Açoriano Oriental
Natal será sempre Natal

É um exercício deveras nostálgico este de escrevinhar uma crónica natalícia… Num esforço de memória, em que os sons e os cheiros assumem um papel preponderante, vejo, com nitidez e até atualidade, as imagens dos vários Natais passados, tão diferentes quanto diferentes as circunstâncias em que foram vividos. Podia isto até ser paradoxal, na medida em que é a época dos rituais e da tradição por excelência, não fossem os seus denominadores comuns: o nascimento de Jesus e a sua celebração em família. Com mais ou menos presentes, com mais ou menos enfeites, com mais ou menos gente à volta da mesa.

Natal será sempre Natal

Autor: AO Online

Relembro com tanta saudade que doeria, não fossem as lembranças tão doces, dos Natais no tempo da Avó Luísa. Da alegria e da generosidade com que levava a cabo todos os preparativos para nos proporcionar uma Consoada à altura daquilo que nos julgava merecedores, ignorando que foi sempre ela a que mais mereceu o amor que ali se sentia. As orações assumiam a forma de pequena peça de teatro que a própria escrevia, ensaiava e aplaudia. A presença da receita do seu inigualável recheio de peru nas mesas de cozinha dos seus filhos por estes dias é a evidência maior de que continua presente.

Já no próprio dia de Natal, a festa era dos “Baldayas”, como de resto continua a ser, antes em casa da Avó João, agora em casa dos meus pais. Em casa da Avó João era um reboliço delicioso: doze netos, outros tantos tios, outros tantos amigos, tudo à volta da figura da matriarca da boa disposição. Também havia lugar a pequenas representações, sempre cómicas, e a gargalhada mais sonante era sempre a dela. Naquela casa sempre houve lugar para mais dois ou dez porque, na verdade, as casas são como é quem as habita.

Em casa dos meus pais, era Natal desde o verdadeiro dia da Mãe - dia da Nossa Senhora da Conceição. Era o dia de fazer a Árvore e o Presépio e dali para a frente só se ouviam as clássicas músicas natalícias, nas versões de que não prescindo venham milhentas novas e até melhores. Na manhã de 25 não tem que enganar, é sagrado até hoje: Música no Coração em frente à Televisão, para regozijo meu e da minha mãe e bocejos do meu irmão e do meu pai. É neste núcleo de quatro que preservo as melhores recordações, sobretudo depois da vinda do meu irmão. Teria sido ele o meu melhor presente de Natal, não tivesse nascido em setembro. Assim, foi o melhor presente da vida.

Este ano o Natal será a quatro e este resguardo é a maior manifestação de carinho que darei a cada um dos meus com quem, com muita pena, não estarei. O Natal não é, de facto, como era, sobretudo no ano que agora se aproxima do fim, mas cabe a cada um de nós mantê-lo na sua essência, privilegiando o mais importante: a família, em segurança. A todos os leitores, a quem já tinha saudades de me dirigir, os meus sinceros votos de um Santo Natal, com muita saúde e renovada esperança num 2021 mais próspero, mais pleno e mais feliz.


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