Açoriano Oriental
Miguel Sousa Tavares lançou "Rio das Flores"
A história de uma família latifundiária alentejana ao longo de 30 anos, com o Alentejo, Espanha e Brasil como cenário, é contada por Miguel Sousa Tavares em “Rio das Flores”, o seu segundo romance, lançado quinta-feira à noite em Lisboa.

Autor: Lusa/AO
“Este livro, devo-o em grande parte aos amigos, em grandessíssima parte, aos leitores”, declarou o autor, perante uma sala cheia do Hotel Pestana Palace, local escolhido para apresentar o livro, em simultâneo com a inauguração de uma exposição de pintura sobre flores de uma amiga, Maria Ribeiro Telles.

    “Se aqui estou hoje é porque eles me empurraram para aqui estar (…) Eu viveria perfeitamente bem até ao final dos meus dias com o estatuto de escritor de um só romance (“Equador”, editado em 2003) - outros bem maiores do que eu fizeram-no”, sustentou Miguel Sousa Tavares.

    O seu primeiro romance foi resultado, explicou, “de um desafio e de um desejo muito antigo: durante mais de 20 anos sonhei tentar um dia escrever um romance de que eu próprio gostasse”.

    Depois de escrito e publicado, não o preocupou - sublinhou - “se [aquele livro] era o princípio de uma carreira”.

    “O que fiz a seguir foi pirar-me para caçar patos na Argentina”, comentou Sousa Tavares, um confesso amante da caça.

    Após muita insistência de amigos e leitores, dedicou-se à escrita do segundo romance, por considerar que “não era mais do que um serviço público, um serviço prestado aos outros”, embora pudesse ser classificado como mais “um livro de aeroporto, como alguém disse em tom depreciativo”.

    “Este livro é o resultado de três anos de trabalho e de vida suspensa nesta empreitada”, frisou.

    “Três anos muito duros”, em que passou mais de um ano a documentar-se sobre factos históricos daquelas três décadas do século XX, entre 1915 e 1945, e um ano fechado em casa a escrever, sem viajar, outra das suas paixões.

    Apresentou “O Rio das Flores” o poeta e tradutor Vasco Graça Moura, a quem Miguel Sousa Tavares agradeceu por ajudá-lo a compreender melhor a sua própria escrita e que classificou como “o autor moral do livro”.

    Graça Moura sustentou que a obra “tem reais qualidades intrínsecas” que dispensariam, talvez, a enorme campanha de comercialização montada para a promover.

    Fez, em seguida, uma análise bastante pormenorizada do romance, destacando aspectos como a densidade psicológica das personagens e a densidade da memória, “não só da memória histórica mas da memória familiar (…) que é também uma espécie de personagem tentacular”.

    Discordou, porém, da definição da obra como um romance histórico, feita por Sousa Tavares numa nota incluída no final do volume de mais de 600 páginas, editado pela Oficina do Livro.

    “O facto de haver um fundo histórico muito bem documentado não chega para ser considerado um romance histórico (…), no sentido que tradicionalmente atribuímos à expressão, que vem do romantismo”, defendeu.

    “Nesse sentido, todos os romances cuja acção decorre numa determinada época histórica seriam romances históricos”, insistiu, acrescentando, contudo, tratar-se de “uma divergência conceptual de muito pouca importância para o livro”.

    No plano estilístico, afirmou o poeta, “creio não errar ao falar de romance realista”.

    Como influências, Graça Moura enumerou uma longa lista de escritores, considerando a sua prosa “aparentada com algum Camilo, Eça, Fialho, Conde de Ficalho, Brito Camacho, Raul Brandão, Nemésio e Miguel Torga”.

    “Este é um livro com muita força, que se lê com a avidez e o prazer do leitor que quer saber como é que tudo aquilo acaba e o pode conseguir através de páginas muito bem escritas sobre algumas vidas que se desenvolveram num tempo trágico ainda próximo de nós mas felizmente cada vez mais distante do nosso próprio tempo”, rematou.
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