco original, uma vez que começou primeiro por se interessar pelas motos, nomeadamente as motos4 e o todo-o-terreno. E foi só em 2019, depois de vários anos como carro zero, que Rui Borges começou a disputar ralis ao cronómetro, tendo por isso uma carreira ainda curta, embora já com um título conquistado: o Troféu de Ralis de Terra dos Açores, em 2021, com um Mitsubishi Lancer EVO IX.

Rui Borges tem uma explicação para ter resistido tanto a entrar em ralis: “eu sempre disse que nunca ia ter um carro de rali”! E porquê? “Porque via e percebia que este era um desporto muito caro, em que se gasta muito e em que quatro pneus, que não é nada, são dois mil euros, para a gasolina são mais mil e só nisso já estamos em três mil euros e o carro ainda nem andou”, responde Rui Borges.

Além dos custos elevados de fazer ralis, Rui Borges tinha também o receio do ‘bichinho’ dos ralis: “conhecendo-me como me conheço, eu também sabia que, fazendo um rali, ia tomar-lhe o gosto de querer fazer mais um e mais um e mais um”... Até que, um dia, o antigo diretor-adjunto da Segurança no Grupo Desportivo Comercial, Eduardo Pastor, o desafiou para fazer de carro zero num SATA Rallye Açores, com um Toyota RAV4. “Foi o primeiro fósforo para a fogueira”, conclui Rui Borges.

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