Autor: LUsa/Ao On line
Segundo o médico, a depressão é subdiagnosticada e subtratada em todo o mundo, especialmente nos cuidados primários.
“Muitas vezes o doente não se queixa bem, esconde os sintomas depressivos e tem manifestações físicas. Outras vezes, a queixa principal é somática, dores, mal-estar, fadiga” e isso subestima a doença. Por outro lado, além de haver poucos médicos de família, “falta hoje tempo na Medicina para conversar com o doente.
Apesar disso, Manuel Jara considera que os doentes são devidamente tratados nos centros de saúde, uma vez que os clínicos gerais têm formação na área de saúde mental e estão sensibilizados para esta problemática.
A depressão é quase duas vezes mais frequente nas mulheres do que nos homens e perto de dois terços dos doentes têm pelo menos uma recorrência ao longo da vida.
“O risco de recorrência aumenta à medida que o número de episódios também aumenta e diminui com o aumento do tempo em que o doente se encontra recuperado”, explica o médico.
Manuel Jara lembra que “a depressão é a doença psiquiátrica mais frequente" e há estudos epidemiológicos que sugerem que a incidência da doença está a crescer.
Além disso, recorda Jara, é "a maior causa de suicídio”. “Dois terços das pessoas que se suicidam têm sentimentos depressivos ou depressões”, sustenta, adiantando que “as mulheres suicidam-se menos que os homens - apesar de terem mais depressões -, mas fazem mais tentativas”.
A vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental (SPPSM), Luísa Figueira, acrescenta que “a maior parte das depressões surge no início da idade adulta e afecta a vida pessoal e profissional”.
“É importante que a família seja informada sobre a doença e saiba que o risco de suicídio aumenta no primeiro mês de tratamento”, alerta a psiquiatra, explicando que a pessoa não tem capacidade para sair da depressão sozinha e necessita de cuidados médicos.
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelam que cerca de 121 milhões de pessoas em todo o mundo podem estar presentemente a sofrer de alguma forma de depressão.
Estudos epidemiológicos mostram prevalências pontuais (proporção de pessoas afectadas num determinado momento) de três a quatro por cento e prevalências anuais de quatro a 10 por cento.
Demonstram ainda prevalências de vida (proporção de pessoas afectadas desde o nascimento até ao momento da entrevista) entre 10 e 17 por cento. Estes dados variam consoante a população estudada ou os instrumentos utilizados na avaliação clínica.
“Em Portugal, lamentavelmente não há dados epidemiológicos nesta área, mas presumem-se valores de prevalência dentro do padrão europeu e espanhol”, refere a SPPSM.
Em Espanha, um estudo realizado na Cantábria revelou uma prevalência ponderada da depressão de 6,2 por cento, com 4,5 por em homens e 7,8 por cento em mulheres.
No âmbito do Dia Europeu da Depressão, Manuel Jara quis deixar uma mensagem: “Temos de considerar que as depressões são doenças, têm múltiplas causas, que podem ser estudadas e tratadas”.