Autor: João Cordeiro
Os duetos e as colaborações entre artistas são tão antigas como a indústria da música, e têm, quase sempre, o objetivo de aumentar a audiência dos artistas e consequentemente as vendas.
Mais recentemente – na verdade já foi há quase 10 anos – uma operadora de telecomunicações celebrizou em Portugal os duetos improváveis, aliando, numa publicidade bem-sucedida, o fado ao heavy metal, a música pimba ao rock, ou o hip-hop à música para crianças, em torno de uma interpretação de um tema dos Beatles: “All Together Now” (pronto, agora já todos perceberam que era a publicidade da Optimus).
Nestes duetos improváveis, destacava-se sempre o carácter insólito e – apesar de musicalmente muito interessante – o resultado era sempre hilariante.
O álbum que trago aqui hoje é insólito porque junta mundos muito diferentes, mas o resultado não tem piada nenhuma. Quanto muito, é capaz de sacar uma lágrima.
Mas vamos ao princípio. Jorge Novo mora em Viseu. Tem 61 anos, é sacristão e sempre gostou de cantar fados tradicionais. O Rui Sousa tem uma banda que se chama Dada Garbeck, o João Pedro Silva toca nos The Lemon Lovers e o Gonçalo Alegre pertence aos Galo Cant’às Duas. Têm todos idade para ser filhos do Senhor Jorge Novo.
Um dia – mais concretamente, uma noite – dá-se o encontro que despoletou este projeto improvável: Rui Sousa está em Viseu, para tocar no órgão de tubos da Igreja da Misericórdia, no âmbito de uma residência artística. É noite de estreia. Jorge Novo também está lá. Para assistir, presumo. Mas corre a informação que o sacristão canta muito bem o fado, e Rui Sousa pede-lhe que cante.
Podia ter sido mais um momento como tantos outros, com mais ou com menos sinceridade: “Canta muito bem, sim senhor”, e ficava tudo por aí.
Mas houve qualquer coisa que despertou o interesse de Rui Sousa naquela voz. Ou naquela pessoa.
Depois, Rui Sousa chamou reforços da sua idade e passaram uma semana com o senhor Jorge Novo a cantar fados tradicionais com teclados, beats, guitarra elétrica, contrabaixo e sintetizadores em vez de guitarras portuguesas.
Assim nasceram os Senhor Jorge. Tudo isto ainda em 2018.
No ano seguinte surgiram os primeiros temas originais, e agora, em 2021, o primeiro álbum. Um EP com cinco canções poderosas sobre amor, ternura, perda, tristeza e amargura.
As músicas são de uma beleza desconcertante, os poemas atuais e profundos, mas é a voz sincera, por vezes descuidada na pronúncia das palavras e na técnica, que prende a atenção desde o primeiro momento da primeira canção.
Cada palavra de Jorge Novo é verdadeira e emotiva.
Será que o Senhor Jorge e os jovens que o acompanham já conhecem os
Açores? Vá lá, quando os teatros voltarem a abrir, alguém que traga cá o
Senhor Jorge. O concerto até pode ser numa Igreja. Ele vai sentir-se em
casa.