Açoriano Oriental
Francisco celebra cinco anos de pontificado marcado pela denúncia de dramas sociais

Cinco anos depois da eleição, Francisco, primeiro papa oriundo do hemisfério sul, fascina pela simplicidade e proximidade na abordagem de dramas sociais, suscita entusiasmo ou curiosidade, até junto dos não católicos, mas também cria oposições na Igreja.

Francisco celebra cinco anos de pontificado marcado pela denúncia de dramas sociais

Autor: Lusa/AO online

Mas a verdadeira revolução de Francisco está na forma como se relaciona com o exterior, informal, frontal e duro quando acha necessário na denúncia de conflitos, terrorismo, refugiados e, sobretudo, da pobreza.

Os múltiplos escândalos de pedofilia e as sucessivas denúncias de abusos de crianças por sacerdotes, assim como “a corrente de corrupção” que afirmou existir no seio da Cúria, não são uma tarefa fácil para o papa. Reconheceu isso mesmo meses depois de ser eleito durante um encontro com religiosos latino-americanos.

O argentino Jorge Mario Bergoglio, 81 anos, tornou-se no primeiro pontífice oriundo da América Latina, numa escolha considerada surpreendente, já que estava entre os cardeais mais velhos do conclave.

Sorridente, o cardeal jesuíta surgiu, a 13 de março de 2013, na varanda da basílica de São Pedro, na Cidade do Vaticano, ao som dos gritos da multidão "Longa vida ao papa!".

Francisco, o primeiro papa jesuíta, pediu "irmandade" entre os 1,2 mil milhões de católicos e rezou juntamente com a multidão na praça de São Pedro e afirmou que os cardeais "tinham ido ao fim do mundo" para o eleger.

No segundo aniversário do pontificado, Francisco, 265.º sucessor do apóstolo Pedro, declarou ter a sensação de que o pontificado podia ser breve, de quatro ou cinco anos, mas desmentiu sentir-se "só e sem apoio".

"Tenho a sensação que o meu pontificado vai ser breve. Quatro ou cinco anos. Não sei. Ou dois ou três. Dois já passaram. É uma sensação um pouco vaga que tenho, a de que o Senhor me escolheu para uma missão breve. Sobre isso, mantenho a possibilidade em aberto", afirmou o papa numa longa entrevista à cadeia de televisão mexicana Televisa.

À pergunta "gosta de ser papa?", Francisco respondeu sobriamente e sem entusiasmo excessivo: "Não me desagrada". Um ano antes tinha admitido perante milhares de jovens e professores de escolas jesuítas que não queria tornar-se no líder da Igreja Católica.

“Deus não teria abençoado alguém que quisesse, que tivesse vontade de ser papa. Eu não queria ser papa”, disse o papa.

Na mesma entrevista à cadeia de televisão mexicana sublinhou que sempre detetou viajar e que é uma pessoa caseira, contudo, em cinco anos já realizou mais de 30 deslocações internacionais, as mais recentes ao continente sul americano.

Portugal foi, em 2017, o 28.º país a receber uma visita do papa Francisco. Embora sem uma relação conhecida com o Santuário de Fátima, o papa chegou como peregrino e canonizou os pastorinhos Jacinta e Francisco Marto.

No final da visita, o papa disse que ia repetir a “mensagem de paz” de Fátima “com quem quer que fale”.

Paralelamente, vincou o seu lado inter-religioso, tendo participado na celebração dos 500 anos da reforma de Lutero, e avistou-se com lideres ortodoxos, judeus e muçulmanos.

Durante estes cinco anos de pontificado, Francisco procurou por em evidência variados temas sociais, defendendo a proteção dos idosos e das crianças, o direito a um trabalho digno, a defesa do ambiente e ainda a ajuda aos refugiados, tornando visível a mensagem social da Igreja.

Poucos meses depois da sua eleição, quando uma parte do mundo começou a conhecê-lo, Francisco anunciou qual seria sua primeira viagem e não foi para nenhum centro do cristianismo, mas para Lampedusa, centro da tragédia de migrantes no Mediterrâneo.

Nas suas últimas viagens a Myanmar (Birmânia) e Bangladesh, lidou com o drama da minoria muçulmana da Rohingya lembrando a comunidade internacional que este é um assunto que não deve ser esquecido.

Acusou o Vaticano de se centrar nele próprio e esquecer-se do resto do mundo e não fugiu dos temas em que a Igreja sempre assumiu uma postura conservadora. Simplificou os procedimentos para o reconhecimento da anulação dos casamentos católicos, afirmou-se incapaz de julgar homossexuais que procuram Deus, disse não fechar a porta ao debate sobre o fim do celibato no clero ou a ordenação de sacerdotes do sexo feminino.

Mas o sociólogo e fundador do Centro de Estudos sobre Novas Religiões, Massimo Introvigne, explicou numa entrevista recente na página "Leformiche" que, em "grandes argumentos morais como o aborto, a eutanásia ou o casamento, a Igreja nunca mudará porque são considerados princípios não negociáveis e Jorge Bergoglio, embora tenha dito pouco, mantém uma clara continuidade com seus predecessores ".

Francisco também atinge as consciências incluindo a Igreja na luta pela proteção do meio ambiente na encíclica "Laudato si", que se tornou um verdadeiro manifesto ambiental e social em todo o mundo.

Noutros textos de seu pontificado, a exortação apostólica "Evangelii Gaudium”, Francisco também apresentou a denúncia do sistema económico atual: "uma economia que mata".

"Os lucros de alguns crescem exponencialmente, os da maioria permanecem cada vez mais longe do bem-estar dessa minoria feliz" e "esse desequilíbrio social vem de ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira", denunciou.

Pendente tem ainda a questão da pedofilia. Francisco foi o pontífice que prometeu "tolerância zero" com pedofilia por membros do clero, mas continua a ser um problema neste pontificado tendo agora nas mãos o caso do bispo de Osorno (Chile), Juan Barros, acusado de encobrir o padre Fernando Karadima, condenado por abuso sexual de menores de idade.


PUB
Regional Ver Mais
Cultura & Social Ver Mais
Açormédia, S.A. | Todos os direitos reservados