Açoriano Oriental
Arquipélago de escritores conversa com Prémio LeYa 2021

José Carlos Barros nasceu em Boticas, no ano de 1963. É licenciado em Arquitetura Paisagista pela Universidade de Évora. Vive e trabalha no Algarve, em Vila Nova de Cacela. Foi diretor do Parque Natural da Ria Formosa e da Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António. É autor de vários livros de poesia e de três romances. Foi distinguido com o Prémio LeYa 2021 com o seu mais recente livro “As Pessoas Invisíveis”. No próximo domingo, dia 9 de outubro, o autor vai estar em São Miguel, no âmbito da 5ª edição do evento literário Arquipélago de Escritores. Às 16h30, o Hotel Marina Atlântico vai ser o local de encontro para uma conversa com Vamberto Freitas e José Carlos Frias.

Arquipélago de escritores conversa com Prémio LeYa 2021

Autor: Eduarda Mendes

Eduarda Mendes - A poesia e a prosa têm sido dois caminhos do seu trabalho literário? São percursos divergentes ou acabam por se complementar?

José Carlos Barros - Comecei a publicar cedo, essencialmente na imprensa regional. Nessa altura escrevia mais contos do que poemas. Não sei o que, na prosa e na poesia, diverge ou se complementa. Mas são duas respirações diferentes: a da poesia está próxima do relâmpago, da inquietude, da interrogação, da falta de ar; a a da prosa é uma onda mais larga, mais reflexiva, mais ligada ao olhar do que à pele.

EM - A sinopse do seu livro “As Pessoas Invisíveis” refere que a obra é uma “revisitação de um dos eventos mais trágicos e menos conhecidos da nossa História colonial”. Foi este o motivo que o levou escrever este livro? O facto de ainda existirem pormenores que não são do conhecimento público?

JCB - Eu estava em São Tomé e Príncipe, na Bienal de São Tomé, quando vi uns painéis sobre o massacre de Batepá, em que terão morrido mais de mil nativos santomenses que se recusavam à sujeição ao trabalho servil. Isto em 1953. E a descoberta inquietou-me, não apenas pela dimensão, mas sobretudo por nunca ter ouvido falar desses acontecimentos: como é possível que desconheçamos factos tão relevantes da nossa história recente? Depois comecei a ler sobre o assunto, e voltei a sobressaltar-me com a ideia de que o fim legal da escravatura precedeu, em muitas dezenas de anos, a sua efectiva abolição. Sim, esse foi o gatilho para a escrita do romance. Um romance que acaba por ser um olhar (de entre outros olhares possíveis, claro) sobre o Portugal do Estado Novo.

EM -  Esta obra ganhou o Prémio LeYa, em 2021. Que importância tem este reconhecimento?

JCB - É grande a visibilidade que o Prémio LeYa dá ao livro galardoado. E essa visibilidade permitiu-me ter leitores. Leitores que vou descobrindo em notas de leitura que me fazem chegar, em sessões de apresentação do livro, em Clubes de Leitura. E descubro que o livro vai sendo outro de cada vez que os leitores o transformam com a sua própria experiência. De cada vez que lhe acrescentam uma luz nova, um novo entendimento. E isso, ter leitores, é uma dádiva, e foi o que mais o Prémio me trouxe.

EM - Tinha como objetivo vir falar dos seus livros aos Açores, ou foi um desafio deste Arquipélago?

JCB - Foi um convite da organização do Arquipélago de Escritores. Um convite que me honra, uma oportunidade que tanto prezo de poder levar aos Açores «As Pessoas Invisíveis», de falar sobre o livro, de encontrar leitores.

EM - Como é que vê o panorama literário nacional, neste momento?

JCB - Não acompanho muito. Mas vou-me deparando com preciosidades: a poesia de Marco Mackaaij, «A Origem do Ódio» ou o «Hotel do Norte» de Rui Ângelo Araújo, a «Impunidade» de H. G. Cancela ou as «Escavadoras» de Marta Pais Oliveira, por exemplo.

EM - Que importância tem eventos, como por exemplo este Arquipélago de Escritores? Que benefícios trazem para a cultura nacional? Quer para os escritores, quer para o público?

JCB - Eventos deste tipo permitem, através do livro, juntar autores e leitores. Contribuem, por outro lado, para a afirmação de territórios enquanto lugares de cultura. No caso em apreço, penso que a tradição literária açoriana não deixará de ecoar, em permanência, como ruído de fundo. Revelando-se, afirmando-se, impondo-se. Isso, que é um excelente serviço que se faz aos Açores e à cultura portuguesa, parece-me inestimável.


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