Hélio Nuno Soares nasceu na vila das Velas, em São Jorge, e cresceu em Santo António, uma das freguesias mais altas do arquipélago, marcada pelo clima exigente e pelo mundo agropecuário.
“Sou filho de lavradores. Cresci a lidar com animais, vacas, milho, colheitas; esse era o meu mundo”, afirma, explicando que em São Jorge é conhecido por Nuno.
Recorda que, entre a escola primária, a Sociedade Filarmónica Recreio dos Nortes, onde tocou durante vários anos, a catequese e o escutismo, foi aprendendo que “numa ilha ninguém vive sozinho: para as coisas acontecerem, precisamos sempre uns dos outros”.
Sendo o mais novo de três irmãos, com uma irmã 19 anos mais velha e sobrinhas praticamente da sua idade, cresceu protegido, mas em convívio intenso com as sobrinhas e com a avó paterna, que vivia com a família.
A vida familiar foi profundamente marcada pela morte súbita do irmão mais velho, em 1997. “Eu tinha 13 anos. À tarde fui ordenhar vacas com o meu irmão mais velho e, na manhã seguinte, estava a vê-lo na casa mortuária”, recorda. A morte súbita, por enfarte, divide a vida em duas metades: “Há um antes e um depois da morte do meu irmão. A minha história familiar lê-se sempre a partir desse acontecimento".
Desde criança, Hélio Soares esteve ligado à vida da Igreja, por influência da mãe e da própria dinâmica da Paróquia. Essa presença foi criando um ambiente propício à descoberta da vocação. “Aos 17 anos, depois da missa nova de um padre jorgense, Hermínio Vitorino, em 2001, comecei a levar mais a sério a ideia do seminário”, conta, explicando: “Não houve nenhum relâmpago. Foi um processo longo, normal, com indecisões, mas que foi andando e fazendo o seu caminho".
Foi ordenado padre em 2009, na igreja de São Mateus da Urzelina, tendo a primeira grande etapa pastoral de Hélio Soares sido na ilha do Corvo, onde permaneceu cerca de quatro anos. “Costumo dizer que não se é padre do Corvo, é‑se padre no Corvo. Não é a mesma coisa que ser padre em qualquer outra ilha”, afirma, explicando que além da missão pastoral, assumiu a provedoria da Santa Casa da Misericórdia do Corvo.
Apesar da pequenez geográfica, considera que o Corvo abriu-lhe o mundo. “Por ser pequena e aparentemente periférica, a ilha recebe gente de todo o lado. Conheci pessoas de áreas muito diferentes, e isso alargou o meu olhar sobre a sociedade”, conta.
Depois do Corvo, em 2013, Hélio veio para São Miguel, onde foi colocado nas paróquias de Capelas e São Vicente Ferreira, assumindo mais tarde também a paróquia dos Fenais da Luz durante um ano.
Em 2025, Hélio Soares considerou, em diálogo com o bispo, que estava na hora de uma mudança. A decisão resultou na sua colocação como pároco da Maia e de Porto Formoso, bem como cura da Lombinha da Maia, na Ouvidoria dos Fenais da Vera Cruz, em São Miguel. Nessa mesma reconfiguração pastoral, foi eleito ouvidor dos Fenais da Vera Cruz. O momento atual é vivido como tempo de conhecer e de se dar a conhecer, num processo de adaptação recíproca entre pároco e comunidades.
Em paralelo a este percurso, Hélio Soares teve sempre o gosto pela história, tendo mesmo chegado a ponderar a hipótese de ser professor de História, caso saísse da formação sacerdotal. Mas foi no Corvo que, incentivado por professores da Escola Mouzinho da Silveira, decidiu inscrever-se na licenciatura em História na Universidade dos Açores, quase como realização pessoal.
Concluída a licenciatura em 2013, coincidindo com a saída do Corvo, foi encorajado pelo então bispo de Angra, D. António de Sousa Braga, a prosseguir estudos, optando pelo mestrado em Património e Museologia. Duas professoras tornaram-se referências determinantes neste percurso: Margarida Lalanda e Susana Goulart Costa, com quem estabeleceu uma relação de proximidade humana e científica.
“A professora Margarida Lalanda e a professora Susana Goulart Costa tornaram-se as minhas grandes referências. Devo-lhes muito, pelo acompanhamento ao longo destes anos”, destaca.
A dissertação de mestrado sobre o Mosteiro de Nossa Senhora da Esperança e o culto ao Senhor Santo Cristo, em Ponta Delgada, abriu-lhe caminho para o campo da história e do património religioso micaelense. Pouco depois, seria convidado por Margarida Lalanda para ser assistente convidado na Universidade dos Açores. O que pensava ser uma experiência de um semestre prolongou-se por vários anos, lecionando disciplinas nas áreas da história e do património, como professor assistente convidado na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas.
O percurso académico levou-o a integrar o Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa (CEHR-UCP) e o CHAM – Centro de Humanidades (Universidade dos Açores e Universidade Nova de Lisboa). Inscreveu-se, entretanto, no doutoramento em História Moderna e Contemporânea, na Universidade de Salamanca, com uma investigação sobre o culto e a devoção ao Senhor Santo Cristo dos Milagres entre 1700 e 1965, projeto que se encontra temporariamente suspenso, por opção de dar prioridade às exigências pastorais.
No âmbito do projeto DIO 500 – História Religiosa dos Açores (1427–2016), coordenado por Susana Goulart Costa, Hélio Soares integra a equipa que procura estudar e divulgar a história religiosa das nove ilhas. “Este projeto quer contar a história religiosa dos Açores desde o povoamento até 2016, para preparar os 500 anos da diocese de Angra, em 2034”, explica, referindo que, neste contexto, tem coordenado obras como Paróquia das Capelas – História, Património e Vivências e um volume de documentos para a história da mesma paróquia.
Entre 2023 e 2024, passou alguns meses em Roma, trabalhando nos Arquivos do Vaticano, onde identificou e inventariou documentação relativa aos Açores, descrevendo a localização e o conteúdo essencial das fontes, com o objetivo de facilitar futuras investigações de outros investigadores.
Este ano, pela primeira vez, Hélio Soares viverá a época de Natal na Maia, sendo que há cerca de 16 anos que não passa a consoada “em casa”, no sentido estrito, porque o ministério o coloca no centro das celebrações paroquiais. Recordando o Natal da sua infância na ilha de São Jorge, menciona que era passado em família, situação que se tem repetido desde que é padre, ainda que não tenha voltado a celebrar esta época na sua ilha natal. Nesta época, afirma, “cada cristão é chamado a ser instrumento ativo de paz na sua comunidade, mesmo quando está cercado por ambientes de divisão e discórdia”.
