Açoriano Oriental
Mota Amaral destaca contributo para construção da democracia
O antigo presidente do Governo dos Açores Mota Amaral destacou que Medeiros Ferreira, que hoje faleceu, é um dos construtores da democracia portuguesa e deixa também a sua "marca na construção da autonomia açoriana".

Autor: Lusa/AO Online

“É de facto um dos construtores da democracia portuguesa e manteve um percurso académico notável como professor e investigador no ramo da história contemporânea. E tudo isto fez com uma visão muito aberta e até mesmo apaixonada na vida e fascínio por esta nossa sociedade moderna cheia de desafios”, disse João Mota Amaral, em declarações à Lusa.

O antigo presidente da Assembleia da República disse ter conhecido Medeiros Ferreira no liceu, em Ponta Delgada, descrevendo-o como uma pessoa "bem-humorada, com humor fino, intelectual, às vezes um pouco cáustico, mas não corrosivo, sabendo juntar a uma análise inteligente dos problemas da sociedade e dos problemas políticos uma gargalhada que desanuviava e dava boa disposição a todos os que com ele privavam".

“É com muita pena que registo o falecimento do José Manuel Medeiros Ferreira. Nós conhecemo-nos no liceu. Fomos colegas nos últimos anos do liceu e ficámos amigos desde esta altura”, referiu, acrescentando que sempre teve uma grande admiração pelo percurso político "fulgurante" de Medeiros Ferreira, iniciado logo nos primeiros tempos da sua frequência na universidade, em Lisboa.

Mota Amaral recordou ainda o exílio de Medeiros Ferreira na Suíça, período durante o qual mantiveram "sempre" contacto.

"Não há dúvida de que o seu papel na construção da nossa democracia foi importante", frisou Mota Amaral, sublinhando, por exemplo, a adesão à comunidade europeia que "ele [Medeiros Ferreira] próprio subscreveu".

Mota Amaral salientou ainda o "empenho e a participação" de Medeiros Ferreira na "construção da autonomia açoriana", sobretudo pela sua "liderança na área socialista na revisão constitucional de 1997".

"E algumas das modificações introduzidas nesta altura tiveram na Assembleia da República uma liderança direta dele que fazem com que também tenha deixado a sua marca na construção da autonomia dos Açores, da qual era um firme defensor", acrescentou.

José Medeiros Ferreira, 72 anos, morreu hoje no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa. Nasceu no Funchal, a 20 de fevereiro de 1942, filho de pais açorianos, que o registaram em Ponta Delgada, cidade onde cresceu.

Licenciou-se em História pela Universidade de Genebra, em 1972, e doutorou-se em História Institucional e Política pela Universidade Nova de Lisboa, em 1991.

Foi ministro dos Negócios Estrangeiros do I Governo Constitucional, liderado por Mário Soares, e foi o responsável pelo pedido de adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia (CEE).

Em 1978, Medeiros Ferreira e outros elementos da ala direita e reformista do Partido Socialista (PS), como António Barreto e Francisco Sousa Tavares, saíram do PS para criar o Movimento Reformador ou Movimento dos Reformadores que, em 1979, se juntaria à Aliança Democrática (AD) de Sá Carneiro. Em 1981 acabaria por retirar o apoio à AD.

Em 1985, apoiou a criação do Partido Renovador Democrático (PRD), vindo a ser um dos seus nomes mais conhecidos. Voltaria, contudo, ao PS.

Foi deputado do Parlamento Europeu entre 1985 e 1989. Foi deputado à Assembleia da República (1995-2005), eleito pelo PS, como cabeça de lista do círculo dos Açores, nas eleições de 1995, 1999 e 2002.

Em fevereiro de 2006, demitiu-se dos lugares que ocupava na Comissão Política e na Comissão Nacional do PS.

 

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