Açoriano Oriental
“Tenho feito o meu trabalho da forma mais honesta que posso”

Romeu Bairos. Natural das Furnas, o artista ficou conhecido do público no ‘The Voice Portugal’ em 2015, programa que lhe deu o impulso que precisava para ter uma carreira na música. Em 2019 lançou o seu primeiro EP e em 2021 vai ao Festival da Canção com os Katerus e com a sua ‘Saudade’. Fez parte do elenco da série ‘Rabo de Peixe’ e no final de fevereiro lançou o disco de estreia


“Tenho feito o meu trabalho da forma mais honesta que posso”

Autor: Susete Rodrigues

Romeu Bairos, natural das Furnas, ilha de São Miguel, está há cerca de 10 anos a viver em Lisboa, mas sempre que pode vem aos Açores visitar a família e amigos, e quando tem algum concerto agendado.

‘Romeu das Furnas’, alcunha que lhe foi dada quando foi estudar para Ponta Delgada, herdou da família o gosto pela música, de tocar e cantar. Conta-nos que a sua avó tinha um grupo de cantares. 

“Eles realizavam os ensaios na garagem da nossa casa. Eram, mais ou menos, umas 30 pessoas, com vários instrumentos e eu gostava de experimentar todos. Depois, a minha mãe percebeu que eu e o meu irmão tínhamos gosto pela música e fomos para a Academia de Música da Ribeira Grande”. Acrescenta que “todos os professores que tive foram excelentes, quer na Academia, quer depois no Conservatório Regional de Ponta Delgada”, enfatizando que se lembra “destes tempos com muita alegria, fui muito feliz e sou muito grato a todos os professores”.

Com a sua formação em desenvolvimento, Romeu Bairos diz que tocou clarinete, “o que me fez ir para as filarmónicas - que é uma escola essencial para o ensino da música nos Açores, e depois comecei a tocar a guitarra”. Tendo formado uma banda em conjunto com o João Freitas e com o Tiago Franco, Romeu Bairos, vai para Lisboa incentivado pelos seus colegas, até porque “eles estavam a estudar no Hot Clube de Portugal e convenceram-me a ir para Lisboa. Fui e comecei a tocar em bares, na rua e mais tarde fui para o ‘The Voice Portugal’ (2015)”. 

Foi no programa da RTP que se ficou a conhecer melhor o artista, recordando com muito carinho a sua participação: “Era muito novinho e fui muito bem tratado por todos eles, ainda por cima era um menino que vinha dos Açores e estava longe de casa. Foi uma experiência muito gratificante que recordo com carinho. Fiz amigos desde esta altura”, afirma para explicar que o ‘The Voice Portugal’ deu-lhe o impulso que precisava e fez-lhe perceber quais seriam os próximos passos para ter uma carreira na música. “Para se ter uma carreira na música é preciso criar uma identidade artística, perceber o que queremos fazer e foi nessa altura que fui estudar jazz para o Hot Clube. Fui percebendo o que queria e isso demora um pouco. Na música é preciso ser-se persistente e constante no que se faz”, disse, para acrescentar que “tenho feito o meu trabalho da forma mais honesta que posso. Temos sempre a ideia de que ir para estúdio e gravar é rápido e fácil, temos uma visão romantizada, mas não é, dá muito trabalho e temos que investir muito... mas é isso que gosto de fazer”. 

Em 2019 lançou o seu primeiro EP intitulado ‘Cavalo Dado’ e em 2021 voltou a pisar o palco da RTP, desta vez dividindo-o com os Karetus no Festival da Canção. O tema ‘Saudade’, com música e letra de Romeu Bairos e Karetus, foi finalista. Refere que “foi uma responsabilidade grande e passei a estar no lote do açorianos que foram ao Festival da Canção”, recordando que “a música tinha um significado muito forte porque o ‘vira e volta a saudade’ é uma frase do cancioneiro açoriano”. Confessa que gostava de voltar ao Festival da Canção. “Tenho pena que o festival não seja dividido pelas delegações regionais e, assim, cada região mandava o seu representante. Isso seria muito bom”.

Em 2023, Romeu Bairos aceitou o desafio de interpretar o rap açoriano, Sandro G, na série da Netflix ‘Rabo de Peixe’. Quando foi contactado, pensou que “ia fazer uma música para a série, mas o Augusto Fraga (realizador) achou que a melhor pessoa para representar o Sandro G seria eu e o Sandro aprovou. Acho que fiz o melhor que pude e gostei muito de fazer a nova versão do ‘Eu não vou chorar’ do Sandro G.

Romeu Bairos tem atuado em Portugal e fora de Portugal, mas há um local especial onde gosta muito de atuar que é em Vila Franca do Campo por altura das festas do São João: “As pessoas recebem-me muito bem, mas quando toco em São Miguel é diferente. É o ‘Romeu das Furnas’ que está a tocar, o público é sempre muito bom. Tenho concertos aí que são épicos, que conseguem reunir todo um povo, olho para a frente e tenho o senhor dos correios, o senhor da farmácia, os jovens, ou seja, muitas caras conhecidas, e isso é mágico, também - é isso que me move e comovo-me”.

Para além do São João da Vila, o artista destaca outros concertos que o marcaram, nomeadamente, no “Teatro Micaelense, no Museu de Angra, no ‘Outro Lado’ em Ponta Delgada que foi uma noite muito especial”, bem como quando “dividi o palco com o B Fachada (cantautor e multi-instrumentista português) - foi um concerto marcante e um ponto de viragem”.

Tem uma agenda preenchida para este ano, onde irá atuar, por exemplo, em Portugal e nos Estados Unidos. Nos Açores, por enquanto, apenas tem confirmada a sua presença no Tremor que decorre em São Miguel entre 8 e 12 de abril.

No passado dia 28 de fevereiro, o cantor lançou o disco de estreia, intitulado ‘Romê das Furnas’, apadrinhado e produzido por B Fachada, uma reinterpretação contemporânea dos cantares tradicionais açorianos e de criação de outros novos.

Este disco resulta de um trabalho de “pesquisa e recolha do cancioneiro açoriano e que dá destaque ao sotaque das ilhas. Não é bem um disco sobre os Açores, é mais sobre as pessoas dos Açores”.

Para este trabalho foram escolhidos cantares tradicionais como o ‘Sol Baixinho’ de Santa Maria, o ‘Braços’ da ilha Terceira, o ‘Manjericão’ da ilha de São Miguel, “como também o ‘Calços da Maia’, ‘Roupa Lavada’, ‘Jacinta’, ‘Pescadô’, da autoria de Romeu.

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