Autor: Rafael Dutra
A proposta da Bienal Walk&Talk 2025, que se realizará entre setembro e novembro de 2025, será apresentada amanhã, dia 15 de novembro, das 19h00 às 00h00, na Aula Magna da Universidade dos Açores, um evento que pretende ser o ‘pontapé de partida’ do ‘caminho para a Bienal’: o primeiro de um conjunto de programas e ações destinados a antecipar e contextualizar os temas da Bienal entre os diversos públicos e comunidades que a associação pretende envolver neste processo coletivo e colaborativo.
Participam nesta ocasião as curadoras convidadas para a primeira edição deste novo formato do Walk&Talk, Claire Shea, Fatima Bintou Rassoul Sy, Liliana Coutinho, bem como o diretor artístico da Anda&Fala - Associação Cultural, Jesse James, que, em entrevista ao Açoriano Oriental, aborda as dificuldades, objetivos e intenções da associação que há mais de uma década realiza um festival de âmbito cultural que tem dinamizado a Região, e que passará a ser efetuado num novo formato.
De acordo com o diretor artístico da Anda&Fala, o Walk&Talk deixa de ser um festival anual de 10 dias em julho, e passa a ser uma bienal de dois meses, entre setembro e novembro, uma mudança que exige uma reavaliação e um redesenhar total da estrutura e cronograma de atividades do festival.
“Para nós, a forma como estamos a trabalhar não está circunscrita no agora, ela procura ponderar e pensar quais são os impactos e o reflexo desse projeto a médio e longo prazo e não só nos Açores. Cada vez mais interessa-nos pensar no Walk&Talk num contexto transregional: a relação da nossa região com outras”, assinala.
Questionado sobre os desafios encontrados neste processo de transição para uma Bienal, Jesse James considera que esta adaptação necessita muitas alterações no que toca à gestão, fluxos de trabalho das equipas artísticas e os compromissos laborais com as equipas e profissionais, por exemplo.
Além disso, além de desafiante, acabou por ser um processo “muito importante”, porque ajudou a organização do Walk&Talk a “questionar” modelos de produção e gestão e a “atualizar essas metodologias de trabalho”.
Com a existência da
vaga — espaço de arte e conhecimento (iniciada em 2020), o Walk&Talk
pretende “intensificar e potenciar” a sua “relevância”, no que toca ao
“desenvolvimento de públicos”, realizando “dinâmicas muito mais
expandidas no tempo e no espaço”, em comparação com a vaga, que tem uma
“dimensão mais local”.
“O Walk&Talk tem essa dimensão mais abrangente e, no fundo, esses dois projetos partilham intenções, mas vão estar a atuar em escalas muito diferentes”, sublinha Jesse James.
Este período de pausa, entre diferentes formatos, permitiu à Anda&Fala “avaliar e entender” tudo o que foi produzido e gerado durante uma década, e foi algo que acabou por dar a este coletivo “uma base” e “segurança” para serem mais rigorosos nas intenções, mas também no “reforço da ambição do projeto”, acrescenta o diretor artístico.
O processo de transição para a Bienal permitiu ainda continuar o processo da Anda&Fala de posicionar a região num lugar relevante a nível cultural, reforçando esse rigor, num compromisso “em duas vertentes”, prossegue Jesse James.
A primeira das quais está relacionada com a capacidade de ter mais tempo para o trabalho de pesquisa curatorial, em saber o que pretendem abordar, no Walk&Talk, do ponto de vista artístico, social e político, por exemplo, mas também perceber melhor esses mesmos sistemas.
Trata-se de um aprofundamento da definição dos
temas abordados, de compreender as práticas artísticas que vão
acompanhar esse pensamento, que integra uma série de diferentes
disciplinas (artes visuais, performativas, design, arquitetura e
ciências, entre outras), o que é algo que “enriquece a relevância das
discussões” que o Walk&Talk quer ter.
“Toda essa pesquisa é benéfica, porque depois ajuda a moldar o que vai ser a estrutura da Bienal e influencia também o que vão ser as tipologias de eventos que nós vamos apresentar no contexto da Bienal”, destaca Jesse James.
A Bienal, de acordo com o diretor artístico da Anda&Fala, inclui a colaboração com uma multiplicidade de pessoas e vai ter uma dinâmica “muito polivocal”, porque vão estar presentes “muitas pessoas”, nas discussões sobre os temas introduzidos que variam destas as “artes à ecologia, ciência, à política e economia”.
“Queremos que o
Walk&Talk seja um exemplo nesse sentido. Além de um projeto de
artes, queremos fazer um projeto social de relação com todas essas
disciplinas”, sustenta.
Para o agente cultural, há discussões globais das quais os Açores devem fazer parte. “O Walk&Talk é um dos espaços onde essas conversas podem acontecer. Entendemos o Walk&Talk como uma Bienal que parte do Atlântico. É uma oportunidade de falarmos a partir daqui e consolidar a posição da Região, em setores estratégicos como a cultura, a ciência, mas também como a preservação ecológica”, afirma, referindo ainda que é algo que pretende alcançar, tendo em conta “a herança que o festival deixou”, tal como “a ambição que a equipa tem neste momento”.
Além da apresentação do programa, a Anda&Fala vai promover, no sábado, das 10h00 às 17h00, a atividade intitulada “Excursão aos vários lados da questão”, uma caminhada pela ilha de São Miguel que pretende refletir várias questões. E, no domingo, será realizada a segunda ‘Assembleia da Abundância’, no Serviço de Desenvolvimento Agrário de São Miguel, das 10h00 às 13h00, com Virgílio Varela.