A editora Predicado Inclinado e o escritor João Pacheco de Melo apresentam amanhã, 24 de novembro, às 18h30, no Salão Nobre do Coliseu Micaelense, o quarto volume da coleção “Estórias” do lugar da Ponta Delgada, intitulado “‘Estórias’ do lugar da Ponta Delgada - de Santa Clara a São José (século XVIII)”. A obra, que será apresentada pelo padre José Paulo Machado, dá continuidade ao projeto do autor de narrar, século a século, a formação histórica e humana do antigo lugar da Ponta Delgada, combinando rigor documental com ficção narrativa.
Neste novo volume, João Pacheco de Melo mergulha no século XVIII para contar a longa e atribulada construção da prometida “Igreja Nova”, cuja ideia remonta a 1581 e que, após 130 anos de promessas, interrupções e dúvidas, acabaria finalmente por erguer-se, já dedicada a São José, circunstância que levou à alteração do próprio nome da freguesia.
O autor explica ao Açoriano Oriental que, paradoxalmente, esta igreja demorou mais tempo a ser construída do que a ser utilizada, acabando por ruir e dando lugar, mais tarde, a um teatro destruído por incêndio, no espaço onde hoje se encontra o Jardim Padre Sena Freitas.
Apesar da imponência do templo, a população de Santa Clara nunca o sentiu plenamente como seu. A comunidade, descrita pelo autor como “aguerrida e profundamente identitária”, sempre preferiu manter-se próxima da sua antiga ermida, recusando substituir o espaço que lhes pertencia por uma igreja luxuosa no centro da cidade. No livro, esta tensão é retratada com detalhe, cruzando os factos conhecidos com episódios ficcionados que ajudam a preencher vazios da história, como a figura do “mouro da cova”, um vidente inventado pelo autor cujas profecias antecipam acontecimentos futuros.
O volume percorre ainda os grandes eventos do século XVIII que influenciaram diretamente a vida da freguesia: o terramoto de 1755, as reformas pombalinas, a aproximação inglesa aos Açores e a criação do primeiro cemitério inglês em Santa Clara. Este conjunto de acontecimentos moldou profundamente o tecido social e económico da região, dando origem ao contexto em que a comunidade lutou para preservar a sua identidade e recuperar espaços sagrados.
A apresentação do livro pelo padre José Paulo Machado é, para o autor, particularmente significativa. O sacerdote sucedeu ao padre Fernando Gomes, figura marcante durante 50 anos na vida da freguesia, e a transição entre ambos representa, segundo Pacheco de Melo, um gesto de continuidade e respeito que merece ser celebrado.
Quanto ao futuro, João Pacheco de Melo revela que o seu compromisso com a coleção está longe de terminar: o quinto volume já está praticamente concluído, o sexto encontra-se delineado em forma de esqueleto e o sétimo, dedicado ao século XXI, permanece o maior desafio por tratar de acontecimentos muito recentes e emocionalmente próximos. Apesar de admitir que a cabeça “fervilha” com mais três ou quatro projetos paralelos, o autor impõe-se agora uma disciplina rigorosa para concluir esta maratona literária de sete séculos, consciente de que cada novo livro é também uma forma de preservar a identidade, a memória e a vivência histórica de Santa Clara para as gerações futuras.
O autor enaltece igualmente a editora Predicado Inclinado pela colaboração e disponibilidade ao longo de todo o processo. Amanhã, o público terá oportunidade de mergulhar num dos capítulos mais ricos e tensos dessa história de Santa Clara.
