Autor: Nuno Martins Neves
Criada em 1930, a Sociedade Filarmónica Dr. Armas da Silveira foi, durante décadas, o centro cultural e social de Santa Cruz das Flores. “Diria mesmo, de toda a ilha”, acrescenta Hélio Fraga, antigo membro da direção e membro da filarmónica. Hoje, com 67 anos, integra como suplente a lista dos novos órgãos sociais que procuram reerguer a instituição do coma em que caiu desde o final da década de 90, primeiro com o fim da filarmónica, em 1996, e depois com o extinguir da sociedade, em 2021. Impulsionado por Cecília Estácio, deputada regional eleita pelo PSD/Açores e uma “apaixonada pelo associativismo”, a Sociedade Filarmónica Dr. Armas da Silveira vai ter no próximo dia 16 de fevereiro a sua primeira assembleia-geral em quatro anos, onde será empossada a nova direção.
Para Cecília Estácio, a “dor de alma que é ver o edifício, situado no coração da vila de Santa Cruz” foi o mote para começar a arregimentar quem quisesse ajudar a recuperar a sede e a instituição.
“É um espaço que está muito mal aproveitado e nós queremos reabrir, reerguer e devolver a sociedade a Santa Cruz, pois é um local emblemático da vila”.
Emblemático e com muito potencial, acrescenta: “Quando chegamos aqui e vimos o potencial do edifício e vimos o estado em que estava, sentimos pena. Há falta de espaços em Santa Cruz para efetuar atividades, temos recebido muitos pedidos de famílias para realizar eventos”.
As ações de limpeza já começaram e no seu interior encontraram um espólio em avançado estado de decomposição, fruto da chuva que cai “como se estivesse na rua”.
Recuperar a lista de sócios foi um desafio, mas aos poucos “conseguiu-se” e agora o próximo passo será a assembleia-geral.
O objetivo principal, diz Cecília Estácio, será recuperar o edifício, que poderá ter múltiplas funções, podendo até servir de espaço de acolhimento para grupos que venham às Flores.
“O nosso principal objetivo é recuperar o edifício, que precisa de obras. E depois gostaríamos, com algum tempo e com as pessoas que vão fazer parte da direção, pensar em criar algo em termos musicais. Talvez não uma filarmónica, mas começar com algo mais pequeno”.
O empenho que
Cecília Estácio e os elementos mais novos da direção estão a aplicar tem
entusiasmado os outros membros, com mais experiência.
“É um trabalho conjunto e vemos que os mais velhos estão entusiasmados, por verem uma nova vida a este espaço. Estamos a tentar aliar o conhecimento que têm do que aqui acontecia, com a vontade de trabalhar e disponibilidade dos mais novos”, diz.
“A Cecília está entusiasmada e acho muito bem. Este é um espaço que diz muito à minha geração e seria muito importante, mesmo para a nossa ilha”.
Dos sócios que deixaram sangue, aos bailes que animaram a ilha
Apesar de fundada em 1930, a Sociedade Filarmónica Dr. Armas da Silveira só viria a ocupar a sede atual na década de 60. Aé então, era num pequeno espaço no Convento dos Franciscanos, recorda Hélio Fraga. “Tinha 10 anos e lembro-me do senhor José Miguel, cantoneiro da Câmara, abrir a janela da sede e tocar o cornetim para chamar os músicos para o ensaio”.
Só em 1965 se iniciou a construção da sede, aproveitando a presença da empresa de construção civil Augusto Santos - “que veio para construir o hospital, as casas e o hotel dos franceses”. Noutros tempos, os sócios meteram a “mão na massa” e ajudaram a levantar a obra. Tanto, que houve um que “caiu e chegou a partir a perna”.
Inaugurado em 1965,
rapidamente se tornou o local de eleição da ilha. “Trouxe muita coisa a
Santa Cruz: fazia-se muitos bailes lá, de Carnaval, de fim de ano, havia
um chamado Baile da Pinha, na Quaresma”. Além da filarmónica, também o
conjunto Ecos do Ocidente anivam os bailes. “Nessa altura, era o centro
cultural de Santa Cruz, das Flores mesmo!”.