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“Não pode haver maioria absoluta nos Açores, acho que depois tudo é possível”

Artur Lima, líder do CDS-PP mostra-se “contra as maiorias absolutas de qualquer partido”, lembrando que o melhor governo socialista foi o primeiro, quando era minoritário, entre 1996 e 2000. Artur Lima quer classe média nos Açores mais apoiada e receia pelo futuro da SATA

“Não pode haver maioria absoluta nos Açores, acho que depois tudo é possível”

Autor: Paulo Simões/Paulo Faustino

Artur Lima, médico dentista, de 57 anos, é o líder do CDS-PP nos Açores e cabeça de lista à Assembleia Regional, onde é deputado há já vários anos.

Na reta final para as eleições regionais que meta traça para o seu partido e o que é que seria um bom resultado eleitoral a 25 de outubro?

Um bom resultado para os açorianos é o PS perder a maioria absoluta para efetivamente não acontecer o que acontece hoje em dia, em que não se consegue distinguir o governo do PS. O governo faz as vezes de PS numa atitude de sobranceria da democracia que é inaceitável e, portanto, um bom resultado é darem força ao CDS, é darem mais deputados ao CDS, voltar a eleger um deputado por São Miguel e eleger o máximo de deputados possível. Julgo que os açorianos, os micaelenses, os florentinos estão conscientes disso. Gostaria muito de reunir o meu grupo parlamentar que tivemos em 2008 (5 deputados). Acho que o CDS merece pelo trabalho que tem feito no parlamento. Outra perversão da democracia que existe hoje em dia é feita, aliás, ‘mano a mano’ entre Vasco Cordeiro e José Manuel Bolieiro - os senhores candidatos a presidente do governo. Acho que isto é o maior ataque que se pode fazer à Autonomia. Quando me vêm falar que são candidatos a presidente do governo, desprezam o primeiro órgão da Autonomia. Estamos a eleger deputados, que é a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, que parece que entrou de férias, porque o senhor presidente do governo continua a fazer visitas oficiais e inaugurações, e à margem faz um comício. Também devo dizer com toda a sinceridade, com alguma conivência da comunicação social, que também cobre o governo e a ação partidária. Se for um deputado a marcar uma conferência de imprensa, não sei se existe. Mas pronto, julgo que uma maioria absoluta não é boa, nós estamos fartos e basta recordar qual foi o melhor governo do PS: entre 1996 e 2000.

É contra as maiorias absolutas ou é contra esta maioria absoluta (do PS)?

Sou contra as maiorias absolutas de qualquer partido, por uma questão de princípio e democrática, e esta então de 20 anos é muito musculada e viciada. (1996/2000) foi um governo que teve todos os partidos da oposição que na altura eram só três - o PSD, o PCP e o CDS - e se bem se lembra, por proposta do CDS, houve a maior redução de impostos da história dos Açores e da Autonomia. Essa foi uma proposta do CDS que a troika depois reverteu, por culpa do PS (...) Foi uma medida de grande alcance para as famílias a redução de impostos, sobretudo para a classe média, porque dos coitadinhos já sabemos que têm tudo. Agora a classe média não tem e ainda hoje em dia continua a ser o grande problema dos Açores e dos açorianos.

Há uma grande aposta na ilha de São Miguel, a mais populosa e a maior dos Açores, por parte do CDS-PP?

Há. Como sabe, o partido não está em boa situação financeira, temos alguma limitação de meios, mas temos pela primeira vez 8 ou 10 outdoors em São Miguel, temos um candidato, o Dr. Nuno Gomes, com provas dadas na sua vida cívica e de cidadania e que certamente será uma voz que vai defender os micaelenses no Parlamento dos Açores. Porque, de facto, é engraçado: eu não conheço nenhum deputado eleito por São Miguel que defenda São Miguel no Parlamento dos Açores. Se me perguntar um, fico com dúvidas. São Miguel também precisa de uma voz e essa voz é o Dr. Nuno Gomes.

Consoante os resultados, admite fazer algum tipo de acordo pós-eleitoral, e se sim com que partidos?

Olhe, nunca faço cenários antecipados. Acho que o importante é retirar a maioria absoluta a quem quer que seja. Não pode haver maioria absoluta nos Açores, acho que depois tudo é possível, fica tudo em aberto.

Existe algum partido que exclua dessa lista de eventuais acordos?

Não excluo nem o PS, nem o PSD, nem o PPM, partidos democráticos, enfim, com princípios, humanistas. Agora, partidos extremistas excluo, com certeza.

Voltaria a fazer acordos com o PS quando diz que Vasco Cordeiro não cumpre o que promete?

Não retiro nem uma palavra àquilo que disse. Reincido na minha afirmação porque acho que a campanha eleitoral deve servir para não criar ilusões nas pessoas nem falsas promessas. E isto é um grande contributo para a abstenção. O combate à abstenção é nós sermos credíveis aos olhos do eleitorado. Ou seja, não prometer uma coisa que à partida sabemos que não vamos fazer e, portanto, eu sei que um próximo governo do PS não vai fazer o cais de cruzeiros (da ilha Terceira). (...)
Houve uma mudança (...) benéfica para os açorianos, com as medidas todas que propusemos, algumas inovadoras para os Açores. Recordo, mais uma vez, que os manuais escolares não foram proposta da esquerda, foram do CDS e da democracia cristã em 2012; o Compamid não foi proposta da esquerda e por aí fora (...).

Estaria disponível para uma coligação com o PSD nestas regionais?

Se fosse uma alternativa. O melhor projeto político que já conheci de direita nos Açores foi em 2004, com o Dr. Vítor Cruz, na altura líder do PSD/A. Um projeto estruturado, um homem com uma visão para os Açores, mas nunca esquecendo a singularidade de cada ilha. Assisti a esse projeto, lembra-se dos planos de desenvolvimento de ilha que ele propôs e olhe que esteve quase lá. Na conjuntura política de hoje, se tivesse havido aqui um entendimento de direita (envolvendo PSD e PPM)... O governo faz-se a partir da Assembleia, António Costa ensinou isso bem e como é que se faz. Quem tiver mais deputados, obviamente faz governo.

Que caminho defende o CDS-PP para a saúde nos Açores?

(...) Administrações despartidarizadas e competentes nos hospitais e unidades de saúde de ilha, só assim é que lá chegamos. Em cada centro de saúde e unidade de saúde de ilha há um comissário político do governo e vemos casos em que eles já estiveram desde empresas de águas, depois passaram para a Saúde e por aí fora. E depois deram a volta ao contrário: um esteve numa empresa de construção civil e voltou. Quero dizer, já vimos de tudo. Ou seja, o que é que falta? Administrações competentes, com formação, despartidarizadas. Gestão profissional na saúde.

Há dinheiro para investir na saúde?

Há, então não há dinheiro para pagar ao médico e ter exclusividade no hospital e no centro de saúde. O que defendo é a exclusividade dos médicos, bem pagos, no Serviço Regional de Saúde. O que nós poupamos na diabetes, em AVC’s, com uma medicina preventiva, é astronómico. Temos um exemplo bom nos Açores, que é a medicina dentária. É possível, sim, fixar médicos, pagar-lhes bem. Nunca tivemos tantos açorianos licenciados em medicina.

Quanto ao transporte marítimo de mercadorias?

O que detetámos e não foi só nós - as Câmaras do Comércio e Indústria de Ponta Delgada e dos Açores, e os comerciantes - é que este modelo é cartelizado e não serve os Açores e os açorianos. (...)

Serve quem?

Serve o cartel que está a trabalhar (as operadoras). Há tanto dinheiro quando interessa e não há dinheiro para se fazer um estudo independente, por parte de uma entidade internacional, para estudar o modelo de transporte marítimo de mercadorias nos Açores?

Receia pelo futuro da SATA?

Acho que a SATA é um ativo estratégico fundamental para os Açores. Desde 2009 que ponho o dedo na ferida na SATA. A SATA começou a decair desde que saiu o Eng. António Cansado, ainda Carlos César era presidente do governo e Vasco Cordeiro Secretário da Economia. A SATA começa o desastre com a compra da frota Dash, para poupar 3 minutos numa viagem daqui à Terceira e 5 minutos numa viagem daqui ao Faial. Nós tínhamos a ATR europeia. A frota da SATA Internacional são Airbus, aliás o Eng. Cansado, e bem, trocou os 737 por Airbus. E o que é que a SATA Açores tinha de fazer? Tinha que comprar os mesmos aviões, os ATR, à Airbus porque o Dash 400 para ir à manutenção tem que ir ao Canadá. Veja lá a voltinha que ele dá. Os ATR vão aqui a Espanha, diretos. E depois a manutenção é diferente. Em 2016, gastou-se 12 milhões em motores sobressalentes, novos motores para estes aviões porque são aviões para viagens de 1h30/2h, que têm de voar a 27/28 mil pés e vão aqui a 6/15 mil pés. Não é um avião para os Açores e a frota está ao contrário porque permite poucas ligações. Começa aí o descalabro da SATA. Porquê? Porque queríamos fazer viagens dos Açores para Faro e viagens dos Açores para a Madeira. E o que é que acontece? Na altura, a União Europeia financiava a compra de frotas para ligações interilhas e nós, ao fazermos essa compra e voando com esses aviões para fora das ilhas - ou seja, para Faro e para o Funchal - perdemos o subsídio europeu para a compra de aviões. O descalabro começa aí, sejamos absolutamente justos. Depois vem o Parreirão com o A-330 - é não é; era o A321 - é não é; e pronto, depois a história todos nós conhecemos.

A SATA está pendente da decisão que a Comissão Europeia vai tomar com base na resposta da República...

Temo muito por essa decisão, gostaria muito que a decisão fosse a favor da SATA... É expectável que em democracia, numa empresa pública, em que o acionista da empresa somos todos nós, não conheçamos o plano de negócios da SATA? Então temos uma administração que tomou posse em janeiro, houve a pandemia e até hoje não tem um plano de negócios? Entre janeiro e março esta administração tinha que ter feito alguma coisa. Eu só ouvi uma frase: “a SATA vai ser reestruturada doa a quem doer”. Neste momento sei dizer a quem é que dói: aos açorianos que não têm ligações como deve ser e a desculpa não é da Covid. Claro que a Covid afetou o mundo da aviação todo. Espero que esteja tudo bem, que o Governo Regional tenha feito tudo bem e o meu desejo é que continuemos com a SATA porque é fundamental. Não quero passar outra vez pelo monopólio da TAP.

Há um concurso que agora vai decorrer para os voos interilhas...

Mas tem uma novidade agora: é que a TAP tem uma frota de ATR e agora é uma empresa pública, com 70% de capitais públicos, e portanto pode haver aqui tipo um predador do grande para o pequenino... Tenho muito receio que isso possa acontecer porque a SATA Air Açores presta um serviço extraordinário e indispensável à nossa mobilidade (...).

Como se combate a desertificação de algumas ilhas e o envelhecimento generalizado da população açoriana?

Não é algo de novo, mas tem piorado. Como se combate? Fixando os nossos jovens qualificados: engenheiros, médicos, técnicos de diagnóstico e terapêutica, enfermeiros (...).

Há espaço para mexer na política fiscal açoriana?

Acho que há espaço para aplicarmos na íntegra a Lei de Finanças Regionais (LFR). Voltar àquilo que era a proposta do CDS antes da troika - os 30% e os 20%, ou seja, as deduções máximas permitidas pela LFR. Julgo que hoje em dia é perfeitamente possível voltar a esse escalão.

Porque é que isso não acontece?

Porque tem uma maioria absoluta do PS que não quer.

O que defende o CDS-PP em termos de políticas de emprego?

Do nosso programa consta a qualificação das pessoas, ninguém pode ter um bom emprego nem exigir um bom emprego se não for altamente qualificado para o cargo que vai desempenhar. Defendemos, por exemplo, que se deve reorientar e reorganizar o ensino profissional. Já chega de formar bar e mesa e mesa e bar. Quero perceber hoje em dia o que é que faz falta.





















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