ONU vai receber valor recorde para refugiados em 2026 mas pede doações flexíveis

A agência da ONU para os refugiados congratulou-se com o valor recorde de doações prometidas para 2026, mas avisou que há mais necessidades de financiamento flexível, que possa ser usado para emergências repentinas



Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), a organização recebeu a promessa de lhe serem doados, em 2026, cerca de 1,4 mil milhões de euros, sublinhando que o valor constitui uma demonstração de confiança no seu trabalho.

No entanto, a agência lamentou, em comunicado divulgado, que as promessas de financiamento mostrem uma redução da percentagem de financiamento não vinculado, ou seja, de fundos que não são atribuídos a um objetivo específico, podendo ser usados onde as necessidades são maiores, incluindo emergências repentinas e deslocações em grande escala.

O aumento das doações prometidas para 2026 foi apresentado sobretudo pelos governos da Dinamarca, Alemanha, Japão, Países Baixos e Noruega, que, juntamente com os parceiros do setor privado, somam um financiamento de cerca de 1,4 mil milhões de euros, avançou a organização humanitária.

“No meio das fortes pressões financeiras sobre os intervenientes humanitários em todo o mundo, este apoio oportuno reforça a confiança contínua dos Estados no trabalho do ACNUR para proteger, auxiliar e encontrar soluções para os refugiados, retornados e apátridas”, referiu.

“Os compromissos de hoje mostram que o mundo não virou as costas às pessoas forçadas a fugir e que o apoio aos refugiados persiste”, sublinhou o alto-comissário, Filippo Grandi, lembrando que, este ano, a ajuda humanitária sofreu cortes dramáticos.

Cortes que “não eram nem necessários nem inevitáveis” e que “foram profundamente contraproducentes, levando a mais instabilidade e a menos proteção, assistência e esperança”, criticou, numa referência à decisão do Presidente norte-americano, Donald Trump, de reduzir o investimento na Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID).

Apesar de elogiar o crescimento do financiamento esperado para 2026, o ACNUR alerta que o montante cobrirá menos de um quinto das necessidades do próximo ano e lamenta a redução do financiamento não vinculado para 17%, quase metade do montante registado em 2023.

A organização lembra que, com a redução do financiamento deste ano, as equipas no terreno foram obrigadas a escolher quem receberia apoio e a concentrar os recursos limitados nas necessidades mais críticas.

“Nos primeiros seis meses de 2025, o financiamento flexível ajudou-nos a chegar a mais de 8 milhões de pessoas com serviços como assistência jurídica, documentação e proteção infantil, a prestar mais de 6 milhões de consultas de saúde, a expandir o acesso à água e ao saneamento a quase 5,9 milhões de pessoas e a apoiar milhões de outras com artigos de ajuda, dinheiro e abrigo”, descreveu.

No entanto, avisou, “os cortes no financiamento tiveram consequências terríveis”, como no caso do Afeganistão, onde os serviços de proteção, principalmente de mulheres e raparigas, “foram reduzidos em mais de metade”.

No caso do Sudão do Sul, “75% dos espaços seguros para mulheres e raparigas foram encerrados, enquanto no Líbano, mais de 83.000 refugiados perderam a assistência para encontrar abrigos”, lamentou.

“Precisamos urgentemente de financiamento flexível e contínuo para preservar as conquistas obtidas com muito esforço em áreas como a educação, a proteção infantil e os esforços para prevenir e responder à violência sexual”, pediu Grandi.

“A maioria dos refugiados anseia por regressar a casa, e muitos já o fizeram este ano. Com um forte apoio dos doadores, podemos ajudar a tornar estes regressos mais seguros e sustentáveis e garantir que os países anfitriões não são deixados sozinhos para suportar esta responsabilidade”, concluiu.

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