Autor: Lusa / AO Online
Nas portarias das empresas, nas instituições de solidariedade, nos hospitais e até nas prisões acumulam-se toneladas de alimentos, roupas e brinquedos recolhidos por indivíduos ou organizações com o objectivo de multiplicar os sorrisos.
As crianças são os grandes destinatários destas iniciativas, numa época em que as organizações de solidariedade de multiplicam em eventos com um único objectivo: angariar fundos e produtos para distribuir pelos mais necessitados.
Toda esta generosidade não surpreende o sociólogo Boaventura Sousa Santos que, em declarações à agência Lusa, lembrou que esta é a força da sociedade providência.
“Em Portugal, o Estado providência é fraco. As políticas sociais de apoio às famílias e ao desemprego têm um nível mais baixo do que na Europa. Essa é a fraqueza do Estado providência”, explicou.
Para o sociólogo, “essa falha do Estado é compensada, em parte, pela força da sociedade providência, que é a capacidade, entre as famílias e na vizinhança, de se ajudarem umas às outras nos momentos de crise, seja no desemprego, quando há um acidente ou na doença”.
Boaventura Sousa Santos lembra que Portugal tem várias formas de demonstrar essa união, como, por exemplo, ao nível do acompanhamento dos doentes nos hospitais.
“Temos os índices mais elevados de visitas aos hospitais de famílias, vizinhos, amigos, quando alguém fica doente”, exemplifica.
Temos ainda “a taxa mais forte da Europa de pais que contribuem com o sinal ou a primeira prestação das casas dos filhos quando estes casam”, continuou.
Sobre a solidariedade natalícia, o sociólogo considera que é uma época do ano em que “os sentimentos se tornam mais visíveis, embora existam todo o ano”.
“Esse potencial existe na sociedade, mas em certas ocasiões, como o Natal - que é festa mais simbólica dos portugueses e das famílias portuguesas -, vem ao de cima com mais força”, considera.
Boaventura Sousa Santos lembra que “o facto de estarmos num período de crise económica faz lembrar àqueles que estão em menos crise os que estão pior”.
“Há aqui um motivo de solidariedade adicional, que é a situação económica de muitas famílias”, frisou.
Para o sociólogo, este é “o verdadeiro espírito natalício, bem mais interessante do que passar horas nos centros comerciais, feitos zoombies, à procura de prendas”.