Autor: Carolina Moreira
Mais de uma centena de pessoas manifestou-se ontem de forma emotiva à porta do Centro de Apoio à Criança n.º 1, uma das três valências de creche da Casa do Povo de Rabo de Peixe, a pedir justiça e a “suspensão imediata” das quatro funcionárias acusadas pela instituição de maus tratos a bebés até aos três anos.
A Casa do Povo de Rabo de Peixe apresentou uma queixa-crime no DIAP da Ribeira Grande contra quatro funcionárias da creche, mas o Juiz de Instrução Criminal decidiu não aplicar medidas de coação de suspensão do exercício de profissão e, por isso, foram realocadas a outra valência da instituição.
A decisão gerou uma enorme revolta social junto dos pais e da comunidade da vila de Rabo de Peixe que ontem se manifestaram em peso pela “suspensão imediata” das auxiliares de educação e por justiça para as crianças maltratadas.
“Nós queremos que o Ministério Público as coloque em casa até sair a sentença! Se eu fosse advogada, se eu fosse presidente, se eu fosse de Ponta Delgada, essas funcionárias já estavam colocadas em casa. Mas como se trata de Rabo de Peixe e de filhos de pessoas simples que estão a trabalhar para sobreviver...”, explicou Lisandra, mãe de uma das crianças que foi vítima de maus tratos.
“Tem de haver justiça! Elas não podem sair impunes! Há duas noites que eu não durmo. Olho para o berço do meu filho e vejo as imagens do cabelo do meu filho a ser puxado”, confessou entre lágrimas.
Também Paulo, avô de outra criança maltratada, considera que “pessoas dessas não deviam trabalhar aí! Vim pedir justiça! Elas deviam ser expulsas e pagar danos morais às crianças”, realçou, visivelmente transtornado.
Entretanto, foi criada na quinta-feira uma petição “Pela Suspensão Imediata de Funcionárias Envolvidas em Maus-Tratos a Bebés em Creche da Casa do Povo de Rabo de Peixe” que, em apenas dois dias, reuniu cerca de 700 assinaturas.
A petição dirigida ao presidente do Governo Regional dos Açores, à Direção da Casa do Povo de Rabo de Peixe e à Junta de Freguesia de Rabo de Peixe considera que a transferência de funcionárias para outras valências da creche é “inaceitável e coloca em risco a segurança, o bem-estar e a integridade das crianças ainda ao cuidado desta instituição”.
O Açoriano Oriental pediu uma reação à Secretaria Regional da Saúde e Segurança Social que apenas revelou que “acompanha a situação e aguarda desenvolvimentos do inquérito entretanto aberto”. Mas o jornal sabe que o presidente da Casa do Povo de Rabo de Peixe, Carlos Estrela, já falou com Mónica Seidi sobre o caso.
Contactados também os antigos responsáveis pela Casa do Povo de Rabo de Peixe, negaram ter tido qualquer conhecimento de maus-tratos na instituição ao longo dos anos.
“Não recebi nada. Eu não estava a par disso”, disse o antigo presidente da Assembleia Geral da Casa do Povo de Rabo de Peixe. Segundo Eduardo Pereira, “o José Domingos (antigo presidente da direção) é que desenrascava essas coisas. Nunca foi mencionado a mim, nunca chegou nada às minhas mãos. Nunca ninguém se queixou a mim”, continuou.
Também Paulo Vieira, antigo secretário da direção, disse “desconhecer essa situação”. “Nunca houve nenhuma queixa que chegasse à direção”, afirmou.
O processo de inquérito está a decorrer junto do Ministério Público, na sequência da queixa apresentada pela instituição.