Autor: Nuno Martins Neves
A Região Autónoma dos Açores não tem apenas a taxa de mortalidade por cancro mais alta do país, como tem vindo a crescer desde 2020, em contraciclo com o que acontece no continente e na Madeira. Esta é uma das conclusões plasmadas na auditoria intitulada “Estratégia Regional de Prevenção e Combate às Doenças Oncológicas” que a Secção Regional dos Açores do Tribunal de Contas (SRATdC) publicou na semana passada.
O documento do SRATdC revelou que os Açores, “considerando
todas as idades e ambos os sexos”, têm a mais alta taxa de mortalidade
por cancro do país, tanto bruta (281,9 por 100 mil pessoas) quanto
padronizada (192,6 por mil pessoas), apesar de terem a população mais
jovem, mas, simultaneamente, a que “dispõe de menor esperança média de
vida à nascença”.
E se este valor não é propriamente novo - a
tendência verifica-se, desde, pelo menos, 2017 - há um dado que ressalva
como significativo: enquanto no Continente e na Madeira ambas as taxas
de mortalidade estão em quebra desde 2020, nos Açores o cenário é o
oposto, com o sentido a ser de subida, “em contraciclo com a tendência
registada no resto do país”, assinala o documento.
E a comparação, feita pelo auditor, compreende o período temporal entre 2017 e 2023, não contabilizando o último ano, que na Região ficou marcado pelo incêndio do HDES e consequentes ondas de choque pela saúde dos açorianos, com diminuição de toda a atividade hospitalar, especialmente no que aos meios complementares de diagnóstico e terapêutica dizem respeito.
Quanto
aos novos casos, a caracterização que é feita revela que, entre 2017 e
2023, a faixa etária mais afetada foi a com 60 e 74 anos, com 41%,
seguido das pessoas com mais de 75 anos (27%), e da faixa etária entre
os os 45 e 60 anos (18,3%).
Ou seja, 86,3% dos novos casos diagnosticados neste período ocorreram a pessoas com 45 ou mais anos.
No entanto, comparando com os números da Madeira e de Portugal Continental, os casos de cancro registados em pessoas com idade igual ou superior a 45 anos foi de 93%., mais 6,7 pontos percentuais que nos Açores.
Ou seja, “nos Açores, o cancro atinge faixas mais jovens da população, matéria que poderá vir a ser objeto de análise no âmbito do estudo sobre as causas de cancro nos Açores, atualmente em curso”, refere a auditoria.
Um estudo, encomendado em dezembro de 2018 e que tinha um prazo de execução de 3 meses, mas que em 2025 continua por estar concluído, um atraso fundamentado pela pandemia de Covid-19 (que só começou em março de 2020, ou seja, um ano e três meses depois da outorga do estudo à Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra). De acordo com a entidade responsável pelo estudo, o mesmo foi retomado em 2022, mas ainda não está finalizado.
A auditoria também revela que a faixa etária com maior incidência de cancro é entre os 60 e os 74 anos, tanto nos homens (805 casos, o correspondente a 45,8% da totalidade) e mulheres (608 casos, 36%).
Contudo, até aos 59 anos, as
mulheres apresentam taxas de incidência sempre superiores aos homens
(exceção à faixa 15-29 anos), nalguns casos o dobro, como na faixa
etária 30-44 anos, com 248 casos, contra 117 casos dos homens. A partir
dos 60 anos, há uma destaca prevalência de tumores no sexo masculino,
quase sempre a rondar o dobro.
Por sexo, o cancro com mais incidência
nas mulheres foi o da mama (448 casos, 26,5% do total), seguido da
tiroide (108 casos), corpo do útero (86). Estes três tipos de tumores
significam 38% dos novos casos de cancro diagnosticados.
Nos homens, o cancro da próstata é o mais prevalente, com 279 casos (15,9%), seguido do cancro da traqueia, brônquios e pulmões, com 185 casos (10,5% do total) e o cancro do cólon e reto, com 135 casos (7,7% do total). Estes três tipos de cancro correspondem a mais de um terço dos novos casos.