Sánchez diz que vai continuar com legislatura apesar de contexto difícil

O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, disse que vai continuar à frente do Governo, apesar do contexto difícil, em resposta às pressões para antecipar eleições ou remodelar o executivo devido a várias suspeitas de corrupção e de assédio sexual



"O contexto não é fácil", mas o Governo e o líder do executivo estão "carregados de determinação, convicção e energia" para "a segunda parte da legislatura", disse Sánchez, que foi reinvestido primeiro-ministro pelo parlamento espanhol em novembro de 2023.

O Partido Socialista Espanhol (PSOE), que Sánchez também lidera, e o Governo estão a ser afetados por uma sucessão de notícias sobre suspeitas de corrupção e de assédio sexual a mulheres que envolvem atuais e antigos dirigentes socialistas, incluindo um ex-ministro (José Luis Ábalos) e um ex-funcionário da Presidência do Governo (Francisco Salazar), ambos, como outros nomes, considerados durante anos dos políticos mais próximos e de confiança de Sánchez.

Nos casos relacionados com assédio sexual há ainda relatos de mulheres que se queixaram nos canais criados para esse efeito no PSOE que dizem terem sido ignoradas ou de o partido ter demorado meses a contactá-las.

"Cometemos erros, como todos", mas "o compromisso do Governo e do PSOE" com o feminismo "é absoluto" e "todos os avanços" que tem havido em Espanha na luta pela igualdade e contra a violência contra as mulheres ocorreram quando os socialistas estiveram no poder, sublinhou hoje Sánchez, numa conferência de imprensa em Madrid.

Em relação às suspeitas de corrupção que envolvem diversos ex-dirigentes do PSOE, reiterou que o partido agiu "com contundência e não com conivência", afastando de imediato os visados, ao contrário do que aconteceu no passado com governos do Partido Popular (PP, direita).

O primeiro-ministro sublinhou que, também ao contrário do que aconteceu nos governos do PP, não estão agora em causa suspeitas de "corrupção sistémica" nas estruturas do Estado ou para financiamento ilegal de um partido.

Tanto na corrupção como no feminismo, o PSOE "aceita zero lições" da direita e da extrema-direita e de partidos que votam sistematicamente contra leis para promover a igualdade de género ou que negam a violência machista, acrescentou.

O primeiro-ministro espanhol reconheceu a dificuldade de governar com um parlamento muito fragmentado - foi reinvestido por uma geringonça de oito partidos e ainda não conseguiu aprovar um Orçamento do Estado na atual legislatura - mas sublinhou que foi essa a vontade expressa democraticamente pelos espanhóis nas eleições de 2023 e que aquilo que o executivo tem de fazer é negociar e dialogar permanentemente para aprovar as medidas que propõe.

Para Sánchez, os resultados "não são maus", pelo contrário, "dão aval a esta política de diálogo", referindo, entre outros, os dados positivos da economia e do mercado de trabalho em Espanha.

O primeiro-ministro tem estado a ser alvo de pressões para antecipar eleições ou mudar o Governo por parte da oposição, mas também dentro do próprio partido, do executivo e de forças que viabilizaram a atual legislatura no parlamento.

Ministros do partido de esquerda Somar, que faz parte do executivo liderado pelos socialistas, pediram nos últimos dias uma “remodelação profunda”, enquanto o Partido Nacionalista Basco (PNV, conservador), que apoiou a reeleição de Sánchez, questionou quanto tempo o Governo “vai poder aguentar a crise”, apostando em eleições antecipadas no próximo ano.

Outro partido da geringonça, a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) pediu hoje uma reunião a Sánchez para que explique "o que pensa fazer para regenerar o seu partido e o seu Governo".

Pedro Sánchez é primeiro-ministro desde 2018 e chegou inicialmente ao Governo com uma moção de censura ao então executivo de direita do Partido Popular por causa de diversos casos de corrupção.

A luta contra a corrupção e o feminismo são precisamente dois pilares do discurso de Sánchez e do PSOE têm vindo a sublinhar analistas políticos e editoriais na imprensa face às sucessivas polémicas que estão a envolver os socialistas espanhóis e o Governo.


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