Autor: Rafael Dutra
A reitora da Universidade dos Açores (UAc) revelou que já houve desistências de estudantes internacionais, vindos do programa de mobilidade Erasmus, que não ingressaram na universidade açoriana, nos polos de Ponta Delgada e Horta porque não conseguiram alojamento.
Susana
Mira Leal falava em audição na Comissão Especializada de Assuntos
Sociais da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores (ALRAA),
no âmbito do Projeto de Decreto Legislativo Regional n.º 9/XIII,
proposto pelo BE, intitulado “Programa de apoio aos estudantes do ensino
superior e ensino superior técnico profissional dos Açores”.
Segundo
a reitora da UAc, estas desistências ocorreram porque não existe
capacidade de alojamento, o que resulta numa “perda” para a própria
instituição de ensino superior açoriana.
“É uma perda efetiva para a
instituição, é uma perda para a internacionalização da instituição, uma
perda para a internacionalização da Região e uma perda em toda a
linha. Porque, os estudantes Erasmus são estudantes estrangeiros
provindos de variadíssimas realidades e são estudantes que trazem outras
experiências, e dão oportunidade aos nossos alunos e até aos nossos
docentes de enfrentar desafios, ganhar competências, desenvolver uma
compreensão maior que está para além daquilo que é o nosso território”,
sustentou.
Susana Mira Leal realçou que a vinda destes estudantes internacionais é também benéfica, porque acaba por incentivar os próprios alunos da Região a “ir para fora e fazer Erasmus”, algo que, na sua perspetiva é “fundamental”, para que possam “ter experiências internacionais, interculturais de aprendizagem de outras línguas, sobre outros povos e culturas”, mas também sobre outros “modos de ensinar” e “conteúdos formativos”.
E acrescenta: “É uma mais valia quando voltam à universidade e à região para trabalhar, porque transportam essas vivências para a sua prática profissional, pessoal social e cultural”.
Questionada sobre a falta de alojamento, a reitora diz que nas residências há um critério de alojar todos os estudantes bolseiros, que tem sido garantido, até à data. No entanto, os estudantes Erasmus e outros estudantes internacionais, “não nacionais” e que “não estão abrangidos por bolsas”, acabam por ficar “em última linha”.
Nesse sentido, recorda que foi criado um ecossistema de interação com os alojamentos privados para encaminhar e acolher os alunos. Porém, indica que há um conjunto de estudantes que não quer ir para as residências universitárias.
Deste modo, Susana Mira Leal destacou os projetos para cada um dos três polos relativos à construção de mais residências universitárias não só para que haja maior oferta, mas assegurando também condições de maior privacidade, tendo em consideração que a maior parte dos quartos que a UAc dispõe são duplos, e existem alunos que preferem não residir com pessoas que desconhecem.
Ainda sobre os estudantes Erasmus, a reitora da UAc diz que tem havido um crescimento da vinda destes alunos, que andam “à volta dos 140 por ano”, mas ressalva que é um valor que pretendem “aumentar”.
BE defende a universalização de apoios a alunos do Ensino Superior
António Lima falava na Comissão Especializada de Assuntos Sociais da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores (ALRAA), no âmbito do Projeto de Decreto Legislativo Regional n.º 9/XIII: “Programa de apoio aos estudantes do ensino superior e ensino superior técnico profissional dos Açores”, tendo na ocasião sido ouvida a reitora da Universidade dos Açores (UAc), bem como o presidente da Associação Académica da UAc.
Segundo o líder do BE/Açores, um grande objetivo deste diploma é “caminhar para uma universalização dos apoios ao Ensino Superior” e “caminhar para aquilo que é um desígnio da Constituição para uma progressiva gratuitidade a todos os níveis, incluindo o Ensino Superior”.
“Sabemos que esse é sempre um objetivo que terá falhas a meio do caminho, será difícil conseguir a 100%, mas é fundamental caminhar nesse sentido”, afirmou António Lima, referindo que “muitos dos apoios” sobre os quais têm conhecimento e outros que estão a ser criados “têm a chamada condição de recursos” e “não são universais”.
Para o coordenador do Bloco nos Açores, para a Região conseguir “ultrapassar os constrangimentos” ao nível das qualificações é necessário “investir mais além” e “investir mais do que o resto do país.
“Temos um atraso estrutural e, por isso, é preciso fazer mais e melhor. De outro modo, se fizermos o mesmo que os outros estão a fazer, que o resto do país está a fazer, ficaremos na cauda como já estamos”, frisou o deputado.
Ainda neste tema dos apoios, a reitora da UAc sublinhou que os apoios concedidos devem ser feitos como “complemento, em acréscimo, e não em prejuízo ou substituição”. Isto porque, prossegue, podem haver penalizações para os estudantes.
Nesse
sentido, Susana Mira Leal reforça que “é preciso ter atenção na forma
como os apoios são dados”, de modo que os alunos dos Açores não sejam
prejudicados.