Açoriano Oriental
“É um privilégio ter nascido numa ilha, sobretudo em São Miguel”

Teresa Canto Noronha. Jornalista e artista plástica nasceu em Ponta Delgada, e aos 18 anos foi viver para Lisboa para estudar engenharia química, mas percebeu que aquele não era o caminho. Começou o seu percurso no jornalismo na RTP e atualmente podemos vê-la nos ecrãs das estações da SIC



Autor: Susete Rodrigues

Vive em Lisboa há quase 40 anos, mas não esquece as suas raízes, a sua ilha. Teresa Canto Noronha diz ser um “privilégio ter nascido numa ilha, sobretudo em São Miguel. É uma ilha que dá tantas oportunidades de crescimento diversificado”.

Conta-nos que teve uma infância feliz, com muitos “adultos à minha volta, porque sou filha única, e em São Miguel era neta única, mas foram adultos que me estimaram muito, que me permitiam fazer parte das conversas, incutiam-me a curiosidade sobre o mundo. É uma memória muito boa, é tão boa que faz-me passar o meu tempo livre na ilha”. 

Podemos vê-la nos ecrãs das estações da SIC, mas não foi para estudar jornalismo que Teresa Canto Noronha deixou São Miguel aos 18 anos. Escolheu na altura o curso de Engenharia Química e ficou colocada no Instituto Superior Técnico de Lisboa, mas “obviamente não foi o que segui na minha vida”.

Do que sentiu mais saudades quando saiu de São Miguel foi da avó: “Vivi sempre em casa da minha avó até aos meus 13 anos, e mesmo quando já não vivíamos lá, éramos muito próximos, não só da minha avó, como do meu tio, dos amigos”. Também sentiu saudade de ir à praia em “cinco minutos e senti muito a falta do verde. Parece um cliché, mas não é”.

Conta-nos que sempre teve boas notas e quando terminou o liceu não sabia muito bem o que queria fazer, e “com a minha avó surgiu a ideia, porque não havia nenhuma senhora engenheira na família – venho de uma família bastante matriarcal e de certa forma feminista, e digo-o orgulhosamente. E então pensei: se gosto de química, matemática, vou para engenharia. Mas depois foi um choque. (...) Não era com aquilo que me identificava”. 

Como sempre gostou de ler e de escrever, um dia viu um anúncio em que procuravam jornalistas para um jornal de desportos motorizados. Na altura, também “escrevi uma carta ao senhor Victor Cunha Rego, que era diretor do jornal “Semanário” e ele chamou-me para um estágio”. Entretanto, o jornal de desportos motorizados respondeu, dizendo “que o meu texto era muito bom, mas que aquilo não era um mundo para meninas – o que me irritou um pouco, confesso – estamos a falar de 1988, em que não havia nenhuma mulher jornalista de desportos motorizados no mundo”.

Não tendo ficado agradada com a resposta desse jornal, e apesar de estar no “Semanário”, Teresa Canto Noronha contactou Manuel Ricardo Ferreira, que tinha sido diretor da RTP Açores. “A minha mãe conhecia-o, tinham sido amigos de adolescência em Angola, era uma pessoa que tinha alguma confiança e perguntei se ele conhecia o diretor daquele jornal e se poderia dizer-lhe que claramente sou uma menina, mas que era capaz de fazer aquele trabalho. Não era justo não me darem a oportunidade só por ser uma menina”.
Passada uma semana, mais ou menos, “Manuel Ferreira ligou-me a dizer que tinha um programa na RTP , o ‘Rotações’, que precisavam de jornalistas, e que eles não achavam que não podia ser para meninas”.

Começou aqui a caminhada de Teresa Canto Noronha na RTP, em 1989. A certa altura, “penso que em 2000, abriu o concurso para correspondente em Bruxelas, concorri e felizmente tive a sorte de ficar e fui viver para Bruxelas”, tendo sido “uma das cidades onde mais gostei de viver. É uma cidade com a qual me identifico muito”.

De Bruxelas, segue para Roma, e nem passou por Lisboa, explicando que, “por razões pessoais”, teve de sair da RTP, mas uns meses depois “fui contactada pelo então diretor da TSF, José Fragoso, porque o Papa João Paulo II adoeceu e eles queriam ter alguém que pudesse assegurar essa cobertura em Roma. Passado pouco tempo fui contactada pelo Martim Cabral da SIC para fazer o mesmo acompanhamento. Portanto, a certa altura, fui correspondente da TSF, SIC e da revista Visão”.

Teresa Canto Noronha é também artista plástica, tendo explorado este seu lado quando foi viver para Bruxelas: “Sempre fui muito criativa, mas nunca tinha estimulado esse lado (...) e percebi que era importante para mim fazer aquelas coisas, que era uma parte de mim à qual não estava a dar atenção, mas que era essencial para mim”.

Refere que o seu trabalho é “muito conceptual”, confessando que “não cheguei, nem estou no ponto que gostaria de estar como artista plástica, porque acho que tenho muito para crescer, mas trabalho todos os dias. Guardo umas horas do meu dia para trabalhar no atelier, para aprender, para conhecer artes, visitar galerias e museus”.

Também o lado da escrita está presente na sua vida e há uns anos “comecei a escrever umas crónicas que publiquei numa página de Facebook a que chamei ‘Notas das Ilhas’, depois houve uma editora de São Miguel que convidou-me para as transformar num livro. Também já colaborei com o projeto ‘Avenida Marginal’”.

“É um orgulho ter estas oportunidades das editoras de São Miguel para poder escrever e colaborar nestes projetos, porque para mim é importante, não só manter a minha ligação com a minha ilha, mas também que a minha ilha mantenha uma ligação comigo”.

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