Açoriano Oriental
“Ligações aéreas podem trazer epidemia de gripe”
Embora as unidades de saúde dos Açores tenham registado, até agora, apenas casos pontuais de gripe, a circulação de passageiros entre o continente e a Região pode vir a alterar esta situação
 “Ligações aéreas podem trazer epidemia de gripe”

Autor: João Cordeiro

A epidemia de gripe que se verifica no continente  já chegou aos Açores?
Não temos ainda nenhuma epidemia de gripe nos Açores. No entanto, como sabemos, os casos de gripe continuam a aumentar no continente e podemos, de uma forma mais ou menos empírica, calcular que através das ligações aéreas entre o continente e a Região, a situação possa chegar cá.
Como se pode evitar a propagação do vírus?
Essencialmente através da higiene respiratória pessoal e interpessoal: colocando o antebraço à frente da boca sempre que se espirrar ou tossir, em vez da mão - que pode contaminar objectos ou pessoas -, procurando evitar uma proximidade inferior a cinquenta centímetros entre pessoas, de forma a reduzir as possibilidades de transmissão do vírus, e utilizando lenços descartáveis.
As pessoas com gripe não devem ir indiscriminadamente ao hospital...
Se cada vez que a pessoa tiver uma constipação se dirigir ao hospital, não só vai provocar o entupimento das urgências, como provavelmente vai entrar no hospital com uma constipação e sair de lá com situação muito mais grave. É preciso ter a noção de quando é necessário ir ao hospital e de quando não é preciso...
Quais são os sintomas que devem levar as pessoas a decidir ir ao hospital?
Isso varia, mas em circunstâncias normais, caso se trate de uma pessoa perfeitamente saudável, se houver febre a partir de 38 graus, grandes dores musculares por todo o corpo, e dores no peito ou no torax, que persistam ao longo de três dias, a pessoa deve procurar assistência médica. Uma febre ligeira e corrimentos nasais são normais numa simples constipação e não justificam uma ida imediata ao hospital. Aliás, a pessoa deve ir preferencialmente ao seu médico de família, no centro de saúde, porque, mesmo em período de gripe, não deixa de haver pessoas com outras situações graves, que têm mesmo que ser atendidas com urgência. As pessoas estranham estarem à espera durante dez a doze horas para serem atendidas no hospital, mas o hospital não pára para fazer atendimento apenas a pessoas com gripe, continua a haver o trabalho normal.
Que proporções pode atingir esta epidemia de gripe que afecta o continente?
Este ano verifica-se um aumento de 30 por cento dos valores normais para a época, o que é muito, mas não é o que está calculado para os piores cenários, no caso de uma pandemia. Estamos dentro dos valores comportáveis pelos serviços de saúde. O pico no continente ainda não atingido, e prevê-se que seja atingido dentro uma ou duas semanas, altura em que será possível perceber o impacto da gripe. Os Açores estão relativamente protegidos, devido a questões climatéricas e ao isolamento. Mas os aviões eliminam este isolamento, portanto, pessoas que se contagiem no continente podem facilmente trazer o vírus. Se tivermos valores semelhantes aos do continente, as pessoas vão ter que estar preparadas para recorrerem menos ao médico, apenas em casos de real necessidade.

Vacinação contra a gripe reduz
o risco de contrair infecção

A vacina contra a gripe, à venda em todas as farmácias perante apresentação de receita médica, é um dos meios mais adequados à prevenção do vírus da gripe, que está a afectar muitas pessoas no continente e que pode vir a ter o mesmo efeito na Região.
Como em Portugal o pico da actividade gripal tem ocorrido entre Dezembro e Fevereiro, a vacinação deve ser feita preferencialmente durante o mês de Outubro, podendo, no entanto, decorrer ao longo de todo o Outono e Inverno.
Esta medida de prevenção deve ser tomada principalmente pelos idosos, doentes crónicos do coração, pulmões, fígado, rins, ou com diabetes, assim como por todas as pessoas que têm profissões de risco, nomeadamente o pessoal de serviços de saúde e de outros serviços com contacto directo com pessoas de alto risco, e ainda por coabitantes de pessoas com alto risco de contrair o vírus.
Para além de reduzir muito o risco de contrair gripe, a vacinação faz com que, mesmo no caso de contágio, os efeitos da gripe sejam mais ligeiros.
Ao contrário do que muitas pessoas pensam, a vacina contra a gripe não contém vírus vivos, pelo que não pode provocar a doença, e a vacina não protege as pessoas contra outras infecções respiratórias virais que ocorrem durante a época de gripe.
É preciso ter a noção de que a vacina contra a gripe não dá protecção a longo prazo, porque o vírus muda constantemente, fazendo com que surjam novos tipos para os quais as pessoas não têm imunidade. Daí que  a vacina seja diferente todos os anos.
Depois de comprada, a vacina deve ser administrada assim que possível. Até ser levada ao serviço de saúde para ser administrada, a vacina deve ser conservada dentro da embalagem, no frigorífico, a uma temperatura entre os 2 e os 8 graus, nas prateleiras do meio do frigorífico e não na porta.
A vacinação não deve ser feita indiscriminadamente: é importante aconselhar-se com um médico.

Epidemia de gripe “não vai acontecer na Região”

Analisando o actual cenário, quanto a uma possível epidemia de gripe na Região, Luís Brito Azevedo, em representação da Direcção Regional de Saúde, acredita que “não vai acontecer nos Açores o que se está a passar no continente”.
Isto, devido ao “empenhamento das instituições do Serviço Regional de Saúde em providenciar a vacinação em larga extensão, designadamente ao grupo com alto risco de desenvolver complicações pós-infecção gripal”, que segundo a Direcção Geral de Saúde é composto pelas pessoas com 65 e mais anos de idade, principalmente se residirem em instituições, assim como as pessoas com mais de 6 meses de idade que sofram de doenças crónicas dos pulmões, do coração, dos rins ou do fígado, diabetes em tratamento - com comprimidos ou insulina -, ou outras doenças que diminuam a resistência às infecções.
Após contactar hospitais e centros de saúde da Região, Luís Brito Azevedo verificou que a situação nos Açores é normal, e que este ano nem se atingiu o habitual surto de gripe sazonal.
“Nas seis instituições contactadas, que são as maiores da Região, registam-se apenas casos isolados de gripe”, garantiu, acrescentando que “nem o surto de gripe sazonal que é expectável para esta altura do ano, ocorreu nos Açores”.
No entanto, esta situação ainda pode vir a ocorrer, uma vez que “habitualmente, os Açores são atingidos pelo surto de gripe no mês de Janeiro, havendo sempre um retardamento relativamente ao território continental”.

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