Autor: Susete Rodrigues/AO Online
‘Ilhas’, é o título provisório do espetáculo que o Teatro Meridional irá estrear em São Miguel, em dezembro próximo, integrado no projeto ‘Províncias, numa coprodução com o Teatro Nacional D. Maria II e o Teatro Micaelense.
O Teatro Meridional criou o projeto ‘Províncias’
em 2003, que tem por base um “olhar para uma determinada região, ou
seja, realizamos um levantamento antropológico, cultural, social,
político e histórico, bem como uma pesquisa a nível de literatura, de
música, de tradições”, explicou o encenador Miguel Seabra ao jornal
Açoriano Oriental.
Depois de feita uma triagem à informação recolhida
“começamos a construir um espetáculo que terá, entre outras
características importantes, o facto de não ter a palavra como principal
forma de comunicação cénica; digamos que é ‘atravessado’ sempre por uma
paisagem sonora, quer seja tocada ao vivo quer seja gravada”.
Desta forma, no início deste mês de julho, uma equipa do Teatro Meridional esteve nas ilhas de São Miguel e Terceira, tendo realizado residências artísticas. Tratou-se de uma primeira abordagem à investigação das duas referidas ilhas, até porque “este espetáculo terá sempre a subjetividade inerente de um olhar artístico da identidade do percurso do Teatro Meridional”, frisa o encenador.
Questionado sobre o porquê dos Açores, Miguel Seabra confessa que não descansaria se não viesse cá: “Quando iniciamos este projeto em 2003 pensei que teria que fazer o ‘triângulo’ que, para mim, é o mais mágico da identidade portuguesa, ou seja, Alentejo, Trás-os-Montes e Açores. Agora, finalmente, estamos a fazer uma pesquisa sobre estas maravilhosas nove ilhas dos Açores que se encontram no meio do Oceano Atlântico”.
O que mais lhe chama a
atenção nos Açores é a “diversidade de ilha para ilha, entre ilhas e
dentro da própria ilha. A insularidade é uma característica muito forte e
depois há o mar. Sentimos que o mar é uma extensão da terra para os
açorianos, faz parte integrante da identidade dos açorianos”. Por outro
lado, Miguel Seabra sublinha que “os Açores são um espaço muito mágico,
cheio de identidade, cheio de pormenor. Temos os quatro elementos da
natureza, o ar com muito vento; a terra muito rica e diversificada, que
vai desde a terra fértil à rocha vulcânica; o fogo do vulcão e a água.
Portanto, é um privilégio poder fazer esse trabalho sobre os Açores no
âmbito do projeto do Teatro Meridional”.
Os ensaios práticos do
espetáculo ‘Ilhas’ com os atores vão começar em outubro, mas antes, em
meados de agosto, irão regressar aos Açores, desta vez às ilhas do
Faial, Pico, São Jorge e possivelmente à Graciosa, “já com toda a
equipa, incluindo os atores, para esta vivência porque os atores têm uma
qualidade preciosa, nomeadamente, são especialistas de observação e de
captação, transformação identitária e, por isso, vai ser fantástico
estarmos nessas ilhas durante uma semana”, adiantou o encenador do
Teatro Meridional.
A estreia do espetáculo está prevista para dia 9 de dezembro, na ilha de São Miguel, nomeadamente, no Teatro Micaelense, sendo que é intenção do Teatro Meridional levar o espetáculo até à ilha Terceira.
Tal como em todos os espetáculos que fazem parte do projeto
‘Províncias’, para o ‘Ilhas’, será também criado um documentário sobre
todo o processo de construção do mesmo.
Projeto ‘Províncias’
O
primeiro trabalho do projeto ‘Províncias’ foi o espetáculo “Para Além
do Tejo” em 2003, em que se focava na zona do Alentejo, que recebeu o
Prémio Nacional da Crítica em 2004, da Associação Portuguesa de Críticos
de Teatro. Em 2006 levaram a cabo “Por Detrás dos Montes”, sobre o
norte de Portugal continental. Em 2012 debruçaram-se sobre a cidade de
Guimarães e em 2019, numa parceria com as Comédias do Minho, realizaram o
espetáculo “Ca_Minho”.