Autor: Tatiana Ourique / Açoriano Oriental
Foi com boa disposição que Marco Pacheco se apresentou ao Açoriano Oriental. Ou não fosse a escrita criativa a sua grande arma. “Nasci em São Jorge poucos meses depois do 25 de Abril, mas vivi também na Terceira e em São Miguel, antes de vir estudar Comunicação Social para Lisboa, onde vivo hoje na freguesia de Campolide. Joguei futebol nos escalões secundários nacionais, com uma meteórica passagem pelos juvenis do Sporting, em ambos os casos com assinalável insucesso. Por via desse desgosto e do gosto pelas letras, tornei-me redator publicitário e encontrei assim uma maneira de viver da escrita. Hoje sou Diretor Criativo Executivo da agência de publicidade BBDO, onde escrevo histórias para marcas, vulgo anúncios. Ao fim de 21 anos de carreira, decidi aventurar-me na ficção porque, no meu trabalho, as histórias que conto não são minhas, são dos anunciantes, e eu tenho muitas que eles jamais comprariam”.
Nasceu e viveu em São Jorge até aos 16 anos. Depois, “na Terceira 4 anos, mais 4 em São Miguel, onde vive atualmente a minha família, no Nordeste. Continuo a ter muitos amigos na região, espalhados por várias ilhas, São Jorge, Terceira e São Miguel, sobretudo. Volto pelo menos duas a três vezes por ano”, disse o diretor criativo da BBDO Portugal, uma agência de publicidade que “de entre os clientes para os quais trabalhamos, estão a McDonalds, o Pingo Doce, o Novo Banco e a CUF”, conta o criativo.
Sobre viver da escrita criativa, Marco Pacheco admite que é difícil na região, mas garante que em Lisboa “não é muito mais fácil”: “Para mim só é possível escrever no tempo livre que vou tendo, muitas vezes roubado a amigos e outras atividades que também gosto (gostaria) de fazer. São poucos os escritores que vivem dos livros em Portugal, eu não sou um deles, nem espero vir a ser”, assume.
“Guerra Prometida” foi apresentado na Praia da Vitória, âmbito do Outono Vivo, e permitiu que os terceirenses conhecessem um pouco melhor este fugaz conterrâneo que se estreou na literatura com o prémio revelação Agustina Bessa-Luís.
O romance conta a história de um rapaz que nasce num bairro operário em Lisboa “construído pelo grande empresário Francisco Grandela. Por via de uma aposta com um vizinho, Zé, o protagonista, adquire um gosto especial por números que o levará ao contacto
com alguma alta sociedade. O seu sonho, no entanto, não é esse: é seguir o exemplo de um tio aguadeiro (profissão desaparecida) que morreu de forma heroica ao salvar uma família de um incêndio em casa. É o seu caminho tortuoso até esse objetivo derradeiro que o livro conta”, diz o criativo jorgense que assume que “este livro surgiu da vontade de explorar dois temas que sempre me interessaram: a adolescência, como fase mais intensa e conturbada da vida, pelo menos para mim; e a morte, não como uma fatalidade ou um castigo, mas como algo que, na falta de outros objetivos realizáveis em vida, é usado como veículo para a imortalidade, para a glória. Uma ideia vagamente cristã que no meu livro é encarnada por alguém que de predestinado e messias tem muito pouco. Fui parar à Primeira República Portuguesa e à Primeira Grande Guerra porque o personagem principal me conduziu para esse tempo, isto é, a sua personalidade, os seus sonhos e vícios, pareceram-me mais propícios a gerar uma história mais interessante e mais humana se fossem enquadrados nesse período. Isto não significa que tenha alguma preferência por livros históricos (que o meu aliás não é). A pouca experiência que já tenho, diz-me que são as personagens que encontro ou construo que determinam o assunto do livro. O que estou a escrever agora, por exemplo, é sobre questões ambientais”, remata o autor.
O Prémio Literário Revelação surge para o açoriano “com absoluta surpresa. Acreditava no que tinha feito, mas inscrevi-me no prémio sem grande esperança. Aliás, até tive uma outra proposta de publicação antes de saber que o tinha ganho e só não a aceitei porque o editor me disse que eu tinha hipóteses de ganhar o prémio. Tinha razão, felizmente”.
“Fui parar à Primeira República Portuguesa e à Primeira Grande Guerra porque o personagem principal me conduziu para esse tempo, isto é, a sua personalidade, os seus sonhos e vícios, pareceram-me mais propícios a gerar uma história mais interessante e mais humana se fossem enquadrados nesse período. Isto não significa que tenha alguma preferência por livros históricos (que o meu aliás não é). A pouca experiência que já tenho, diz-me que são as personagens que encontro ou construo que determinam o assunto do livro. O que estou a escrever agora, por exemplo, é sobre questões ambientais”, contextualizou o escritor.
Apesar de já viver em Lisboa há mais tempo do que nos Açores, o criativo continua assumir-se açoriano “não só de nascimento, mas também de temperamento, e creio que isso se reflete no livro, principalmente no protagonista. O Zé é alguém que nasce sem grandes horizontes, mas que não se resigna, que luta, vai atrás do seu sonho, que é muito diferente dos sonhos normais para alguém da sua idade e da sua época. Também na literatura, há alguns autores açorianos que me influenciaram: Vitorino Nemésio e José Martins Garcias, sobretudo”.
Com o romance “A guerra prometida”, Marco Pacheco venceu, por unanimidade do Júri, o Prémio Literário Revelação Agustina Bessa-Luís 2022, no valor de 10 mil euros, garantindo a sua publicação através da Editorial Gradiva. A obra foi apresentada a 1 de novembro na ilha Terceira e contou com a participação dos amigos e sacerdotes José Júlio Rocha e Teodoro Medeiros.