Autor: Tatiana Ourique / Açoriano Oriental
Açoriano
Oriental - É enfermeira e professora de geografia. Lida com jovens diariamente.
É lugar-comum dizer-se que têm falta de compromisso em todos os contextos.
Concorda?
Ana
Margarida Marcos - Na verdade, antes de aqui chegar (JMJ) talvez
fosse impelida a concordar, mas tendo em conta o que vi, o que me parece é que
os nossos jovens apenas precisam de um “empurrãozinho”, idêntico àquele que
precisamos quando aprendemos a andar de bicicleta ou de patins. Chegar aqui e
ver esta imensidão de jovens todos reunidos num mesmo propósito, sintonizados
numa comunhão de amor e partilha fez-me acreditar que há muita esperança nestes
jovens e afinal também compromisso!
AO - Como surge esta oportunidade de ser voluntária para a JMJ?
AMM
- Para começar, acho que foi, antes de mais, a
possibilidade de reviver uma memória de infância, quando fui, com os meus pais,
ver o Papa João Paulo II, e proporcionar essa experiência também à minha filha,
desta vez com o Papa Francisco. Depois, tendo em conta que a Paróquia de
Azeitão, que frequentamos quando estamos em casa dos meus pais aqui no
continente e que esta iria acolher peregrinos, logo se gerou em mim um enorme
entusiasmo em participar. Ademais, sendo a minha irmã mais nova um elemento
muito ativo nesta paróquia, logo fomos todos “contagiados” pela alegria da
participação nesta dinâmica de partilha e serviço.
E
aqui estou, como voluntária paroquial, extraordinariamente acolhida (ainda que
numa fase preparatória apoiando à distância, a partir da Terceira), dando o meu
contributo pessoal, entregando-me ao serviço do outro, e tentado incutir este
exemplo de vivência da fé junto da minha filha e dos que me estão próximos.
AO
- Como nos pode descrever esta experiência?
AMM
- Quanto mais quero encontrar as palavras certas
mais me falha o vocabulário para descrever o que tenho estado a viver com esta
experiência, por esse motivo talvez a apelidasse de indescritível, divina…
É
um estado de comunhão, de encontro, de alegria, de amor ao próximo, aquilo que
se vê em cada jovem que canta com um entusiasmo inacreditável, que grita “esta
és a juventude del papa”, que se ajoelha para rezar, que procura sintonizar-se
com Jesus na confissão (e sim! foram muitos, mas muitos os jovens que vi a
confessarem-se, contrariando que este sacramento está “fora de moda” ou é
dispensável à luz do pensamento jovem!). Talvez tenha sido este um dos gestos
dos jovens que mais me tocou! Uma enorme manifestação de coragem, de humildade,
assumindo o que os “abafa”, mas libertando-os com esperança e determinação para
o futuro!
E
perante este cenário ímpar, como se transpõem para palavras sensações, emoções,
pensamentos e estados de alma tão ricos e maravilhosos como aqueles que pude
viver por aqui! Senti os jovens “sintonizados”!
AO
- Em pleno mês de agosto, com temperaturas acima dos 30 graus e no meio de uma
multidão imensa, são precisos muitos auxiliares na área da saúde?
AMM
- Sim, imensos! Todos são chamados a dar do que
têm! São várias as ocorrências de saúde, que, de forma mais comum surgem na
procura de auxílio. O calor e o cansaço
são 2 aliados poderosos, mas pouco amigos dos peregrinos. Os voluntários da
área da saúde estão por todo o lado e mostram sorrisos e ternura, transportando
nas mochilas que muitos trazem as costas, tudo o que possa ser necessário para
ajudar. Mas o que vi, sobretudo em ambientes mais humanamente preenchidos foi
uma fantástica atitude de ajuda, onde todos se mobilizavam para que o socorro
fosse o mais célere possível. Cordões humanos para passar quem precisava de auxílio,
colos que se dispunham a transportar não importando o peso, palavras de alento cujo
efeito terapêutico era muito superior a antibióticos, cadeiras que se
empurravam por caminhos tortuosos para que ninguém ficasse para trás. Enfim… a
vivência do verdadeiro espírito de fraternidade onde TODOS têm o seu lugar.
AO
- Quais têm sido as ocorrências mais frequentes?
AMM
- O mais comum são as mazelas decorrentes do
esforço intenso de longas caminhadas, nomeadamente as bolhas nos pés, dores
musculares, resfriados de quem aguenta o calor intenso durante o dia e o
arrefecer da noite, algumas queimaduras solares.
AO - Como estão organizados os postos de socorro?
AMM
- Existe antes de mais uma organização a nível de
cada diocese. Depois ao nível das paróquias de acolhimento há um protocolo de
atendimento e de atuação para cada situação que possa surgir junto dos
peregrinos. Posteriormente é ajustada uma escala com os voluntários no âmbito
da saúde que se disponibilizaram para prestar o auxílio e/ ou fazerem a triagem
da gravidade da ocorrência de saúde.
Nos
espaços dos eventos, a Proteção civil, os bombeiros, e voluntários estão em
permanente circulação pelos espaços onde se encontram os peregrinos.
AO
- O que leva da JMJ para os Açores?
AMM
- Levo a alegria, levo o entusiasmo, levo cá
dentro o modelo de uma vida mais feliz quando vivida neste contexto de fé. Levo
o testemunho deste AMOR incomensurável que Jesus Cristo tem por nós e para nós.
Quero ser mais e melhor a transmitir estes valores que o Papa Francisco partilhou
connosco. Uma igreja para TODOS, TODOS, TODOS, “sem maquilhagem”!
AO
- Será uma professora de geografia e enfermeira diferentes depois desta
experiência?