Autor: Lusa/AO online
Em causa está o teto de endividamento do Estado federal dos EUA. Em 1917, como parte do processo político que resultou na entrada dos Estados Unidos na I Guerra Mundial, o Congresso definiu um limite para a dívida pública. O limite atual está nos 14,3 biliões de dólares (9,6 biliões de euros) – e já foi atingido em maio. Se o teto de endividamento não for aumentado, o Estado central não poderá financiar-se nos mercados. Normalmente, a elevação do teto de endividamento é uma mera formalidade. Este ano, contudo, os republicanos (que têm maioria na Câmara de Representantes, câmara baixa do Congresso) insistiram em associar o aumento do limite a cortes significativos na despesa pública e a uma redução importante do défice orçamental. Embora os democratas do Presidente Barack Obama concordem na necessidade de se reduzir o défice (que este ano deverá ultrapassar os oito por cento do PIB – mais, por exemplo, que o défice português), os dois partidos divergem quanto à dimensão e à origem dos cortes. Os republicanos opõem-se totalmente a qualquer aumento de impostos, enquanto o Presidente Obama insiste que qualquer consolidação orçamental tem de ser feita tanto pelo lado da despesa como da receita. O impasse prolonga-se há várias semanas, apesar de inúmeras rondas de negociações com Obama, John Boehner (líder republicano na Câmara dos Representantes) e Harry Reid (líder democrata no Senado). Embora o limite da dívida tenha sido atingido há mais de três meses, o governo norte-americano tem conseguido evitar uma situação de incumprimento graças a receitas fiscais acima do esperado e a operações contabilísticas para adiar alguns pagamentos. Alguns analistas nos EUA acreditam que o país poderá continuar a funcionar normalmente durante alguns dias ou até semanas depois do prazo de 02 de agosto. No entanto, o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, já advertiu que não conseguir um acordo antes de terça-feira terá consequências “catastróficas”.Entre essas consequências poderá estar uma situação de incumprimento – ou seja, os Estados Unidos deixarem de pagar aos seus credores. Isso poderia lançar os mercados financeiros globais (onde os títulos do Tesouro dos EUA continuam a ser a referência) no caos. Mesmo que os EUA não entrem em incumprimento, a impossibilidade de obter novos financiamentos poderia levar ao não pagamento de pensões de reforma ou dos salários de milhões de funcionários públicos e militares. As agências de notação financeira advertiram que, a menos que o impasse seja ultrapassado, a notação AAA (máxima) para o crédito dos EUA seria reduzida. “Há muitas crises que não se podem prever”, como desastres naturais ou ataques terroristas, disse na sexta-feira Obama, “mas a solução desta está nas nossas mãos”. A última proposta dos republicanos para resolver a situação foi entregue à Câmara dos Representantes - controlada pelos conservadores – e aprovada esta sexta-feira, mas o seu destino já estava selado: os democratas já tinham avisado, e duas horas depois chumbaram a proposta no Senado - controlado pelos democratas. A proposta que chegou pelas mãos do líder republicano na Câmara dos Representantes, John Boehner, e sugeria o aumento do teto de endividamento em dois momentos, o primeiro deles em troca de cortes na despesa, e seis meses depois após a aprovação de uma emenda à Constituição para estipular a obrigatoriedade de um orçamento equilibrado, sendo que esta última provocou a ira dos democratas que anunciaram desde logo o chumbo da proposta: “Esta é a sugestão mais vergonhosa que eu já ouvi”, rematou o Senador democrata Richard Durbin.