Açoriano Oriental
Fábricas de laticínios vão ter as maiores centrais de energia verde da Região

A Greenvolt está a ajudar a Unileite e a Insulac no seu processo de transição energética com a construção de centrais de produção de energia para autoconsumo. São as maiores dos Açores

Fábricas de laticínios vão ter as maiores centrais de energia verde da Região

Autor: Paula Gouveia

O preço da eletricidade disparou na Região, e para os grandes consumidores de energia elétrica, como as indústrias de laticínios, esse é um custo que condiciona todo o negócio. O uso de energia renovável, como a fotovoltaica, tornou-se por isso mais atrativo.

A Greenvolt Next Portugal apresentou soluções tecnológicas que convenceram a Unileite e a Insulac a darem esse passo. E é assim que vão surgir as duas maiores centrais de produção de energia para autoconsumo dos Açores.

Como explica Pedro Ramalhosa, cofundador e partner da Greenvolt Next Portugal, “a maior central para autoconsumo das ilhas estamos nós agora a ligar” - é um projeto de cerca de 1 megawatt, para a Unileite. E, a maior será a central da Insulac, com 1,2 megawatts, que se espera que “esteja concluído e ligado por volta do final do primeiro semestre de 2024”.

Para a Insulac, o que está previsto “é um projeto que contém painéis para colocar numa cobertura, mas também tem um estacionamento coberto com painéis solares que nos vai permitir chegar a esta potência e que dá resposta às necessidades da Insulac de energia durante o dia, tendo um impacto significativo na redução de consumo de energia da rede”.

“Para se ter uma ideia do impacto desta central num ano inteiro, podemos estar a falar de uma redução de entre 20 a 25% das necessidades totais de uma fábrica, o que para um cliente que trabalha 24 horas, durante 365 dias, acaba por ser muito interessante. Estamos a falar em reduzir em um quarto as necessidades de energia da rede”, sublinha o empresário.

No caso da Insulac, o investimento na construção da central será garantido pela própria, com financiamento comunitário. Como salienta Pedro Ramalhosa, “os apoios facilitaram a implementação do projeto, e este é um dos casos em que foi acelerado pelo aumento do custo de energia que se verificou de 2022 para 2023”. A Insulac “era um dos clientes que nós já estávamos a estudar há alguns anos e que decidiu agora avançar para o investimento devido ao custo da energia”, explica.

No caso da Unileite, o contrato assinado com a Greenvolt é diferente: “é um projeto em que fizemos todo o suporte de engenharia e construção, vamos fazer toda a manutenção, e, portanto, garantimos o investimento; e durante 10 anos asseguramos um preço de energia que, aos dias de hoje, é entre 50 a 60% mais económico do que ir buscar essa energia à rede”.

Questionado sobre se é possível à indústria ser totalmente autónoma energeticamente, Pedro Ramalhosa explica que “é utópico ainda [depender apenas de energia verde], principalmente para um consumidor que consome energia durante 24 horas, porque isso significa que teríamos de produzir muito mais durante o dia e armazenar para utilizar nas horas noturnas”.

A Greenvolt que não trabalha com o mercado residencial, está concentrada nos grandes consumidores de energia da Região. “Temos vários projetos de diversas dimensões, e em ilhas como a Terceira, Faial, Pico e de São Miguel, e ainda um projeto que está numa fase muito preliminar na ilha de São Jorge”, adianta, explicando que, além dos projetos para as fábricas de laticínios e indústria agropecuária, também têm projetos na área do retalho alimentar e na indústria hoteleira. É em São Miguel que a Greenvolt tem, contudo, “uma presença mais forte: entre construção, e projetos em desenvolvimento, temos cerca de 3,4 megawatts de potência instalada, o que já é significativo para o ambiente da ilha”, diz, revelando que a empresa tem entre mãos um projeto de 4,5 megawatts para injeção na rede, na ilha de São Miguel.


Ter uma ilha a consumir 100% de energia renovável “é complexo”

O cofundador e partner da Greenvolt Next Portugal, empresa especialista em soluções de geração distribuída para autoconsumo, afirma que conseguir ter uma ilha a consumir 100% de energia renovável “ainda é complexo em termos tecnológicos”, mas “todos os stakeholders estão a trabalhar nesse sentido”.

“Envolve muita tecnologia de fabricantes de baterias, de painéis, de turbinas eólicas, hídricas. E envolve também muita coordenação entre o que é o consumo e o que é a produção”, explica.

Isto porque, o operador de rede (neste caso a EDA) tem de ultrapassar um desafio grande para o conseguir: “tem de tornar essa potência intermitente em potência firme para salvaguardar as necessidades energéticas da ilha”. Por enquanto, “o que se tem tentado fazer é permitir a penetração das energias renováveis, mas ao mesmo tempo tentar arranjar forma de torná-las “potência firme” (entre aspas porque nunca serão potência firme, isso só acontecerá se houver baterias de sistema como já existem na Terceira e na Graciosa)”. E assim, “quando existe produção a mais armazena-se, e quando existe produção a menos usa-se o que está armazenado na bateria”.

A resposta ao desafio está pois nos sistemas de acumulação, diz Pedro Ramalhosa, “seja por via de baterias, seja por via hídrica – pegar na água numa cota mais abaixo e puxá-la para cima e guardar a energia sob a forma de energia potencial e quando é necessária turbiná-la”.
“A ilha torna o desafio um bocadinho menos difícil devido à dimensão, e também ao investimento necessário”, mas ainda assim “é um desafio grande”.

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