Açoriano Oriental
Companhia das Ilhas abre a única livraria do ‘triângulo’ açoriano nas Lajes do Pico

A editora Companhia das Ilhas abriu, nas Lajes do Pico, no meio de uma “situação má” e que “tende a piorar”, a única livraria do ‘triângulo’, que terá cerca de 500 títulos de várias editoras portuguesas.

Companhia das Ilhas abre a única livraria do ‘triângulo’ açoriano nas Lajes do Pico

Autor: Lusa/AO Online

“O espaço é pequeno”, frisa sempre Carlos Alberto Machado, gerente da livraria, mas chega para albergar todos os títulos da chancela Companhia das Ilhas, que criou em 2011, quando “estávamos em plena crise da chamada ‘Troika’”.

São cerca de 15 metros quadrados, “repartidos entre loja e armazém”, e “até é mais armazém do que loja”, diz o livreiro, entre risos, sobre a única livraria no 'triângulo' do grupo central dos Açores, formado pelo Faial, São Jorge e o Pico.

“Cabem duas ou três pessoas de cada vez, não está mau”, considera, já que “tem uma montra com boa leitura, com um vidro enorme”.

Tem também espaço suficiente para os mais de 200 títulos que a editora açoriana editou em menos de uma década, bem como para livros de outras editoras portuguesas.

Até ao final do ano, espera ter, em loja, “cerca de 500 títulos diferentes”, entre as edições próprias e as outras, mas o livreiro faz questão de lembrar que os leitores podem sempre fazer encomendas.

“Entre ontem e hoje, ainda a livraria não tinha aberto, já tínhamos encomenda de cinco livros”, conta.

Para Carlos Alberto Machado, “é possível que o espaço, que é muito pequenino, possa servir como referência, a par das outras livrarias que existem no arquipélago”.

Essa é uma questão particularmente relevante num arquipélago que, até hoje, tinha apenas duas livrarias locais, uma em Ponta Delgada, em São Miguel, e a outra em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira.

“Há alguns espaços com venda de livros, mas, tecnicamente não são livrarias, são papelarias ou supermercados com venda de livros”, esclarece.

A livraria da Companhia das Ilhas surge, assim, nas Lajes do Pico, um concelho com cerca de 4.500 habitantes, na encosta sul da ilha, que somava, em 2019, pouco mais de 13.600 pessoas.

Mas espera servir, também, as vizinhas ilhas do Faial e de São Jorge, que formam, com o Pico, o ‘triângulo’ do grupo central açoriano.

Em plena crise pandémica, o projeto nasce de uma “espécie de tendência suicida”, diz Carlos Alberto Machado, numa altura em que “a situação é má” e “tende a piorar” e é por isso mesmo que decidiu dar este passo.

“Se nós nos deixamos ir pela onda, nos deixamos submergir pela onda do desânimo, do desinteresse, do medo, dessas coisas todas, morremos ainda mais depressa, todos. Aqui é um problema de sobrevivência”, vaticina.

Para o empresário, “há um lado de risco, obviamente, mas é também nas alturas em que as pessoas estão mais necessitadas de coisas que vale a pena fazer essa tentativa de esforço”.

Olhando para o panorama regional, o livreiro admite que “todos têm imensa dificuldade, mas são ainda pontos de referência para a cultura do livro, que é extremamente importante”.

“Nós temos a esperança de poder contribuir também, tal como eles, para ser uma referência, em particular na ilha, aqui no ‘triângulo’ e, em geral, quando a ilha ficar aberta, como é normal, à visita de toda a gente”, concretizou.

Na aproximação ao Natal, reconhece que “as pessoas compram [mais] bombons e brinquedos”, mas, como lhe disse um amigo, “agora não têm desculpa” para não comprar livros: “O espaço existe e tem livros. Por outro lado, fazemos facilmente encomendas”.

Em relação à livraria Companhia das Ilhas, inaugurada hoje, tem “esperança que a coisa corra bem”.

“As pessoas têm manifestado curiosidade e interesse… Vamos ver”, remata.

Entre os mais de 200 títulos editados pela Companhia das Ilhas, destacam-se as obras completas de Vitorino Nemésio, em parceria com a Imprensa Nacional – Casa da Moeda, e uma forte aposta em autores regionais, como Nuno Costa Santos, Álamo Oliveira, Urbano Bettencourt, Luiz Fagundes Duarte e Onésimo Teotónio Almeida.


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