Autor: Susete Rodrigues/AO Online
No concelho da Calheta como está a decorrer o desconfinamento?
Primeiro
tenho que fazer um bom reparo: felizmente a nossa comunidade teve bom
senso e sensibilidade de atender à situação crítica que estávamos a
passar. Esta retoma à normalidade faz-se, neste momento, aos poucos e
tendo em atenção aquilo que vai sendo divulgado pelas autoridades de
saúde. Esperamos que não haja evolução dessa pandemia para que não
atrapalhe este nosso regresso à normalidade.
O setor da restauração e hotelaria já está a funcionar em pleno?
Sim,
está tudo aberto com as condicionantes impostas e com a atenção que as
pessoas vão tendo, ou seja, seguindo as medidas de proteção. No entanto,
não se verifica a mesma circulação de pessoas e de viaturas que se via
antes da pandemia. As pessoas estão ainda um pouco retraídas até porque
nesses dias já apareceram novos casos nos Açores.
A fase de
confinamento foi difícil para diversos setores, principalmente para as
empresas ligadas à hotelaria e restauração. Na Calheta de São Jorge este
setor também foi muito afetado?
Penso que este setor foi muito
afetado não só no concelho como também a nível da ilha de São Jorge no
seu todo. É, se calhar, um dos setores que está com menos vida. As
pessoas têm chegado aos poucos ou nem têm chegado à ilha. Já existem no
concelho investimentos interessantes quer na área do alojamento quer na
restauração e quer também em termos de empresas marítimo-turísticas. E
sim, eles têm sido bastante penalizados e certamente irão continuar a
ser. Muito recentemente, numa conversa com o presidente do Governo
Regional dos Açores, tivemos a oportunidade de sublinhar esse ponto que
nos parece que reger um cuidado bastante atento, sobretudo no que diz
respeito ao que foi o rendimento dessas pessoas nos últimos anos, para
aquilo que está a ser atualmente. Certo é que a vitalidade da nossa ilha
concentra-se na produção de leite/queijo e neste setor há que ter,
também, uma atenção redobrada porque o coração da ilha de São Jorge
‘bate’ em torno desse setor.
Nesta altura do ano era hábito o concelho receber muitos visitantes?
Há
cerca de 6 ou 7 anos a esta parte, a Calheta e a ilha de São Jorge, já
tinha muitas pessoas por cá, os nossos emigrantes e suas famílias - que
cada ano que passa mais nos visitam. Portanto, nota-se a ausência deles e
também dos forasteiros que vinham de todas as partes do mundo em bom
número. Certamente que este ano não iremos ter a mesma afluência de
pessoas que tivemos no ano passado ou nos últimos anos. Por outro lado,
com a retoma da operação da SATA, nos últimos dias, já voltamos a ver
alguns visitantes com as suas mochilas às costas, já vemos caras
diferentes na ilha e já ouvimos a língua estrangeira.
Quais são as suas maiores preocupações nessa fase?
O
futuro é uma preocupação transversal à nossa ilha e ao mundo.
Preocupa-me muito que possa existir uma reincidência dessa pandemia, que
possam surgir novos confinamentos e que possam surgir, também, uma
recessão económica bastante alta porque e, volto a insistir no tema,
preocupa-me o setor da agropecuária. Se existir alguma situação em que
falhe as exportações do queijo, por exemplo, isto pode originar
gravíssimas consequências para a vida económica e social da ilha de São
Jorge. Estamos atentos também os restantes setores mas estou em crer que
todos partilhamos da mesma opinião que o que terá que estar sempre em
cima da mesa é o valor e a vida das pessoas, o resto vai-se resolvendo,
com maior ou menor possibilidade financeira e humana.
O cancelamento da operação sazonal da Atlânticoline, vem prejudicar, ainda mais, a economia do concelho?
Vem
prejudicar como prejudica a não realização dos nossos festivais, como a
não vinda dos nossos emigrantes e daqueles que já por hábito nos
visitavam, naturalmente que sim. Não nos podemos esquecer que em ilhas
como São Jorge, uma das mais pequenas dos Açores, com uma economia
social bastante frágil e económica, há que ter uma atenção redobrada,
não só das autarquias locais mas também do Governo Regional. Não podemos
esquecer que somos uma das ilhas de Coesão dos Açores e isso mesmo
demos conta aquando da reunião que mantivemos com o presidente do
Governo Regional. Todos desejamos que essa pandemia não volte mas se
voltar que seja gerida da mesma forma, com o mesmo cuidado. Que as
nossas ilhas consigam continuar a florescer e voltar ao bom
desenvolvimento que se verificava nos últimos anos.