Açoriano Oriental
Vinte vozes fadistas e Patxi Andión cantam Fernando Pessoa nos seus 125 anos
Vinte artistas nacionais e o espanhol Patxi Andión interpretam poemas de Fernando Pessoa, celebrando os 125 anos do nascimento do poeta, num álbum intitulado "O Fado e a Alma Portuguesa".
Vinte vozes fadistas e Patxi Andión cantam Fernando Pessoa nos seus 125 anos

Autor: Lusa / AO online

 

O espanhol Patxi Andión, que hoje canta no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, e segunda-feira, na Casa da Músca, no Porto, partilha com a fadista Ana Moura a interpretação de “Vaga, no azul amplo solta”, com música de Andión.

Fernando Pessoa afirmou ao Diário de Notícias, em 1929, que “a canção é uma poesia ajudada” e, referindo-se ao fado, sobre o qual escreveu “Há uma música do povo”, o poeta disse que “não é alegre nem triste". "É um episódio de intervalo”.

“Domou-o a alma portuguesa, quando não existia, e desejava tudo sem ter força para o desejar”, acrescentou Pessoa, referindo que, "no fado, os Deuses regressam legítimos e longíquos".

O CD junta temas inéditos com outros já registados como “Há uma música do povo”, musicado por Tiago Machado, que Mariza gravou em 2005, no álbum “Transparente”.

A fadista tinha já gravado, do poeta de “Mensagem”, o poema “Cavaleiro monge”, com música de Mário Pacheco.

Entre as composições inéditas, conta-se a interpretação, por Mafalda Arnauth, de “Cai chuva do céu cinzento”, na música do fado Menor, com arranjos de Fernando Leite, que terá sido o primeiro poema de Pessoa capturado pelo universo fadista, gravado por Tereza Tarouca, no início da década de 1970.

Entre os inéditos contam-se “Houve um ritmo no meu sono”, por Carminho, “Olha-me rindo uma criança”, por Ricardo Ribeiro, e “Montes e a paz que há neles”, por Ana Sofia Varela, todos com música de Diogo Clemente, e ainda “A tua voz amorosa”, por Debora Rodrigues, com música de Samuel Lopes, e “Não sei quantas almas tenho”, por Ana Laíns, com música da própria e de Paulo Loureiro.

“O Fado e a Alma Portuguesa”, editado pela Seven Muses e a Warner Music, tem uma “edição especial”, que inclui um livro bilingue – português e inglês - com textos que contextualizam a poesia de Fernando Pessoa, nomeadamente de autoria do músico e editor discográfico Samuel Lopes, fotografias dos artistas e os poemas cantados. A tradução para inglês dos poemas foi do investigador Richard Zenith, especialista na obra de Pessoa. Os textos são traduzidos por Alexis Levitin.

Num dos textos, Samuel Lopes refere que o poeta é cantado desde a década de 1970 por vozes como José Campos e Sousa, João Braga, Carlos do Carmo, Frei Hermano da Câmara e Maria da Fé, entre outros, e recorda declarações de Amália Rodrigues, em 1989, segundo a qual, “a poesia de Fernando Pessoa era mais para ser lida e refletida do que para ser cantada”.

Entre as 21 vozes escolhidas contam-se ainda as de Rodrigo Costa Félix, Patrícia Rodrigues, António Zambujo, Pedro Moutinho, Cristina Branco, Helder Moutinho, Maria Ana Bobone e Kátia Guerreiro.

Uma escolha que evidencia a afirmação de Samuel Lopes, de que, “só a partir dos [anos] 1990, com as gerações de fadistas que emergiram nessa década, é que de uma forma regular se tem interpretado no fado a poesia homónima e heterónima do poeta”.

Fazem também parte do grupo de intérpretes, Camané, que interpreta “Quadras”, Mísia e Paulo Bragança, que cantam, respetivamente, “Dança de mágoas” e “Na ribeira deste rio”.

Fernando António Nogueira Pessoa nasceu em Lisboa, no dia 13 de junho de 1888, sendo autor de obra vasta e plural, escrita em português e também em inglês.

O autor publicou poucos textos em vida, um deles foi "Mensagem" (1934), tendo a maior parte da sua obra sido publicada na segunda metade do século XX. Atualmente, continuam a surgir inéditos.

Numa nota biográfica que escreveu meses antes de morrer, em Lisboa, a 30 de novembro de 1935, Pessoa afirmou-se poeta e escritor “por vocação”.

PUB
Regional Ver Mais
Cultura & Social Ver Mais
Açormédia, S.A. | Todos os direitos reservados