Autor: Lusa/AO Online
“Da análise que fizemos, deparámo-nos com uma fratura que não era toda homogénea. Havia uma parte que tinha evidências de degradação/corrosão anterior ao acidente. O cabeço apresentava uma condição técnica deficiente, com fratura anterior”, afirmou Eduardo Carichas numa audição da comissão parlamentar de inquérito ao transporte marítimo de passageiros e infraestruturas portuárias, que decorre em Ponta Delgada.
Eduardo Carichas trabalha na RINAVE, empresa do grupo Bureau Veritas Portugal que faz inspeções, auditorias, ensaios, análises e certificações no setor naval, tendo acompanhado “todo o processo construtivo dos navios” “Gilberto Mariano” e “Mestre Simão”, que operam desde 2014 no grupo central dos Açores.
A RINAVE também realizou uma inspeção ao porto de São Roque em janeiro de 2015 a pedido da empresa pública regional Transmaçor – Transportes Marítimos Açorianos.
A comissão parlamentar de inquérito foi constituída para avaliar os investimentos nos portos do Faial, Pico e São Jorge e a compra de barcos novos para o transporte de passageiros entre estas ilhas, além de averiguar responsabilidades políticas relacionadas com dois acidentes ocorridos em finais de 2014 em portos do Pico, num dos quais morreu uma pessoa.
Este acidente ocorreu em novembro do ano passado, quando um homem que estava a bordo do barco de transporte de passageiros “Gilberto Mariano”, da Transmaçor, foi atingido por um cabeço de amarração, junto ao porto de São Roque do Pico.
Dias antes, outros dois cabeços de amarração haviam rebentado no porto da Madalena, igualmente na ilha do Pico, quando um barco da Transmaçor tentava atracar.
Alegando que a RINAVE foi a primeira entidade a analisar o cabeço envolvido no acidente mortal, dois meses após o acidente, Eduardo Carichas defendeu que deveria ter havido “uma preocupação maior das autoridades” que retiraram os elementos de prova do porto de São Roque, acrescentando que “a própria base do cabeço devia ter sido removida para análise”.
O engenheiro naval referiu ainda que também no caso do porto da Madalena e da Horta os cabeços “não estavam totalmente montados de forma adequada” e disse desconhecer se houve erros nos processos construtivos destes mesmos portos.
Aos deputados, Eduardo Carichas reconheceu a inexistência de uma entidade que faça a fiscalização dos cabeços nos portos (tal com outras pessoas ouvidas nesta comissão) e sublinhou que no caso dos navios, por exemplo, é efetuada uma inspeção anual por uma entidade nacional certificada.
Quanto aos cabos de amarração do navio “Gilberto Mariano”, o especialista adiantou que foram selecionados “de acordo com um requisito internacional uniformizado”.
Após análise a dois cabos, à guarda da Polícia Marítima da Horta, “os factos demonstram que não foram os cabos que causaram o acidente mortal”, porque o navio “não teve nenhum problema do ponto de vista estrutural”, acrescentou, destacando que “dizer que o subdimensionamento dos cabos é o culpado pela fratura do cabeço não é correto”.
“O sistema de amarração dos navios é essencial para a segurança dos mesmos. O cabo não pode ser tao fraco que uma situação de pequena aragem o possa partir. Tem de haver homogeneidade em todos os elementos”, afirmou Eduarco Carichas.
O engenheiro alegou que o sistema de amarração dos navios tem de ser diferente quando se trata de algo temporário ou permanente.