Autor: Rui Jorge Cabral
As matrículas pretas com os caracteres brancos em relevo
foram criadas em 1937 - há 85 anos - e foram a imagem de marca dos
automóveis vendidos em Portugal até 1992, ano em que se esgotaram as
combinações possíveis, com a matrícula ZZ-99-99.
A partir dessa
altura, as chapas de matrícula assumiram o aspeto atual, com o fundo
branco, caracteres pretos e barra azul. Mas ainda hoje, para os mais
velhos e também para muitas pessoas das novas gerações, as velhas
matrículas pretas com os caracteres em relevo ainda são as mais bonitas.
Atualmente, é legal a sua utilização para automóveis matriculados até 1991 e a procura das matrículas pretas, depois de quase ter desaparecido, ressurgiu nos últimos anos.
Mário Raposo é atualmente o
último dos resistentes a produzir as velhas matrículas pretas em São
Miguel. Com 67 anos, Mário Raposo cresceu nos Arrifes e vive em Ponta
Delgada. Durante a sua vida profissional, esteve sempre ligado ao setor
automóvel, tendo sido bate-chapas por conta de outrem e por conta
própria e vendedor de automóveis, ao mesmo tempo que se iniciou na
produção de matrículas pretas, quando geria uma loja de venda de peças e
tintas para automóvel.
Por exemplo, na década de 1980, era Mário
Raposo que fazia as matrículas para os Toyota vendidos em São Miguel. A
produção nesse tempo era em série. “Cada matrícula custava naquele tempo
300 escudos o par - para a frente e traseira do carro - e eu chegava a
faturar 200 contos por mês em matrículas”, recorda Mário Raposo.
Atualmente, Mário Raposo ainda trabalha, colaborando com uma imobiliária.
As
chapas de plástico preto e as letras e números em plástico branco em
relevo, Mário Raposo manda-as vir do continente e tem no
escritório/oficina improvisada da sua casa um pequeno stock de material
para produzir as matrículas pretas.
Os furos para encaixar os
caracteres são feitos com o recurso a um berbequim, nas marcações
definidas a partir de umas chapas-molde específicas para a marcação
destas matrículas. As letras são encaixadas nos furos e fixadas através
da prensagem com ferro quente, uma técnica que Mário Raposo prefere à
do aparafusamento.
Hoje, um par de matrículas pretas custa 35 euros e
a produção anual é reduzida, mas tem renascido “porque agora há muita
gente a querer recuperar carros antigos e querem as matrículas pretas”,
conclui Mário Raposo.
Noivos quiseram matrículas com os seus nomes
Trabalhando
hoje para um grupo restrito de pessoas com carros clássicos, Mário
Raposo não deixa ainda assim de ter algumas encomendas originais. Por
exemplo, uma vez, recebeu uma encomenda específica para um casamento de
duas matrículas pretas com os nomes do noivo e da noiva.
E embora as matrículas pretas sejam regulamentares apenas para os automóveis matriculados até 1991, também houve quem as encomendasse, por mero gosto pessoal, para carros mais recentes.