Açoriano Oriental
Produção de açúcar da Sinaga vai cair 30 por cento
A campanha deste ano da Sinaga, que arranca hoje, deverá gerar 400 toneladas de açúcar, menos 30 por cento do que foi transformado na laboração de 2008.
Produção de açúcar da Sinaga vai cair 30 por cento

Autor: Paulo Faustino

Uma significativa redução que tem a ver com a menor quantidade de terrenos disponíveis para cultivo de beterraba sacarina em São Miguel: 162 hectares contra 285 no ano passado. Também o número de agricultores afectos à cultura (81) ficou abaixo de outras campanhas, como por exemplo a de 2005, altura em que chegou a haver mais de 400 hectares e duas centenas de cultivadores.

Segundo o presidente da Sinaga, a explicação para o decréscimo reside essencialmente no maior aproveitamento que está a ser dado aos terrenos para a produção de alimentos alternativos (forragens e silagens) para o gado, como forma de fazer face ao elevado custo das rações e às consequências de um ano seco. Emanuel Sousa confirmou ao Açoriano Oriental que existe uma "dificuldade crescente" da açucareira em encontrar e ocupar terras para a exploração da beterraba. E é por essa razão que a administração optou este ano por pagar mais aos produtores para fomentar o desenvolvimento da cultura. Neste caso, substancialmente mais, já que os aumentos variam entre 20 e 36 por cento, de acordo com a percentagem de açúcar extraída (polarização). Uma estratégia que visa atrair cultivadores na ilha, mas que não surtiu o efeito desejado. Na verdade, "pagamos a beterraba a um óptimo preço, é a mais cara de toda a Europa... Vamos continuar a fazer um esforço nesse sentido".

Também o subsídio do Poseima aumentou, passando a ser de 1300 euros por hectare. Emanuel Sousa acredita que se trata de uma boa notícia para os cultivadores que, por terem sabido depois da época das sementeiras, fará com que a campanha do açúcar seja melhor no próximo ano.

Para colmatar a insuficiência de matéria-prima, a Sinaga está autorizada a importar ramas de cana em países exteriores à União Europeia (sobretudo Brasil). Mas aqui também não tem a vida facilitada porque, desde Janeiro de 2006, não usufrui das ajudas comunitárias previstas pelo Posei para a importação de ramas. O empresário diz ser este, justamente, o cerne da questão. E conclui que a indústria centenária sediada na Rua de Lisboa depende de decisões políticas para sobreviver. "Tem havido dificuldades em aplicar o Quadro Comunitário na Região e isso afecta a produção de açúcar e a fábrica", sublinha.

Quanto à eventual deslocalização da Sinaga da cidade de Ponta Delgada e do desenvolvimento de projectos alternativos para a diversificação da agricultura açoriana, Emanuel Sousa prefere não arriscar prognósticos. Apenas reafirma que o desfecho destes processos depende dos decisores políticos salvarem ou não a empresa, que começou como fábrica do álcool em 1882 e passou a tranformar açúcar a partir de 1906.

O responsável pela Sinaga lembra que algumas culturas agroindustriais emblemáticas dos Açores, se ainda não desapareceram (como é o caso da extinta chicória), têm pouca expressão (chá) e enfrentam mesmo o risco de desaparecer (tabaco). Como consequência, em vez de se diversificar a base económica regional, aumenta-se a dependência da agropecuária e da produção de leite.

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