Autor: Susete Rodrigues/AO Online
Nordeste foi dos concelhos mais afetados pela pandemia, tendo-se registados 12 mortes. Foram dias difíceis e tristes?
Sim. Julgo que o maior desafio, até ao momento, foi aquela fase. Foi uma fase muito dura, muito difícil, com muita incerteza, com algumas dificuldades, mas graças à união do esforço das instituições, da delegação de saúde e da Direção Regional de Saúde conseguiu-se o objetivo de estagnar a situação complicada que se vivia.
Naquela ocasião qual foi a decisão mais difícil teve de tomar?
A decisão mais difícil naquela altura foram as declarações públicas que dei, já num momento de desespero para que o lar de idosos fosse encerrado porque estava a ver, de dia para dia, a situação a complicar-se. Foi o momento mais difícil, foi um momento em que tive que fazer chegar a nossa pretensão a quem de direito. Estava a ver a situação a complicar-se muito, havia a intenção dos funcionários que estavam no lar de o abandonar porque já estavam saturados, não só a nível físico como também mental. Foi-lhes pedido um pouco mais de calma e aí tive que tomar outras medidas e acabou tudo por encaminhar-se para o que se pretendia.
O Nordeste foi dos últimos concelhos a ‘abrir as portas’, como decorreu este processo?
(…) Foi uma decisão em conjunto e necessária atendendo que o concelho foi o mais afetado. Por uma questão de prevenção optou-se por se realizar o desconfinamento mais tarde e o tempo veio dar-nos razão porque o esforço que fizemos acabou por ser um ganho futuro. Neste momento o Nordeste não tem problema nenhum, a situação está controlada e o concelho está lentamente a voltar à sua normalidade.
Quais foram os setores mais afetados no concelho?
Penso
que todos os setores foram afetados, não só no Nordeste como também a
nível dos Açores, de Portugal Continental. Toda esta situação de
pandemia acabou por tomar proporções que nunca pensamos. Em dias de
minha vida nunca pensei em passar por uma situação dessas. Apesar da
construção civil não ter ‘fechado’, apesar dos serviços do comércio
alimentar e outros também não terem encerrado, indiretamente esta
situação acaba por prejudicar todos, porque penso que a seguir às
medidas que estão a ser tomadas e, não agourando dias piores, o
desemprego vai aumentar na Região, galopantemente. (...) Tem-se dito e é
verdade, os Açores e, no caso concreto, São Miguel estão muito virados
para o turismo e ainda bem, mas há muitos investimento que foram
realizados por microempresas, empresas familiares e também por grandes
empresas, que dependiam quase em exclusivo do turismo. A nível do
concelho do Nordeste, a falta do turismo é preocupante, pese embora já
se notar alguns turistas de Portugal Continental e de outras ilhas, mas
nada do que estávamos habituados. No entanto, não podemos parar e
aguardar por uma vacina porque não sabemos quando haverá. Por isso, com
todo o cuidado temos que continuar a viver, a produzir e a trabalhar.
Na sua opinião, para quando uma retoma do turismo para números de anos anteriores?
Na minha opinião e, segundo o que tenho constatado, uma retoma provavelmente só acontecerá quando houver uma vacina ou então, se os dados continuarem a evoluir positivamente e atendendo ao tipo de turismo futuro que as pessoas vão querer depois destes desconfinamentos, em que acredito que serão locais como os Açores, nomeadamente o concelho do Nordeste, zonas mais calmas, zonas verdes, que serão procuradas. (...) De qualquer das formas, a meu ver, enquanto não houver a vacina, a retoma não será igual; correndo bem e chegando a possível vacina, talvez para inícios de 2022 haja uma retoma significativa.
A autarquia do Nordeste avançou com medidas de apoio às famílias e às empresas na altura do confinamento. Essas medidas mantêm-se?
As medidas foram
para aquela fase. Como se sabe a Câmara do Nordeste está em reequilíbrio
financeiro e não foi fácil conseguir autorização do Fundo de Apoio
Municipal (FAM) para conseguirmos verbas para aquelas situações.
Queremos e muito ajudar a população mas também não queremos colocar em
risco o caminho que se está a fazer na autarquia para que no futuro se
possa aliviar os impostos às famílias e para que se possa retomar alguns
investimentos importantes. No entanto, fizemos aquilo que era possível,
apoiamos as instituições, apoiamos a população na fase da pandemia
desde alojamento, alimentação, compra de material de proteção para as
várias instituições; conseguimos durante três meses, através da empresa
municipal, uma isenção para as empresas, comércio e famílias. Agora,
nesta nova normalidade estamos atentos e a ver aquilo que vai ser
possível fazer caso a situação se complique no futuro.
Realçar que a Câmara de Nordeste, através do Fundo Municipal de Emergência, tem apoiado as famílias como nunca, porque sabemos que há famílias com dificuldades. Têm sido assuntos levados às reuniões de Câmara e aprovados por unanimidade, não só a nível do fundo de emergências mas também em termos de habitação degradada porque é uma forma de fomentar pequenas obras e fazer com que continue a construção civil. Ir-se mantendo alguma dinâmica é importante para as nossas empresas e também para manter a mão-de-obra que neste momento está nas empresas de construção civil.
No que diz respeito aos empresários concelho, estão satisfeitos com as medidas de apoios anunciadas pelos governos dos Açores e República?
O que tem-me chegado dos comerciantes é que
existe muita burocracia para acederem às medidas de apoio. Para além
disso, a preocupação dos empresários é o pós lay-off, a 31 de dezembro
2020. Neste momento o nível de faturação e o nível de movimento que
se constata no Nordeste, e julgo que também nos Açores, é como se fosse
um período de inverno numa situação normal. E a previsão é que quando se
chegar mesmo ao inverno a situação se agrave ainda mais porque se se
mantiver com o nível de evolução lenta que se está a registar agora, até
ao próximo verão era possível manter os postos de trabalho e
salvaguardar as micro e pequenas empresas.
Uma possível segunda vaga da pandemia é de facto uma grande preocupação?
Uma
das minhas maiores preocupações é se acontecer uma segunda vaga, não só
por causa da saúde pública mas também pelo comércio frágil que temos
que não sei se aguentará um novo fecho.