Açoriano Oriental
Crescimento do ciclismo de pista português seguiu “processo contínuo e evolutivo”

O crescimento “contínuo e evolutivo” do ciclismo de pista português, com meia centena de medalhas internacionais e presença olímpica, vem desde a construção do Velódromo em 2009 e seguiu um processo de desenvolvimento “degrau a degrau” desde então.

Crescimento do ciclismo de pista português seguiu “processo contínuo e evolutivo”

Autor: Lusa/AO Online

Segundo explica à Lusa o selecionador nacional, Gabriel Mendes, este processo de pouco mais de uma década explica o aparecimento dos primeiros ‘talentos’, a princípio, o alargamento do leque de praticantes e a chegada das medalhas e da participação olímpica, esta última por Maria Martins em Tóquio2020, com o sétimo lugar no omnium.

Em 2009, a criação do Velódromo Nacional em Sangalhos, que por estes dias recebeu os Europeus de pista sub-23 e juniores, abriu caminho a uma nova forma de encarar a vertente, com a chegada de Gabriel Mendes, formado em ciências do desporto e fisiologia e biomecânica, para liderar o projeto.

Passou pela escola de pista e a base de atletas jovens que se foi reunindo acabou por gerar as primeiras ‘estrelas’: os irmãos gémeos Ivo Oliveira e Rui Oliveira são disso o expoente máximo.

Ivo já medalhou num Mundial de elite, além de várias vezes em Europeus, e Rui também tem uma mão cheia de pódios em campeonatos da Europa, começando em 2013 precisamente em Anadia, então em juniores.

“Foi um processo contínuo e evolutivo. Tiveram resultados na categoria de juniores. Em 2015, passam a sub-23, em 2016 começámos a conquistar medalhas. Quase todos os anos, desde 2016, temos ganho sempre medalhas. No início, eram os atletas principais, foram fazendo um percurso obtendo algumas medalhas nesse percurso de formação, e, à medida que a seleção foi evoluindo, também outros atletas foram integrando a mesma. Neste momento, temos um leque alargado de atletas que já conseguiram obter resultados”, explica o selecionador.

Esse “trabalho de identificação”, formação e “desenvolvimento técnico” com os atletas que mostraram apetência – e “paixão pela pista”, ressalva o técnico – para a vertente acabou por elevar o nível nacional, com um “impacto muito grande”.

“Foi através desse processo de seleção e identificação que fomos construindo uma seleção, e dando uma dinâmica a uma seleção. O Rui e o Ivo são jovens, e aí continuam, mas há mais atletas. Temos o Iúri Leitão, o João Matias, que têm participado mais neste processo da pista, o César Martingil teve uma fase em que também estava. Mais jovens, [temos] o Rodrigo Caixas, o Diogo Narciso, o Daniel Dias, e ainda alguns juniores que poderão fazer esse percurso. Nas femininas, a Maria Martins foi a atleta que, no fundo, tendo oportunidade, foi progredindo mais ao longo do tempo, é visível”, elencou.

A combinação entre pista e estrada, disse, favorece ambas as vertentes na performance dos ciclistas, numa estratégia similar à de outras seleções, como a Suíça, abdicando das disciplinas rápidas em favor da endurance.

“Temos de trabalhar nesta linha, porque não há outra linha. Termos recursos que nos possam apoiar, e atletas que desenvolvam competências para trabalhar em alto rendimento. Não basta ter recursos sem atletas com estrutura mental para trabalhar em alto rendimento. Isso é um aspeto muito importante”, realçou.

A integração no projeto olímpico permite à Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC) ter “mais recursos” para apoiar a preparação e, sobretudo, a participação em competições internacionais não só dos atletas de elite, como dos mais jovens, cujo desenvolvimento é suportado em sede federativa.

“Nós temos de otimizar todas as oportunidades que temos, rentabilizar ao máximo de acordo com os recursos. Costumo brincar: nós é que trabalhamos em alto rendimento, porque o investimento não é assim tanto, mas o retorno é muito maior”, atirou.

Se o sucesso dos últimos anos fica patente nos irmãos Oliveira, Iúri Leitão, ‘Tata’ Martins e mesmo nos mais novos, com Daniela Campos a somar medalhas jovens, assim como Diogo Narciso, entre outros, o trabalho deve continuar “degrau a degrau”.

“Sempre vi e vejo as coisas como etapas intermédias de um processo. Se subimos um degrau, temos de consolidar nesse degrau e a seguir preparar para subir o degrau seguinte. [...] Temos uma seleção com vários atletas em vários processos e etapas diferentes”, lembrou.

Nos Europeus jovens em Anadia, que terminaram na terça-feira, Portugal teve “atletas a participar pela primeira vez”, a “aprender a competir”, para depois aprenderem a trabalhar “para ganhar”, a caminho do “expoente máximo”, os Jogos Olímpicos.

“Temos de pensar na formação de atletas, poucos ou muitos, com base neste horizonte. […] Temos atletas que trabalhamos para obter resultados, sem isso não se discute uma qualificação olímpica. Temos atletas para isso. Na categoria feminina, a Maria Martins, e a Daniela Campos está numa fase intermédia do processo de evolução, mas correndo bem vai lá chegar e trabalhar em conjunto para este ciclo”, revelou.

As medalhas conquistadas até aqui, em cerca de 12 anos, são “um indicador da capacidade de trabalho” de uma equipa completa que trabalha, em Sangalhos, “por paixão e gosto ao ciclismo”, e “se calhar” merecia “mais recursos por parte da tutela”.


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