Autor: Lusa/AO Online
Contactado pela Lusa, por ocasião do III Fórum Nacional da Diabetes, que decorre no Sábado, Dia Mundial da Diabetes, José Manuel Boavida lembrou que esta é uma doença que afecta perto de 2,6 milhões de portugueses, entre diabéticos e pré-diabéticos.
De acordo com José Manuel Boavida, com base no primeiro estudo nacional de prevalência da doença, integrado no programa, 11,7 por cento da população nacional tem diabetes (dentro destes, seis por cento sabe que tem a doença, enquanto 5,7 por cento desconhece por completo) e 23 por cento tem pré-diabetes, ou seja, tem risco elevado de vir a ter a doença.
Manuel Boavida sublinhou que o elevado número de casos não diagnosticados se deve ao facto de esta ser uma "doença silenciosa, quase sem sintomas", onde os primeiros sintomas são "muito leves" e aos quais as pessoas se adaptam.
"Não há uma política activa de análise de rotina nas pessoas saudáveis", referiu.
No entender do coordenador do programa nacional de prevenção e controlo da Diabetes, este é um cenário "perigoso" porque o que vai acabar por conduzir a um diagnóstico serão as complicações decorrentes da diabetes, como as lesões nos olhos, nos rins ou as amputações das extremidades do corpo.
"Para que a diabetes não cause estas complicações é preciso uma política de detecção activa da diabetes que tem de ser feita por todos ao nível dos cuidados primários, da medicina do trabalho e ao nível de campanhas de rastreio sistemático junto de toda a população", defendeu.
José Manuel Boavida sublinhou que quem se dirige aos centros de saúde são as pessoas que já têm queixas e que é preciso conseguir chegar junto das pessoas que estão fora do circuito médico.
"A medicina do futuro tem de ir à procura das pessoas que têm a tensão alta, que têm diabetes, que têm colesterol elevado, a fim de evitar as complicações, os sofrimentos e os altos custos que isto tem para o serviço nacional de saúde", defendeu, acrescentando que cerca de 30 por cento do total de enfartes do miocárdio e dos Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC) ocorrem em diabéticos.
"Os custos da diabetes e aquilo que assusta toda a gente vêm de um diagnostico tardio destas situações e de uma incapacidade no acompanhamento correcto, rigoroso e sério destas pessoas ", disse.
Nesse sentido, adiantou, foram já cumpridos dois dos principais objectivos do programa nacional de prevenção e controlo da Diabetes, em marcha desde há dois anos.
Por um lado, apontou José Manuel Boavida, conseguiu saber-se quantos diabéticos existem em Portugal e, por outro, foi possível saber como é que estão a ser vigiadas as complicações da diabetes.
José Manuel Boavida adiantou ainda que durante 2010, o programa espera pôr em marcha a consulta de diabetes em todos os centros de saúde e a informatização do registo dos dados dos centros de saúde.
"Estes dois instrumentos podem-nos fazer conseguir chegar a um tratamento melhor e a uma identificação mais precoce dos diabéticos nos cuidados primários e a um tratamento das complicações mais atempado com um rastreio das complicações ao nível dos hospitais", adiantou.
Durante o próximo ano, o coordenador do programa nacional de prevenção e controlo da Diabetes espera ainda que seja implementado a nível nacional o rastreio sistemático dos olhos e a constituição de consultas de pé diabético, a fim de evitar amputações.