Autor: Paula Gouveia
Desde o início do ano, cerca de 200 jovens vindos de todo o país juntam-se, durante um fim de semana por mês, em Lisboa, para ensaios intensos do repertório das cerimónias religiosas da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) que se realiza de 1 a 6 de agosto.
Ricardo Botelho, natural de São Miguel, é um destes jovens que vão partilhar os “palcos” da Jornada Mundial da Juventude com o Papa Francisco e não esconde o entusiasmo com esta experiência, onde participam mais dois jovens açorianos que residem no continente.
“Saber que o coro vai estar mais próximo do Papa, que vamos estar presentes em todas as cerimónias, que vamos estar no epicentro das celebrações, reveste-se de um significado especial”.
“Podia inscrever-me para participar nas Jornadas apenas como peregrino, mas a possibilidade de integrar o coro permite-me participar ativamente num serviço específico das jornadas” e “contribuir com algo meu, neste caso a voz e a música”, para “uma causa e para um evento importante na história do país e da Igreja em Portugal e da nossa vivência enquanto jovens e crentes e seguidores da fé católica”, salienta.
Ricardo Botelho não participou nos dois primeiros ensaios realizados em julho e outubro do ano passado, porque as inscrições para o Coro da JMJ Lisboa 2023 começaram por ser para jovens até aos 30 anos “e eu já estava um bocadinho mais à frente desta margem de idade”, mas “entretanto, no início deste ano, em conversa com amigos da área da música que lá estão, falaram-me da abertura de vagas já com dilatação da margem de idade, com o intuito de reforçar os naipes masculinos do coro que estavam a necessitar de reforço”.
Foi assim que decidiu avançar. “A admissão é feita através de prova, tínhamos de mostrar o que era o nosso percurso na área da música e enviarmos uma gravação para terem uma noção de como era a nossa prestação no canto”, explica, adiantando que foi admitido, e em janeiro deste ano começou a entrar “na rotina do trabalho do coro que tem sido bastante exigente e desafiante”.
Ricardo Botelho diz que tem sido “uma experiência muito enriquecedora – já tenho uma relação com a música há muitos anos, em especial com a música relacionada com o serviço litúrgico, não só por ter iniciado no Coral de São José, mas também porque nesta minha atividade musical e artística sempre acompanhei os trabalhos litúrgicos em outros coros onde estive, inclusivamente durante a temporada de estudante em Lisboa”, explica.
A viagem a Lisboa todos os meses faz agora parte da sua rotina. “São ensaios intensivos, da manhã até ao final da tarde”, todos os meses, num sábado e domingo, conta. Ontem foram os primeiros ensaios conjuntos do coro com a orquestra que serão dirigidos pela maestrina Joana Carneiro na JMJ Lisboa 2023.
E a experiência tem sido recompensadora. “Encontrei pessoas que conhecia deste mundo da música, tenho conhecido muitas outras, e tem sido uma experiência incrível ao nível artístico, porque Portugal apostou com bastante empenho no campo musical”, realça.
“Estamos a falar de um programa para várias missas, vigílias e momentos de oração bastante ricos a nível artístico, com composições que serão estreias, a maioria de compositores portugueses”, adianta. E há ainda “algumas peças internacionais que estão a ser adaptadas e apropriadas com outras letras. Os cânticos, quase todos eles, versam em várias línguas de países por onde a Jornada tem passado – italiano, português, francês, inglês, alemão, polaco, a par do latim”, num repertório do qual faz parte o hino oficial “Há pressa no ar”, avança.
“Para músicos é um desafio enorme estarmos a aprender repertório novo, num coro jovem, e com técnicos bastante competentes. É uma equipa técnica bastante robusta, boa tecnicamente, de maestros, pianistas, organistas que acompanham os ensaios”, revela, acrescentando que “houve a preocupação de trazer cantores profissionais, até do canto lírico, para ajudar a trazer aquela massa sonora, escurecer o timbre, ser mais rigoroso na articulação, dicção, na aprimoramento da pronúncia dos vários dialetos”.
“ Todas estas dinâmicas mais técnicas têm sido trabalhadas insistentemente e o resultado é incrível, e chegamos ao fim dos ensaios e é sempre uma alegria ver que chegamos ao fim daquele programa e que resultou bastante bem a nível musical e artístico”. Até porque, “estamos ali a prestar um serviço à liturgia, à dimensão espiritual que envolve as jornadas, mas ao mesmo tempo a fazer um trabalho tecnicamente bem feito, um trabalho musical valorizado, valorizador, e em que se percebe que houve empenho”, sustenta. “Acho que é uma forma de comprovar que existem jovens dinâmicos, que a igreja em Portugal está viva, porque somos imensos, não só no coro, mas também na orquestra e nas equipas de voluntariado transversais a diversas áreas”.