Autor: Carlota Pimentel
“Conheci a Rádio Voz dos Açores (RVA) antes mesmo de pôr os pés em Portugal pela primeira vez”, conta Isabella Bretz, correspondente internacional da RVA, que em 2014 resolveu sair do Brasil, tendo sido Portugal o destino escolhido “para viver outras experiências”.
Na altura, como tinha lançado um álbum recentemente, a mãe de Isabella Bretz enviou algumas músicas para diferentes rádios portuguesas, com o intuito de testar que receção teria o trabalho da filha.A primeira pessoa a responder foi Ildeberto Rocha, diretor da Rádio Voz dos Açores.
“Tinha pouco conhecimento sobre os Açores na altura, só sabia que eram ilhas no Atlântico”, recorda, “e conseguir chegar até à Terceira através da música deixou-me fascinada.”
Pouco tempo depois, Isabella Bretz e
a mãe visitaram a Terceira “e foi uma experiência inesquecível. Fomos
recebidas com um carinho imenso, como se estivéssemos a reencontrar
velhos amigos. Conhecemos a ilha, vimos as suas belezas e conhecemos os
sabores da sua comida… Tudo encantador. A minha sensação nessa viagem
foi a de um abraço”, destaca.
A amizade com Ildeberto Rocha “foi instantânea, conectamo-nos com muita facilidade” e foi nessa altura que o diretor da RVA convidou Isabella Bretz para ser correspondente da rádio no Brasil.
“Comprei alguns equipamentos de áudio e passei a gravar em
casa, já no Brasil, o meu próprio programa: Bella Hora. Através do
programa, conheci muitas pessoas que foram entrevistadas sobre os mais
diversos temas”, referiu a artista brasileira, adiantando que o “maior
desafio de ser correspondente foi, inicialmente, a questão técnica.
Mesmo sendo artista e tendo gravado várias vezes em estúdio, nunca tinha
sido a única responsável por toda uma produção de áudio. Eu criava o
roteiro todo, tratava de toda a gravação, edição/montagem, banda sonora,
curadoria de músicas e finalização. Fazer isso tudo foi uma grande
aprendizagem”, relatou.
Por outro lado, apresentar os Açores a quem
não conhecia era uma tarefa de “grande responsabilidade. Quem
acompanhava ou era entrevistado pelo programa costumava perguntar onde
era, como eram as coisas nos Açores… Pude ser, em parte, embaixadora da
Região, o que me deixou muito feliz”, sublinhou.
Segundo Isabella Bretz, os brasileiros, em geral, não tinham muita informação sobre os Açores, além “daquela ideia mágica de terras paradisíacas no meio do oceano”, mas, atualmente, “com as redes sociais a mostrar em tempo real tudo o que acontece, é muito mais fácil conhecer a Região, as suas paisagens e cultura. Comparativamente há 10 anos, hoje tenho muitos mais amigos que já visitaram uma ou mais ilhas. Vejo muito mais gente a manifestar o desejo de conhecer a Região, especialmente pelas suas belezas naturais”, diz.
Como correspondente da RVA no Brasil, entende
que manter viva a cultura açoriana no seu país “é essencial para
preservar a identidade e a história das comunidades que descendem dos
imigrantes açorianos, especialmente no sul do país. Essa herança
cultural enriquece muito a diversidade do Brasil, que é um país de
misturas. As tradições, festas, gastronomia e valores açorianos agora
são parte da nossa história também”, realça.
Na sua experiência com a
rádio, relata que “são muitos os factos ou características que geraram
interesse nos ouvintes. Além do áudio, como partilho sempre fotos e
vídeos das minhas visitas nas redes sociais, muitos aspetos visuais
geram curiosidade e admiração”, como por exemplo a quantidade de
hortênsias nas ruas da Terceira. “Muitas pessoas perguntavam-me se
nasciam ali naturalmente, se eram plantadas; outros diziam que pareciam
pinturas”, conta. Além disso, as “águas quentes de São Miguel, os
cozidos das Furnas, as histórias das bases militares dos EUA, o vulcão
no qual se pode entrar, a qualidade da comida, as festas de Carnaval, o
calor e o acolhimento das pessoas, como é a vida numa ilha” estão entre
as “muitas coisas que geram curiosidade e interesse do público.”
Para
a cantora, é impossível escolher uma memória ou história que viveu nos
Açores, pois tem “uma coleção imensa.” Recorda, com carinho, quando ia
dar o seu primeiro concerto em Angra do Heroísmo e “estava completamente
doente. Houve uma mobilização de vários amigos para que eu conseguisse
uma consulta, tomasse os remédios necessários para melhorar e
conseguisse dar o concerto. Quando acabei, já não saía a voz. Foi mesmo
uma loucura mas deu tudo certo”, relata.
Outra das memórias mais
emocionantes foi “quando fizemos o concerto com a Sílvia Torres nas
Portas da Cidade, com a praça cheia de locais e de turistas, numa noite
maravilhosa. Ficamos o dia inteiro na dúvida se ia chover. Nas últimas
notas da última música, as águas desceram sem dó. No meio dos aplausos
finais da plateia, corremos para proteger todos os instrumentos e
equipamentos de áudio. Ficamos todos ensopados, nós e o público, mas
extremamente felizes”, narra. E prossegue com uma das memórias “mais
preciosas”, quando, na sua primeira visita à Terceira, “o Ildeberto nos
levou a uma festa em casa da Anabela Faria, hoje também nossa amiga,
onde estavam os seus familiares e amigos, e alguém pegou na guitarra e
todos entoaram juntos “Chamateia”, uma canção tão especial que eu não
conhecia. Só de me lembrar, tenho novamente o sentimento de unidade e
aconchego daquele momento.” Quando a compositora pensa nos Açores, duas
palavras surgem na sua mente: “natureza e amor. Ter conhecido os Açores
foi como abrir um portal na minha vida, que enriqueceu muito a minha
história”, concluiu.
Isabella Bretz é cantora, compositora, produtora cultural e analista internacional
Isabella Bretz, 35 anos, nasceu em Belo Horizonte, no Brasil. Além de correspondente internacional da Rádio Voz dosAçores, é cantora, compositora, produtora cultural e analista internacional. É licenciada em Relações Internacionais e tem uma pós-graduação em Direito Internacional. Lançou cinco discos e um EP, estando atualmente a preparar o 6.º álbum. É coautora do livro “Conhecimentos de Áudio Para Cantores” e gestora do projeto “Audio For Singers”. É também cocriadora do “Sonora - Festival Internacional de Compositoras”.
Dedica-se a
pesquisas e vivências na lusofonia desde 2017, quando lancei o álbum
“Canções Para Abreviar Distâncias: uma viagem pela Língua Portuguesa”. O
“Abreviar Distâncias” já foi levado ao Brasil, Cabo Verde, Timor-Leste,
Islândia, EUA ou São Tomé e Príncipe. Em 2023, foi Mestre de Cerimónias
do Dia Mundial da Língua Portuguesa na sede da UNESCO, em Paris.