Açoriano Oriental
“O Santa Clara é o projeto da minha vida”

Bruno Vicintin Novo presidente da SAD do Santa Clara veio para ficar e quer humildade e ambição na equipa


“O Santa Clara é o projeto da minha vida”

Autor: Henriques Linhares/Nuno Martins Neves

Quando é que começou a surgir o interesse em investir no Santa Clara?
Eu trabalhei durante  6 anos de forma voluntária no Cruzeiro SC. É um dos clubes da cidade onde eu  moro. Estive 3 anos e meio na formação e 2 anos e meio na  equipa sénior. Sempre me impressionou o mercado português, porque via atletas da formação do Brasil que saíam sem aproveitamento, vinham para Portugal e tinham um sucesso muito grande. Quando saí do Cruzeiro, comecei a vir bastante a Portugal, para conhecer. O meu pai investiu no Alverca, onde tentei ajudar da forma que dava, apesar de nunca ter tido um cargo oficial. Adquiri um know how no futebol e tive o sonho de ter um clube para mim. Quando fiquei sabendo da instabilidade na SAD do Santa Clara, interessou-me muito porque era um clube que vinha de ótimos resultados dentro de campo nas últimas duas temporadas, com instabilidade fora... Comecei a estudar, começamos a conversar e o resto foi o normal, conseguimos fechar o negócio. Estou muito feliz.

O facto do Santa Clara estar a fazer boas prestações também pesou na sua decisão?
Claro. Vários atletas que trabalharam comigo jogaram no Santa Clara. Sempre acompanhei este projeto de forma mais próxima. Bruno Lamas, Jean Patric, Allano, todos trabalharam comigo na formação do Cruzeiro e depois vieram para cá. O que me chamava a atenção era que o Santa Clara captava muito bem no mercadoe formava boas equipas. Isto chamou-me a atenção e queria entender o porquê do sucesso do Santa Clara.

Avaliando o potencial do Santa Clara: até onde acha que o clube pode chegar?
Temos de ser humildes para fora e ambiciosos para dentro do clube. O nosso objetivo principal, não só para a próxima temporada onde temos o desafio de montar uma nova equipa, é a manutenção do Santa Clara. Esse é o desafio. O povo açoriano lutou muito para o Santa Clara ter uma equipa na 1.ª Divisão, para ser o espelho dos Açores no futebol português e europeu. Este é o primeiro objetivo. Eu podia chegar aqui e prometer a Champions League, mas a única coisa que posso prometer é trabalho e acho que trabalhando certo, temos condições para sonhar muito alto.

Este é o objetivo a médio prazo? Chegar a competições europeias?
Sim. Temos de sonhar em chegar as competições europeias. Aliás, já chegamos e mostramos que era possível. A médio prazo! O objetivo para esta temporada é a manutenção. Nós estamos com um clube que perdeu oito atletas. O mister Mário Silva tem o desafio de remontar  uma equipa.
Os dois mercados que mais domino são o português e o brasileiro. As melhores oportunidades de negócio no mercado português, até pela negociação com a SAD, já passaram. Até conseguimos contratar o Andrézinho, que é um jogador interessante. Mas os melhores da II Liga, que estavam disponíveis, quando chegamos a SAD  já tinham ido. Por isso estamos concentrados em resolver os problemas mais urgentes no mercado brasileiro. Mas o Santa Clara não vai ser um clube de um mercado. O Santa Clara, a intenção é que seja um clube mundial, com uma captação e scouting forte em todos os mercados.

Conta com o treinador Mário Silva?
Sim, conto. Veio de um trabalho excelente. Inclusive há mérito do clube, do presidente  Ricardo Pacheco que lutou tanto pela renovação dele. O Mário Silva conta com a minha total confiança e apoio. Vai ser uma temporada desafiadora para todos nós, porque temos de concertar o carro em andamento. Temos  que reforçar a equipa no final da janela [de transferências], mas penso que estamos a adquirir  bons valores. Confiamos no mister Mário Silva, que no ano passado fez um belíssimo trabalho. A intenção da SAD é que ele continue por muito tempo.

Contratou Rildo por um valor bastante significativo. Não era usual no Santa Clara. A vinda de Vicintin traz esse músculo financeiro?
Posso falar que o Santa Clara mudou o modelo de contratações. Falando no Rildo: é um jogador que vem do Grêmio, uma das maiores promessas daquele clube. OSanta Clara tem um histórico de sucesso com jogadores do Grêmio: o Lincoln, principalmente, foi uma das maiores promessas da formação do Grêmio. O Rildo vem fazendo uma belíssima Série B. Só conseguíamos tirá-lo do Bahia se fizéssemos um investimento mais alto. Óbvio que temos de ser conservadores no mercado, mas devido ao momento e à necessidade da equipa, decidimos ser mais agressivos. Se isso vai ser o usual, aí depende das oportunidades que apareçam. Sempre vamos tentar fazer o melhor para a instituição.

O Santa Clara é um clube sem infraestruturas próprias. É algo que quer ver resolvido?
Todos os clubes portugueses que lutam para as ligas europeias têm duas semelhanças, que são o investimento na formação e nas infraestruturas. Portanto, é uma receita de bolo que vamos tentar seguir no Santa Clara. Óbvio que é preciso tempo, não se consegue esse sucesso em curtíssimo prazo, mas é a nossa intenção e temos algumas questões que estamos falando com o presidente Ricardo Pacheco, sobre ter um complexo de treino para a formação e para a SAD, ou um para cada. Vamos ter de falar com o Governo, porque tudo o que puder apoiar, nomeadamente em terreno, vamos precisar. Mas posso falar que a nossa intenção é investir, principalmente, em infraestruturas e formação. É o nosso ADN.

O Governo atribui anualmente o montante de 1 milhão de euros ao Santa Clara. Já se reuniu com alguém do executivo açoriano?
Nós estamos muito próximos do presidente Ricardo Pacheco e temos vindo a apresentar-nos ao governo. Sabemos que um dos pontos que manteve o Santa Clara é a ajuda não só do Governo, como de todos os açorianos. Quando saio à rua, vejo o orgulho do povo açoriano, até já me conhecem como dono do Santa Clara. É uma das grandes bandeiras dos Açores na Europa, no mundo e na Diáspora. Há sucesso quando todos no local trabalham a favor - pois os jogadores passam, os treinadores passam, os dirigentes passam, mas a instituição fica. Se todos tiverem remando para o mesmo lugar – e eu vejo uma vontade disso em todos os açorianos e que não era o que sempre aconteceu – há sucesso e é por isso que estamos aproximando do clube, escutando o que precisam da SAD. Não preciso só do apoio do Governo, mas de todos os Açores, pois é uma bandeira nossa.

Falou que quando sair, o Santa Clara vai estar muito melhor do que quando chegou. Há um prazo para estar na SAD?
Eu posso morrer amanhã (risos) mas não tenho intenção nenhuma de sair dos Açores. O que eu disse é que todos nós vamos passar. Se passasse hoje, o relacionamento entre SAD e Clube já estaria melhor do que quando cá cheguei. O Santa Clara, para mim, é o projeto da minha vida e eu não pretendo falhar.


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