Autor: Lusa/AO online
"É claro que, antes de mais, esta decisão entristece-nos muito", declarou o chefe de Estado turco, durante uma conferência de imprensa conjunta com o seu homólogo ucraniano, Petro Poroshenko, em Kiev.
As relações diplomáticas entre os Estados Unidos e a Turquia atravessam um momento de forte tensão, após as autoridades turcas terem detido e acusado, na última quarta-feira, um funcionário turco do consulado norte-americano de Istambul de ter ligações ao clérigo Fethullah Gülen (ex-aliado do Presidente turco e atualmente exilado em território norte-americano), que o governo de Ancara responsabiliza pelo golpe de Estado fracassado em julho de 2016.
As autoridades turcas acusaram o funcionário consular do crime de espionagem.
Em reação às movimentações judiciais turcas, Washington anunciou, no domingo, a suspensão temporária de emissão de vistos na Turquia, medida que recebeu uma resposta pronta de Ancara, que decidiu cancelar igualmente a emissão de vistos a cidadãos norte-americanos.
"A Turquia é um Estado de Direito. Não somos uma tribo, não somos um Estado tribal", acrescentou Erdogan na capital ucraniana para explicar a reação de Ancara à medida norte-americana.
E frisou que "de forma recíproca", a Turquia suspendeu a emissão de vistos a norte-americanos "utilizando como base o mesmo texto" que foi publicado na rede social Twitter pela embaixada dos Estados Unidos em Ancara.
A nota divulgada pela embaixada justificava que "os recentes desenvolvimentos obrigaram o governo dos Estados Unidos a reavaliar o compromisso do governo turco com a segurança das representações dos Estados Unidos e respetivos funcionários".
A Turquia exortou hoje Washington a recuar com a decisão de suspender a emissão de vistos, mas a divulgação (também hoje) da convocação para interrogatório de um segundo funcionário do consulado de Istambul pelas autoridades turcas poderá dificultar qualquer passo nesse sentido.
Esta "guerra dos vistos" entre Ancara e Washington surge após meses de uma crescente tensão entre os dois países no seio da NATO, em parte por causa de visões discordantes sobre a guerra na Síria e de vários processos judiciais nos Estados Unidos que envolvem nomeadamente elementos da segurança do Presidente Recep Tayyip Erdogan e um ex-ministro turco.
Também a agravar o mal-estar entre os dois países aliados está a exigência da Turquia, até hoje sem sucesso, da extradição de Fethullah Gülen, que está exilado nos Estados Unidos desde finais da década de 1990.
Em março passado, um funcionário turco do consulado norte-americano em Adana (sul) foi detido e acusado de apoiar o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK, separatistas curdos), uma organização classificada como "terrorista" por Ancara, Washington e a União Europeia.