Açoriano Oriental
Festas do Espírito Santo começam mais cedo na ilha do Corvo

O número de habitantes do Corvo pode ter pouca expressão, mas esta aumenta quando se fala no culto ao Espírito Santo na primeira ilha dos Açores a realizar as tradicionais festas, uma semana antes das restantes.

Festas do Espírito Santo começam mais cedo na ilha do Corvo

Autor: Lusa /AO Online

Na mais pequena parcela do arquipélago, com perto de 390 habitantes, Nádia Cabeceira, mordoma da única Irmandade local do Divino Espírito Santo, refere, em declarações à Lusa, que se arranca com as festas “mesmo no dia da Páscoa, fazendo-se o cortejo a sair do Império, indo para a igreja”, e depois para as casas que foram sorteadas para receber o Espírito Santo.

As Festas do Divino Espírito Santo, com uma vertente religiosa e outra profana, realizam-se todos os anos no sétimo domingo depois da Páscoa, ou seja, no domingo de Pentecostes.

De acordo com os dados históricos disponíveis, as celebrações foram instituídas em Alenquer (distrito de Lisboa) pela rainha Santa Isabel e o seu marido, o rei D. Dinis, em 1321, e espalharam-se com especial destaque para os Açores, onde permanecem vivas e associadas ao Dia da Região Autónoma.

Incluídas na tradição estão as tradicionais sopas distribuídas a título gratuito pela população, como símbolo de solidariedade e partilha.

No caso da mais pequena ilha, era apenas distribuído o bodo de leite. “Foi um casal que vivia nas Flores que, na década de 90 do século XX, veio viver para o Corvo e trouxe a tradição das sopas”, conta a mordoma.

Nádia Cabeceira lembra que a ilha é por vezes afetada pela rutura de abastecimentos, mas as festividades nunca o foram, uma vez que existem as tradicionais promessas de cabeças de gado por parte dos produtores locais, gerando-se assim a carne suficiente para assegurar as festas.

“Claro que, se não houver promessas, compramos carne a algum agricultor, mas no Corvo não faltam vacas”, diz.

Segundo a mordoma das Festas do Espírito Santo, as sopas no Corvo não são muito diferentes das das restantes ilhas, levando carne assada e cozida. Diferem apenas na preparação para as restantes parcelas.

De acordo com Roteiro das Festas do Espírito Santo, no domingo de Pentecostes as festividades iniciam-se com um cortejo que incorpora várias rainhas, bem como as insígnias e outros artigos representando os sete dons do Espírito Santo.

As rainhas transportam na cabeça uma coroa e, após a chegada do préstito à igreja matriz de Nossa Senhora dos Milagres, é celebrada uma missa solene, animada pelo grupo coral, pelos irmãos presentes e pelos já falecidos.

Há depois um cortejo acompanhado pela filarmónica, que percorre várias artérias da Vila do Corvo, seguindo-se as tradicionais sopas do Espírito Santo, servidas gratuitamente a toda a população da ilha.

Na segunda-feira do Espírito Santo é realizado o denominado bodo de leite.

No segundo fim de semana de julho, tem lugar a realização da festa profana, com arraial, tascas, artistas e convidados, realizando-se no domingo, mais uma vez, o cortejo com coroações e o bodo de leite.

Durante a realização das festas em honra do Espírito Santo, a ilha ganha uma dinâmica diferente contrastante com a tranquilidade que lhe é característica.

Muitos emigrantes do Corvo radicados nos Estados Unidos e no Canadá regressam para participar nas tradições, inclusive com família e amigos, apesar de as celebrações se celebrarem também nas comunidades açorianas radicadas no continente americano.

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