Açoriano Oriental
“Ser católico não está fora de moda (…) somos uma só igreja reunida, com jovens que estavam à procura de si”

Ana Margarida Marcos tem 50 anos e é docente de geografia do 3º ciclo e Secundário e enfermeira. É coordenadora da saúde escolar da Unidade Orgânica da Escola Básica e Secundária Tomás de Borba e coordenadora regional da ENEC (Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania) no ano letivo 2023/24. Ao currículo algo incomum junta as missões de “catequista e católica praticante” e alistou-se como voluntária na JMJ para prestar auxílio no ramo da saúde. Também a filha Clara integrou as fileiras do voluntariado JMJ.


“Ser católico não está fora de moda (…) somos uma só igreja reunida, com jovens que estavam à procura de si”

Autor: Tatiana Ourique / Açoriano Oriental

Açoriano Oriental - É enfermeira e professora de geografia. Lida com jovens diariamente. É lugar-comum dizer-se que têm falta de compromisso em todos os contextos. Concorda?

 

Ana Margarida Marcos - Na verdade, antes de aqui chegar (JMJ) talvez fosse impelida a concordar, mas tendo em conta o que vi, o que me parece é que os nossos jovens apenas precisam de um “empurrãozinho”, idêntico àquele que precisamos quando aprendemos a andar de bicicleta ou de patins. Chegar aqui e ver esta imensidão de jovens todos reunidos num mesmo propósito, sintonizados numa comunhão de amor e partilha fez-me acreditar que há muita esperança nestes jovens e afinal também compromisso!

AO - Como surge esta oportunidade de ser voluntária para a JMJ?

 

AMM - Para começar, acho que foi, antes de mais, a possibilidade de reviver uma memória de infância, quando fui, com os meus pais, ver o Papa João Paulo II, e proporcionar essa experiência também à minha filha, desta vez com o Papa Francisco. Depois, tendo em conta que a Paróquia de Azeitão, que frequentamos quando estamos em casa dos meus pais aqui no continente e que esta iria acolher peregrinos, logo se gerou em mim um enorme entusiasmo em participar. Ademais, sendo a minha irmã mais nova um elemento muito ativo nesta paróquia, logo fomos todos “contagiados” pela alegria da participação nesta dinâmica de partilha e serviço.

E aqui estou, como voluntária paroquial, extraordinariamente acolhida (ainda que numa fase preparatória apoiando à distância, a partir da Terceira), dando o meu contributo pessoal, entregando-me ao serviço do outro, e tentado incutir este exemplo de vivência da fé junto da minha filha e dos que me estão próximos.

 

AO - Como nos pode descrever esta experiência?

 

AMM - Quanto mais quero encontrar as palavras certas mais me falha o vocabulário para descrever o que tenho estado a viver com esta experiência, por esse motivo talvez a apelidasse de indescritível, divina…

É um estado de comunhão, de encontro, de alegria, de amor ao próximo, aquilo que se vê em cada jovem que canta com um entusiasmo inacreditável, que grita “esta és a juventude del papa”, que se ajoelha para rezar, que procura sintonizar-se com Jesus na confissão (e sim! foram muitos, mas muitos os jovens que vi a confessarem-se, contrariando que este sacramento está “fora de moda” ou é dispensável à luz do pensamento jovem!). Talvez tenha sido este um dos gestos dos jovens que mais me tocou! Uma enorme manifestação de coragem, de humildade, assumindo o que os “abafa”, mas libertando-os com esperança e determinação para o futuro!

      E perante este cenário ímpar, como se transpõem para palavras sensações, emoções, pensamentos e estados de alma tão ricos e maravilhosos como aqueles que pude viver por aqui! Senti os jovens “sintonizados”!

 

AO - Em pleno mês de agosto, com temperaturas acima dos 30 graus e no meio de uma multidão imensa, são precisos muitos auxiliares na área da saúde?

 

AMM - Sim, imensos! Todos são chamados a dar do que têm! São várias as ocorrências de saúde, que, de forma mais comum surgem na procura de auxílio.  O calor e o cansaço são 2 aliados poderosos, mas pouco amigos dos peregrinos. Os voluntários da área da saúde estão por todo o lado e mostram sorrisos e ternura, transportando nas mochilas que muitos trazem as costas, tudo o que possa ser necessário para ajudar. Mas o que vi, sobretudo em ambientes mais humanamente preenchidos foi uma fantástica atitude de ajuda, onde todos se mobilizavam para que o socorro fosse o mais célere possível. Cordões humanos para passar quem precisava de auxílio, colos que se dispunham a transportar não importando o peso, palavras de alento cujo efeito terapêutico era muito superior a antibióticos, cadeiras que se empurravam por caminhos tortuosos para que ninguém ficasse para trás. Enfim… a vivência do verdadeiro espírito de fraternidade onde TODOS têm o seu lugar.

 

AO - Quais têm sido as ocorrências mais frequentes?

AMM - O mais comum são as mazelas decorrentes do esforço intenso de longas caminhadas, nomeadamente as bolhas nos pés, dores musculares, resfriados de quem aguenta o calor intenso durante o dia e o arrefecer da noite, algumas queimaduras solares.

AO - Como estão organizados os postos de socorro?

AMM - Existe antes de mais uma organização a nível de cada diocese. Depois ao nível das paróquias de acolhimento há um protocolo de atendimento e de atuação para cada situação que possa surgir junto dos peregrinos. Posteriormente é ajustada uma escala com os voluntários no âmbito da saúde que se disponibilizaram para prestar o auxílio e/ ou fazerem a triagem da gravidade da ocorrência de saúde.

Nos espaços dos eventos, a Proteção civil, os bombeiros, e voluntários estão em permanente circulação pelos espaços onde se encontram os peregrinos.

 

AO - O que leva da JMJ para os Açores?

AMM - Levo a alegria, levo o entusiasmo, levo cá dentro o modelo de uma vida mais feliz quando vivida neste contexto de fé. Levo o testemunho deste AMOR incomensurável que Jesus Cristo tem por nós e para nós. Quero ser mais e melhor a transmitir estes valores que o Papa Francisco partilhou connosco. Uma igreja para TODOS, TODOS, TODOS, “sem maquilhagem”!

 

AO - Será uma professora de geografia e enfermeira diferentes depois desta experiência?

 

AMM - Absolutamente!!! Ninguém fica indiferente a esta presença humana, à luz e à energia que brota deste Homem que nos faz tocar em Jesus Cristo, como quem abraça o seu amigo, o seu amor. Ninguém, e decerto que os cerca de 800.000 jovens hoje presentes na Via Sacra, não saem iguais depois de um acontecimento tão marcante como este! Afinal ser católico não está fora de moda, não somos ET´s, somos uma só igreja reunida, com uma imensidão de jovens que estavam à procura de si, e encontraram-se, a si e aos outros numa comunhão sem pressas. “E porque acreditaste, para sempre és feliz” (in Hino JMJ)

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