Autor: Lusa /AO Online
Pouco depois da abertura das urnas, às 08:00, e à medida que iam apressadamente entrando na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, alguns dos eleitores questionados pela agência Lusa congratularam-se com o enorme envolvimento da comunidade brasileira em Portugal, “prova de democracia”, mas criticaram a “agressividade” entre os dois candidatos na campanha eleitoral.
Mariana Yunes, em Portugal há cinco anos e na fila desde as 07:00, sublinhou à Lusa, cerca de uma hora depois, numa altura em que os relvados da Alameda da Universidade já estavam repletos de eleitores, o empenho da população na votação, sinal de que “as pessoas estão dispostas a fazer a democracia valer”.
“[Mas a campanha] foi muito complicada porque tínhamos dois extremos, dois gigantes a competir. Foi bastante agressiva, não foi uma campanha suave, foi bastante agressiva, muito polarizada [entre os candidatos Jair Bolsonaro e Lula da Silva]. E as pessoas acabaram por escolher determinados candidatos por causa dessa polarização. A polarização foi a grande questão dessa eleição”, sustentou.
Com críticas à campanha eleitoral da segunda volta das eleições – “houve uma parte bem suja” –, Miquelina Palhares, há três anos a viver em Portugal e desde as 07:40 na fila, destacou a imensa multidão que atrás de si aguardava para poder votar, considerando que tal representa a democracia.
“Isso chama-se democracia, todo o mundo a querer o melhor para o país, independentemente de em quem vai votar. É a escolha que o pessoal fez e então vamos optar pelo melhor e crer que tudo vai dar certo. Em relação à campanha, ela foi injusta, com uma parte bem suja. Mas creio que o bem sempre vence e, com certeza, Deus é maior e vai fazer o melhor para o nosso país”, afirmou.
Rafael Morais, há três anos em meio em Portugal, trajando uma camisola vermelha com autocolantes com a cara de Lula da Silva, mostrou-se claramente contra Bolsonaro, cuja governação considerou ter aumentado a homofobia e a misoginia, mostrando-se esperançado numa mudança de Presidente.
“Acho que, agora sim, os brasileiros estavam cansados com tudo o que estava a acontecer no Brasil, com toda a homofobia, misoginismo, toda a corrupção que o Governo de Bolsonaro causou. O pobre perdeu valor, perdeu o direito de estudar, perdeu a casa e hoje vejo que muita gente se mobilizou para vir votar e votar consciente”, sustentou.
Já Diego Porto, também há cerca de três anos e meio em Lisboa, admitiu não ter votado na primeira volta, a 02 deste mês, mostrou-se mais reservado, adiantando que aproveitou para “acompanhar a mulher” à votação em Lisboa para desta vez votar, embora a campanha o tenha desiludido por causa da “desinformação”, pelo que, disse, foi através das notícias em Portugal que ficou bem mais informado.
“Acompanhei [a campanha] pela imprensa tanto portuguesa como a ‘online’ brasileira e penso que houve muita coisa que foi desinformação, dos dois lados. Houve diversas coisas que não me agradaram. Mas a imprensa portuguesa foi muito equilibrada, deu muita informação para nós podermos entender quais são as propostas de cada candidato e tomar a melhor decisão”, declarou Diego Porto.
Em Lisboa, estão inscritos 45.273 eleitores para votar na segunda volta das presidenciais brasileiras, tendo 20.266 votado na primeira volta.
Cerca das 10:00, segundo o cônsul do Brasil em Lisboa, Vladimir Waller Filho, tinham votado cerca de 5.000 eleitores, numa altura em que as 58 mesas de voto com urnas eletrónicas tinham filas com 10 a 20 pessoas e, fora do edifício da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, continuavam dezenas de milhar de pessoas a aguardar para exercer o direito de voto, quer enchendo os relvados da alameda quer em longas filas que começam próximo do Hospital de Santa Maria, no meio de um ambiente em que impera a alegria e sem incidentes.