Autor: Lusa/AO online
De acordo com o relatório “O estado da insegurança alimentar no mundo”, para o período 2010-2012, 868 milhões de cidadãos do mundo sofrem de fome e mais de 2,5 milhões de crianças continuam a morrer de subnutrição.
Os habitantes dos países em desenvolvimento são os mais afetados (852 milhões) e representam, em média, 15 por cento das populações. Mas, nos países desenvolvidos, subsistem 16 milhões de subnutridos, número a que não será alheia a crise económico-financeira que rebentou em 2008.
Produzido conjuntamente por três agências da ONU – FAO (Organização para a Alimentação e Agricultura), PAM (Programa Alimentar Mundial) e IFAD (Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola) –, o relatório sugere que, “com um esforço suplementar”, o Objetivo de Desenvolvimento do Milénio n.º 1 – erradicar a pobreza do mundo para metade até 2015 – “pode ser atingido”.
Para tal, basta adotar “medidas adequadas”, considera o relatório.
Este “sinal de esperança” resulta, sobretudo, da redução da fome nos países em desenvolvimento: de 23,2 para 14,9 por cento.
A região Ásia e Pacífico continua a liderar o número de famintos, mas, nos últimos 20 anos, conseguiu diminuir a taxa em quase 30 por cento, apesar de persistirem “consideráveis disparidades” entre países e regiões do continente.
A região América Latina e Caraíbas também registou progressos, reduzindo o número de pessoas com fome de 65 para 49 milhões, entre 1990 e 2012.
Já em África, o número aumentou – é o único continente em que tal se verificou –, de 175 para 239 milhões, 20 milhões dos quais surgiram nos últimos quatro anos.
Apesar de continuar a ser um número “inaceitavelmente elevado”, entre os relatórios de 1990-1992 e 2010-2012, houve uma diminuição da taxa global de fome.
Hoje, há menos de 132 milhões de pessoas subnutridas, mas estas são ainda o rosto de 12,5 por cento da população mundial.
O relatório salienta que, entre 1990 e 2007, a fome diminuiu significativamente, mas, a partir da crise económico-financeira que se espalhou sobretudo pelo mundo desenvolvido, “o progresso global desacelerou e estabilizou”.
Aliás, segundo o relatório, nas regiões mais desenvolvidas, o número de pobres tem aumentado – de 13 milhões, em 2004-2006, para 16 milhões, em 2010-2012, revertendo a estável tendência de diminuição registada em anos anteriores.
Admitindo "a frágil” recuperação da crise, os dirigentes das três agências – José Graziano da Silva (FAO), Kanayo F. Nwanze (IFAD) e Ertharin Cousin (PAM) – apelam à comunidade internacional que faça “esforços suplementares para assistir os mais pobres na realização do direito humano básico, o de uma alimentação adequada”.
Atualmente, há recursos e conhecimento suficientes para eliminar todas as formas de insegurança alimentar e subnutrição, destacam, no prefácio do relatório.
“No mundo de hoje, com oportunidades técnicas e económicas sem precedentes, consideramos completamente inaceitável que mais de cem milhões de crianças com menos de cinco anos tenham um peso abaixo do indispensável e, consequentemente, estejam incapacitadas de realizar o seu potencial humano”, denunciam.
O crescimento global “é necessário, mas não suficiente para uma sustentada redução da fome”, alerta o relatório.
“Reduzir a fome é mais do que aumentar a quantidade de alimentos, é também aumentar a qualidade”, destaca, alertando para as contradições de um mundo onde fome e obesidade convivem, revelando "a frágil” relação entre crescimento económico e uma melhor alimentação.
São igualmente necessários “sistemas de proteção social, para garantir aos mais vulneráveis que não ficarão para trás”, frisam as três agências.