Em 2009, os 12 restaurantes envolvidos no certame serviram, apenas durante os dias da sua realização, 4956 doses de arroz de lampreia. Este ano, implicando 14 estabelecimentos, os promotores admitem atingir um número idêntico.
O Festival da Lampreia de 2009 beneficiou do facto de coincidir com o Carnaval, reconhecem os organizadores. Mas "o evento já tem um público muito fiel", sublinha, à agência Lusa, explicando o otimismo, Luís Rodrigues, técnico dos serviços de turismo da autarquia.
Promovido, desde há 13 anos, pela Câmara de Penacova, a iniciativa é um dos maiores cartazes turísticos do município. O Mosteiro de Lorvão, principal monumento do concelho, foi visitado, nos últimos três anos, em média, por sete mil pessoas. O Museu Moinho Vitorino Nemésio recebeu, em 2009, perto de 5500 visitantes.
"O sucesso do festival [que este ano se realiza entre os dias 26 e 28], deve-se, antes de mais, às características do prato, confecionado de acordo com a tradição", que é antiga, mas sobre a qual não há dados que permitam saber a que época remonta. Certo é, porém, que esta sempre foi uma especialidade gastronómica não muito popular. Sobretudo porque "Para a lampreia, bolsa cheia", como diz o velho provérbio local, recorda Luís Rodrigues.
Regras antigas que passam pelo "cuidado amanho do ciclóstomo", prolongada marinada e recurso a determinados temperos, na medida certa. "Um bom vinho e um bom azeite são fundamentais", diz Jorge Côta, proprietário do restaurante Côta.
"O tempo de cozedura também é muito importante - nunca menos de uma hora", sublinha Natália Coimbra, proprietária e cozinheira do restaurante Boa Viagem. "A qualidade dos produtos, desde o arroz à lampreia, dos temperos mais discretos ao vinho", é o segredo. Sem esquecer, adverte, os grelos cozidos, indispensáveis, como acompanhamento, para a maioria dos apreciadores.
O conhecimento herdado e de experiência feito "de nada serve se os produtos não forem de boa qualidade", afirma, à Lusa, Natália Coimbra. A começar pela lampreia, cuja qualidade passa pelo tempo de estágio em tanques de água doce corrente. Ai, o ciclóstomo passa fome e emagrece, perde o sabor a lodo, adquire consistência e muda mesmo de cor, escurecendo.
Até há alguns anos, o estágio, de vários dias, era feito no Mondego. As lampreias eram guardadas em caixas de rede, permanentemente banhadas pelas águas do rio. Por isso, "restaurante que se prezasse em servir lampreia, localizava-se junto do rio".
Agora, "isso acabou e já ninguém deixa a lampreia no rio", sob pena de ser roubada, explica Jorge Côta. E é fácil de compreender o fenómeno, pois uma lampreia custa, hoje, cerca de 70 euros.
A lampreia, em estágio, em caixas de rede no Mondego, é, no entanto, a única tradição perdida na história do ciclóstomo em Penacova. As outras regras antigas, relacionadas com o tratamento, tempero e confeção permanecem intactas. E esse, garantem proprietários de restaurantes e cozinheiros, é o maior segredo do sucesso desta especialidade gastronómica em Penacova.
