Açoriano Oriental
Maior acidente aéreo da açoriana SATA ainda marca concelho das Velas
O maior acidente aéreo da transportadora SATA, que causou a morte a 35 pessoas em 1999, marca até hoje a vida do concelho de Velas, na ilha de São Jorge.
Maior acidente aéreo da açoriana SATA ainda marca concelho das Velas

Autor: Lusa/AO Online

A 11 de dezembro de 1999, o ATP Graciosa da SATA, que ligava Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, às Flores, no grupo oriental do arquipélago, embateu contra o Pico da Esperança, nas Velas, não tendo sobrevivido qualquer passageiro ou tripulante.

O porta-voz da SATA, António Portugal, lembra à Lusa que viveu este acidente numa “dupla perspetiva”, uma vez que era então chefe de escala no aeroporto de Ponta Delgada, de onde partiu o avião, onde seguia um seu irmão, que era chefe de cabine do voo.

“Foi num sábado. Fui chamado ao aeroporto para executar todas as medidas que fossem necessárias. Numa situação dessas, tive de separar a parte emocional da profissional”, diz António Portugal.

O porta-voz da empresa adianta que, então, foi colocado em prática um plano de emergência. Só mais tarde se deslocou a São Jorge como familiar de uma das 35 vítimas.

“Foi um momento marcante para mim e para a SATA, e que nos fez sentir que os acidentes aéreos também nos podem acontecer”, acrescenta António Portugal.

Rui Bettencourt, atualmente comandante dos bombeiros da Calheta, o outro concelho da ilha de São Jorge, tinha apenas 20 anos quando foi chamado, já na qualidade de operacional, ao local do acidente.

O bombeiro afirma que na ilha o acidente ainda está “bem presente” e que “marcou” a vida do concelho das Velas, salvaguardando que “nunca ninguém tinha imaginado um cenário dantesco daqueles”.

“Ficámos todos, do maior ao menor graduado, sem saber o que fazer. O que dificultou muito a operação de resgate dos corpos foi a sua localização, a par das más condições climatéricas e, claro, toda aquela envolvência para a qual não estávamos preparados psicologicamente, nem tínhamos recebido formação”, refere.

Rui Bettencourt sublinha que “toda a gente sofreu após o acidente”, devido ao seu impacto psicológico, havendo mesmo algumas pessoas que sentiram necessidade de “procurar ajuda” profissional.

O jornalista Vítor Alves, da RTP/Açores, que foi o primeiro profissional a chegar ao local do acidente, com um operador de câmara, recorda que “chovia imenso e o vento soprava a mais de 100 quilómetros por hora”, encontrando-se o avião numa ravina, no interior de um monte, no Pico da Esperança.

“Para subir o monte (Monte Pelado) não conseguíamos andar de pé. Fomos a gatinhar até à sua vertente contrária, onde havia a ravina e se tinha avistado o avião, por indicação de um pastor”, diz o atual subdiretor da RTP/Açores.

O jornalista adianta que na descida com o operador de câmara começaram por encontrar primeiro papéis, depois roupas, metal, o motor do avião, corpos e, finalmente, o resto da fuselagem num cenário que classifica de “indescritível” e onde andou a trabalhar 48 horas até à exaustão.

De acordo com o relatório da comissão de inquérito, o avião, que deveria fazer uma escala na Horta, no Faial, efetuou um desvio até cruzar a costa norte da ilha vizinha de São Jorge, embatendo no Pico da Esperança.

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