Autor: Lusa/AO Online
Em declarações à agência Lusa em Lisboa, onde hoje à tarde proferiu uma conferência organizada pela Fundação Champalimaud, de que é presidente do conselho científico, James Watson, 81 anos, classificou o cancro como o "santo Graal" da ciência humana.
"A guerra ao cancro foi declarada nos Estados Unidos há cerca de 40 anos", afirmou. "Será uma guerra de 100 anos, de 70 anos? Eu acho que será de 50 anos", acrescentou.
O cientista declarou-se "muito optimista" porque já "foi longo o caminho trilhado" e que a partir de agora "é preciso passar da compreensão à cura do cancro".
"Penso que agora conhecemos bastante bem o inimigo", sublinhou.
Interrogado sobre o papel da genética na luta contra o cancro, o cientista disse que ela por si só não cura, mas conduz à bioquímica e "para curar o cancro é preciso pensar em bioquímia".
"A genética diz-nos o que está errado", cabendo à bioquímica desenvolver medicamentos cada vez mais eficazes contra a doença, afirmou.
"Muitas pessoas não têm esperança e há razões para lhes dar esperança", garantiu.
Um dos motivos do seu optimismo é que o preço dos tratamentos genéticos está a baixar progressivamente, pelo que o seu custo deixou de ser um obstáculo, como era no passado.
"A chave não é o dinheiro, mas a determinação", sublinhou. "O cancro é um inimigo astuto e sofisticado, que exige repostas sofisticadas".
E "a cura não depende da sorte, mas de trabalho brilhante", prosseguiu, confessando ser isso que espera dos cientistas do futuro centro de investigação e tratamento de metástases da Fundação Champalimaud.
"Penso que é uma grande oportunidade para Portugal desempenhar um papel de liderança na cura e prevenção do cancro", concluiu.
A Fundação Champalimaud tem por objectivo juntar a investigação laboratorial sobre cancro com a vertente clínica na sua futura sede, na zona ribeirinha de Pedrouços, cuja abertura está prevista para Outubro de 2010, a coincidir com o centenário da República.
Será o primeiro centro de investigação e tratamento de metástases do cancro no mundo, a que se juntará um centro de neurociências e a aposta na área da visão, com um prémio atribuído anualmente.
Com uma reconhecida carreira científica, James Watson espera poder continuá-la pelo menos por mais cinco anos, a par do ténis, que diz jogar regularmente com uma raqueta que lhe foi oferecida pelo campeão Roger Federer.
Iniciou a formação aos 15 anos, na Universidade de Chicago, onde se licenciou em Zoologia aos 22 anos, e alcançou notoriedade em 1953 ao revelar, juntamente com o biofísico britânico Francis Crick e com base em trabalhos anteriores de Maurice Wilkins, a estrutura em dupla hélice da molécula do ácido desoxirribonucleico (ADN), o que valeu aos três o prémio Nobel da Medicina de 1962.
Membro da Academia das Ciências dos Estados Unidos desde 1962, chefiou o Projecto do Genoma Humano entre 1988 de1992 e dois anos mais tarde tornou-se presidente do "Cold Spring Harbour Laboratory", do qual é "chanceler emeritus".